Fotografia: Nuno Bernardo
O Barreiro voltou a ser epicentro, pela 19ª vez, do tremor da dita música exploratória. A cidade da Margem Sul acolheu mais de três dezenas de actuações entre 4 e 7 de Outubro, mas estivemos presentes para ilustrar apenas os acontecimentos dos primeiros três dias de OUT.FEST.
O concerto de abertura decorreu na PADA Studios, no centro pós-industrial barreirense, com a peça Beams, a comando de Alvin Curran que agrupou mais de vinte intérpretes, maioritariamente oriundos de escolas de música locais. Entre sopros deambulantes e samples imprevisíveis, o espaço do público acabou por servir de palco em determinadas partes do alinhamento, construindo-se uma dimensão de envolvência entre a obra e a participação local. Já no A4, edifício que tem dado espaço a DJ sets fora de horas em edições passadas do OUT.FEST, Rojin Sharafi mapeou texturas orgânicas que rasgaram preconceitos de ritmo e da música electro-acústica. A música acabou por seguir mais noite adentro com o set de Novo Major.
&nsbp;No dia seguinte o OUT.FEST arrancou logo no período da tarde, aproveitando-se assim a disponibilidade do feriado de 5 de Outubro. A Igreja de Nª Srª do Rosário viu o seu órgão tricentenário às mãos do barreirense Tiago Sousa, enquanto a Gasoline, armazém localizado a cinco minutos de distância, também abriu portas para a música portuguesa, com a dupla Leonor Arnaut & Ricardo Martins. De regresso à Igreja, as small pipes de Brìghde Chaimbeul evocaram a mística das terras altas da Escócia, ao mesmo tempo que ΔIII / XIII, projecto que une Estranhas Entranhas e Cavernancia, deu o primeiro concerto, na Gasoline. Esse histórico espaço, antigo El Matador e Espaço B, recebeu ainda os beats de NZE NZE até à hora de jantar.
A noite centrou as atenções na SIRB “Os Penicheiros”, outro espaço icónico da noite e da cultura da cidade. Sven-Åke Johansson & Jan Jelinek promoveram a união de linguagens do jazz livre e dos escapes da electrónica, enquanto Nok Cultural Ensemble, com Edward Wakili-Hick ao comando na bateria, fluiu por múltiplas tradições rítmicas entre o afro-futurismo e os polos musicais caribenhos.
Novamente a dar o pontapé de saída no período da tarde e num local de oração, o 6 de Outubro arrancou na Igreja de Santa Cruz, um espaço estreante no OUT.FEST, para os loops vocais feéricos de Maria Rossi, artista mais reconhecida pelo nome Cucina Povera. Para iniciar maratona nocturna na ADAO, sala já obrigatória na rota tradicional do festival, houve rock bastardo e ruído livre com Farpas e batidas dançantes e sintetizadores modulares cósmicos de Afrorack.
A requisitar uma plateia sentada, o trio esloveno Širom desfilou em palco a diversa instrumentação que os caracteriza, muitas vezes de criação própria: ocarina, banjo, viola ou balafon, até peças sem nome, para criar um ritual hipnótico e folk. No lado oposto da ADAO, na denominada sala das colunas, a mexicana J. Zunz propôs a dança desenfreada suportada por sintetizadores abrasivos. Novamente na sala da garagem do antigo quartel dos bombeiros, Horse Lords lideraram uma apoteose de rock expansivo e visceral, a desafiar o kraut, opondo-se à festa alicerçada em cognac do footwork e da electrónica de Detroit representada por HiTech. A movimentação seguiu noite dentro com as selecções de DJ Lynce.
O OUT.FEST seguiu para o seu quarto dia a 7 de Outubro, com a corrida de sala em sala no período da tarde que este ano envolveu a Biblioteca Municipal, a Sala 6, o Teatro Municipal e o Largo do Mercado 1º de Maio, destacando concertos como Raja Kirik, Dali Muru & The Polyphonic Swarm, XEXA, Carlos “Zíngaro” ou Voice Actor, entre outros.
Já à noite, regressou-se à ADAO com uma diversidade musical que foi tanto do black metal de Liturgy como hiphop noise de LustSickPuppy, passando pelo tribalismo de Holy Tongue ou pela ambiência drone de Rita Silva, por exemplo.