All Them Witches no Hard Club. Casa cheia em noite de bruxas

Texto: Bruno Correia

24 de Junho começa sempre mais tarde e devagar que o habitual na cidade invicta. A noite anterior, a mais longa do ano no Porto, é de festa e, este ano, é num equilíbrio entre a recuperação dela e a antecipação da noite seguinte, que tem o Hard Club como ponto de encontro, que se vive o feriado municipal. Se do corpo conseguimos tratar nós, com uma sempre reconfortante francesinha a ajudar a apagar os excessos de algumas horas antes, a alma deixamos para que os All Them Witches tratem pouco depois, com o antecipado regresso a Portugal na forma de dois concertos – os primeiros em nome próprio depois de uma passagem pelo SonicBlast em 2016 e a acompanhar os suecos Ghost em 2019 – que geraram grandes níveis de antecipação.

À descida até junto ao rio começava-se a sentir o nevoeiro que se punha sobre a cidade e que ajudava a criar uma mítica extra. Sobem-se os degraus para a entrada e é desde logo notório que a previsão é de casa cheia para ver a banda norte-americana. A fila para entrar na sala maior dá a volta ao átrio mas não tarda a andar e todos se começam a preparar para receber os portugueses Jesus The Snake, a primeira atuação da noite.

Também eles destacados com a tarefa de abrir o concerto da noite anterior em Lisboa, voltavam a entrar em palco – agora mais perto de casa – para uma Sala 1 já muito bem preenchida e que os recebeu de braços abertos. Tendo até entrado dez minutos antes do previsto, tiveram direito a uns pouco habituais e arrebatadores 50 minutos para celebrar o regresso à actividade. Com os vários momentos de calma a acabar numa inevitável e deliciosa explosão psicadélica, o concerto pareceu passar a correr e encheu por completo as medidas. «Estamos de volta!», disseram já perto do fim, com promessa de álbum novo para o ano, que aguardamos com grande antecipação.

Recuamos um par de meses e lembramo-nos de um pânico geral online aquando da inesperada saída de Robby Staebler, baterista e membro original dos All Them Witches, anunciada pelo próprio antes mesmo de qualquer informação ter sido partilhada pelos restantes membros. Iria a tour, já na altura anunciada, acontecer? A resposta acabou por ser rápida e, com Christian Powers agora como dono da bateria, tudo seguiu como previsto e ei-los, agora, finalmente, em frente a um Hard Club cheio para os ver.

Nothing as the Ideal, de 2020, já não é um álbum novo, mas ainda não tinha sido apresentado em Portugal e foi dele que saiu a primeira de um set de hora e meia que permitiu visitar a discografia completa da banda do Tennessee, apenas com exceção para o álbum de estreia. Lightning at the Door (2013) terá sempre o inevitável destaque e “When God Comes Back” sucedeu a “See You Next Fall”, a segunda da noite, à qual o público se juntou a cantar.

Voltámos a 2020 com “Enemy of My Enemy” antes de uma chuva de aplausos para um dos previsíveis pontos altos da noite: “The Marriage of Coyote Woman”. Estávamos conquistados e assim continuámos com “Diamond” e “Charles William”, que se seguiram e funcionaram como que uma demonstração enorme de qualidade de uma banda que se pode dar ao luxo de ter estes três truques de magia um atrás do outro no alinhamento. Do lado de cá, rendidos, só nos restava deixarmo-nos ir pela viagem e aproveitar a presença destes rapazes que gostávamos de ver mais vezes pelo nosso país.

Com relativamente poucas paragens ao longo do concerto, Charles Michael Parks Jr. apresentou a banda antes de uma recta final que acabou por parecer uma jam de 20 ou 30 minutos de que era impossível descolar. Saíram do palco e voltaram pouco depois para terminar com “Bulls”, após a qual voltaram a agradecer e se despediram de vez.