J Balvin no Passeio Marítimo de Algés. O reggaeton ainda não está morto

Texto: Rute Pascoal

A agenda de espetáculos de Junho foi inaugurada no Passeio Marítimo de Algés com a contagiante “Que Bueno Volver a Verte Tour”. Esta trouxe J Balvin de volta a Portugal depois da sua passagem pelo MEO Marés Vivas do ano passado, numa noite marcada pela onda de energia e ritmo pela qual o astro colombiano é conhecido.

A primeira parte do espetáculo ficou a cargo da jovem cantora Judeline que, depois da sua estreia nacional no passado dia 12 de abril num Musicbox esgotado, regressou à capital com a responsabilidade acrescida de ser a convidada especial de um dos mais bem sucedidos cantores de reggaeton dos últimos anos.

Com o público ainda a meio gás e num recinto que foi, quiçá, demasiado ambicioso para esta tour, Judeline foi tentado arrancar timidamente alguns passos de dança aos presentes. Entre temas originais que desafiam as barreiras da música ao fundir sonoridades como flamenco, R&B e reggaeton, ou mesmo covers como foi o caso de “La Tortura” de Shakira, a cantora andaluza acabou por ficar um pouco perdida no enorme palco, não conseguindo criar a mesma conexão com o público que havia conseguido no Musicbox. Foi já na recta final que, a pedido da própria para «perrear el culo», se sentiu finalmente algum entusiasmo entre o público e as ancas se soltaram ao som dos temas também mais dançáveis “2+1” e “CANIJO”.

Apesar da tarefa ingrata de tentar chegar a uma audiência que estava ali claramente para ver J Balvin, a cantora de apenas 21 anos tem já um futuro promissor pela frente, uma vez que ouvir o seu nome é sinónimo de ouvir uma corrente de elogios. Aguardamos agora ansiosamente o seu primeiro álbum uma vez que a artista assinou recentemente com a Interscope Records, editora de artistas como Lana Del Rey, Billie Eilish e Kendrick Lamar.

Com o sol a descer no horizonte, criou-se o pano de fundo perfeito para a entrada de J Balvin ao som de “Mi Gente”, um dos seus maiores êxitos, culminando numa explosão de gritos e aplausos do público. O restante repertório da noite foi uma viagem pelos maiores sucessos da sua carreira, incluindo “Ginza”, “Safari” e “Reggaeton”: cada música era recebida com um entusiasmo frenético e uma multidão a cantar em uníssono todas as letras.

A setlist composta por quase 30 músicas acabou por passar a voar, uma vez que muitas delas não se chegaram a ouvir na íntegra por serem em conjunto com outros artistas, tendo sido passadas quase em modo medley, como foram os casos de “Downtown” (com Anitta), “Con Altura” (com Rosalía) ou “X” (com Nicky Jam). No entanto as passagens foram bastante fluídas e o músico de Medellín destacou a sua versatilidade e o seu talento como performer, com direito ainda a alguns passos de dança que enlouqueceram o público feminino.

J Balvin demonstrou-se grato por estar de volta a Portugal e destacou o apoio contínuo e a energia dos seus fãs, no entanto e, apesar da subida de energia no público, o ambiente ficou um pouco aquém de outros concertos da mesma digressão que esgotou salas um pouco por toda a Europa. A verdade é que o músico não é propriamente uma novidade no nosso país e a escolha do recinto pode ter ajudado a dissipar um pouco dessa euforia vivida noutros espaços.

Um dos momentos mais marcantes da noite foi a interpretação de “La Canción”, êxito que partilha com Bad Bunny, onde o colombiano pediu aos fãs para ligarem as luzes dos telemóveis, criando assim uma atmosfera mágica e emocional que contrastou com o tom de até então, mais animado e frenético, e marcado pelos ambiciosos e coloridos efeitos visuais que em cada música criavam cenários literalmente de outros mundos, imagem de marca essa que o cantor nos habituou nos últimos anos.

O concerto culminou com um encore explosivo e em crescendo ao som de “Ritmo”, “Qué Calor” e “In da Getto”, num palco agora completamente dominado por aliens dançarinos, vestidos com t-shirts com a mensagem “Rave On!”. Foi mais uma tour que serviu para reafirmar a sua habilidade incomparável de envolver e energizar o seu público, transcender fronteiras culturais e linguísticas, e criar momentos de pura alegria e exaltação, o que mostra porque é que J Balvin se mantém um fenómeno cultural que continua a redefinir o reggaeton e a música pop a nível global.

Nota: A fotografia utilizada para ilustrar a reportagem não é referente ao concerto realizado em Algés.