Fotografia: Fábio Caeiro | Texto: Salomé Rita
«As expectativas para esta noite são altas», foi assim que Florence Benguigui abriu o último concerto que deu com a banda L’Impératrice em Portugal. Para estes franceses, que dizem ter dado o melhor espectáculo da sua carreira em Paredes de Coura há dois anos, as expectativas são sempre altas. Regressam, desta vez a Lisboa, para voltar a superá-las. Mas com novidades: há uma nova imperatriz.
Aqueles que tiveram a oportunidade de assistir aos últimos concertos da banda aguardavam o retorno, sem dúvida, expectantes. Depois de Florence Benguigui ter anunciado nas redes sociais o fim da sua colaboração, mesmo antes do início da tour internacional do álbum Pulsar, não só por motivos de exaustão física e mental como também de divergências artísticas, o público português sabia que esta noite não ia ser igual à primeira. No LAV, a 2 de novembro de 2024, estreou-se em salas portuguesas a nova vocalista do grupo, Louve.
Ao fim de dez minutos de espera, se não contarmos com os meses desde o anúncio do espetáculo, entram em palco Achille Trocellier, Roman (sim, também houve uma estreia no baixo) e Hagni Gwon. O letreiro com o nome da banda ilumina-se, ouvem-se as primeiras notas. Ainda nada da nova estrela. De seguida vem Tom Daveau, de baquetas no ar pede mais aplausos a uma assistência que parece ter ficado hesitante. E só então entra Louve para nos presentear com uma voz demasiado familiar. Mas o público ainda não está convencido. Recebida, mesmo assim, entre palmas e gritos calorosos, tem até ao final de “Amour Ex Machina” para nos convencer que a nossa primeira experiência com a banda não vai ficar a pesar sobre o resto do concerto.
As luzes, ora vermelhas ora brancas, umas vezes apontadas para o público, outras apontadas para a banda, delirantes e apropriadas a este espetáculo muito disco, trazem à performance e à cantora a abertura de que precisa. Louve prossegue na dança e no canto com a mesma confiança. A pouco e pouco, a plateia começa a dar os primeiros passos. Quando volta ao refrão, faz-se muito barulho deste lado. Estamos convencidos, Louve, abriste a pista de dança. Agora é só continuar com a mesma animação.
É no estar em palco que a nova voz e cara marca a diferença: igualmente animada, traz uma doçura diferente. Florence era mais destemida. Mas não nos alonguemos com comparações sobre a mudança do único membro feminino da banda, há uma forte possibilidade de se cair em considerações machistas. Aquilo que importa é: ambas as posturas são válidas, principalmente porque, a par de darem duas óptimas prestações, a única coisa que querem, transparece para o público, é have some fun.
«Are you ready, Lisbon? To sing, to dance, to party?», pergunta Louve. E como estávamos prontos. Feitas as apresentações, era seguir tentando não pensar mais no passado. As transições ajudaram. Com óptimas passagens entre as músicas mais antigas da banda e as que constam em Pulsar, foi feita justiça à tour do novo álbum.
A chegar ao primeiro terço do espetáculo, a banda lançou “Girl” e o público respondeu com os mais altos aplausos ouvidos até ali. Serviu de aquecimento para uma melodia mais antiga, “Vacances”, que terminou com o mesmo entusiasmo. Entramos na música mais italiana destes franceses, “Danza Marilù”, já bastante suados. Não dançou Marilù, dançou Lisboa. E, depois, acalmou-se com “Matahari”. “This is the last dance and the last chance for you to feel the rhythm”, cantou Louve. Não podia ser a última e com “Voodoo” recuperou-se a energia. Daí, até ao final, a plateia não voltou a morrer.
Apesar do sucesso das novas músicas, foi preciso voltar a TakoTsubo para despertar a audiência. Algo que também aconteceu no concerto deste ano no festival Paredes de Coura. «Divergências artísticas», explicou Florence no Instagram quando avisou os fãs da saída do grupo. Quanto do novo álbum teve ou não aquilo que ela visionava para a banda? De qualquer das formas, está inaugurado um novo império e agora é esperar por novidades.
L’Imperatrice, continuaremos sem vos resistir. Continuaremos incapazes de ficar no lugar quando ouvimos as batidas de Tom Daveau, as cordas de Achille Troullier, as teclas de Hagni Gwon ou a voz de Louve. Ao ar livre no mais mágico recinto do país ou a portas fechadas num barracão de uma grande cidade: não vamos parar de dançar. Mas nunca esqueceremos Coura 2022.
A primeira parte do concerto esteve a cargo da dupla portuguesa Best Youth, com fotogaleria disponível também em baixo.