Texto: V. Oliveira
Todos sabemos que sexta-feira é o dia-rei do final da eterna semana de trabalho. E haverá melhor maneira para celebrar do que com música? Se todas as ocasiões se acompanham melhor com a música certa, esta sexta-feira com Rapaz Ego teve de tudo um pouco: rock, salero, e felicidade pura. Há vários anos ponto de referência na cena musical lisboeta, foi de um público jovem e versátil que se encheu o Musicbox: a atmosfera vibrante e alegre antecipava desde cedo algo de muito auspicioso para esta noite primaveril, e isso confirmou-se com a chegada a palco de Rapaz Ego.
Na hora de fazer as contas, é certo e sabido que Luís Montenegro não actua sozinho, e é em palco que fica latente o companheirismo e amizade que o acompanham. Em cima do palco, a sua banda contava com sete músicos em estilo marcadamente mexicano, aludindo à primeira parte do concerto e ao título do EP Rapaz Ego Canta Durante La Siesta.
A primeira parte do concerto contou com o EP em espanhol, e que dava mote e título à noite do Musicbox em Lisboa. Os singles “Tan Suave” e “Corazón Vacío” fizeram as delícias do público e proporcionaram momentos de dança, numa espécie de nostalgia celebratória da música e da vida. Foi com este primeiro acto que cedo nos apercebemos da forma como a banda era capaz de mesclar o estilo mexicano com um groove rock contagiante, girando a musicalidade de Rapaz Ego entre esta duplicidade de ritmos e influências. Destacamos ainda os primeiros acordes de “Alma Limpia” e o virtuosismo técnico de todos os músicos, com especial destaque para Luís Montenegro que foi sempre capaz de tratar por tu as guitarras que o acompanhavam de perto.
A segunda parte mergulhou no álbum Vida Dupla, levando o público em uma viagem por baladas emocionantes e hinos de sonoridade mais rock e alternativa. A intensidade emocional atingiu o ápice com a hipnotizante “Antero”, num momento que considerámos o mais exuberante da noite. Cantou-se em uníssono as músicas “Grão Mestre” e “Quero Tanto”, sem dúvida alguma duas das favoritas do público: «Se nunca deu jeito, porque é que eu quero tanto?», foi das frases que público mais entoou de forma categórica.
Ao mote de um encore, e em despedida ensaiada, houve ainda direito a mais dois singles do álbum nascido em plena pandemia. Com a banda reunida em palco, ascendemos à recta final do concerto ao som de “Vida Dupla”, single que dá nome ao álbum e que ilustra as diversas facetas dos músicos que o compõem. “Crime em Tânger” foi um dos pontos adornados da noite, num claro display de improvisação e criatividade desmedida de todos os membros da banda, deixando sempre a sensação orgânica de que ali se debruçaram de forma instintiva e orgânica, sem moldes e sem restrições ensaiadas.
A noite de sexta-feira ficou então marcada pela setlist diversificada a que assistimos durante o concerto de Rapaz Ego, numa noite que cimentou o legado da banda no actual panorama musical português. A banda deixou-nos ainda em palco a distinta impressão de quererem fazer mais num futuro bem próximo. Rapaz Ego ergue-se como um conjunto carismático e talentoso, dando passos férteis em direcção a um futuro auspicioso. A nós, resta-nos aguardar por mais.