O OUT.FEST arranca esta semana para a sua 19ª edição. O festival que propõe à descoberta musical no Barreiro, cidade ao largo do Tejo com vista privilegiada para Lisboa, decorre em vários espaços de 4 a 7 de Outubro.
Aliada à descoberta das novas músicas, o OUT.FEST foi e tem sido ponto de passagem de figuras pioneiras e com estatuto lendário. Foi no Barreiro que vimos o último concerto de Mark E. Smith e os seus The Fall em Portugal, mas também palco para Jaki Liebezeit e Peter Brötzmann antes de nos deixarem. O OUT.FEST não se foca, no entanto, no mercado da nostalgia, nas palavras do organizador Rui Pedro Dâmaso: «Daqui a uns anos as lendas podem ser as coisas com as quais já crescemos. O importante é perceber que há músicos pioneiros, começaram muito antes de nós aqui andarmos e que ainda têm coisas relevantes para nos dizer e não é só pelos méritos passados», contou-nos numa curta entrevista quando questionado sobre a importância do festival ser palco de músicos históricos.
A um ano de celebrar as vinte edições, o OUT.FEST aposta num cartaz rico e diverso. Em destaque estão nomes como Alvin Curran, co-fundador de Musica Elettronica Viva que fará o concerto de abertura com a obra Beams numa produção alargada com mais de vinte músicos locais; o mais recente projecto da percussionista Valentina Magaletti, Holy Tongue; a black metal transcendental de Liturgy; a folk psicadélica de Širom; a união de dois músicos importantes da leitura europeia do free jazz e da electrónica de Sven-Åke Johannson & Jan Jelinek; a música celta experimental de scottish smallpipes de Brìghde Chaimbeul; a electrónica ritualista de J. Zunz; o existencialismo queer e punk de LustSickPuppy; as composições electro-acústicas de Rojin Sharafi; o pianista Tiago Sousa pela primeira vez ao leme do órgão tricentenário da Igreja de Nª Srª do Rosário; ou a a estreia absoluta de ΔIII / XIII, projecto que une o noise rock de Estranhas Entranhas ao drone de Cavernancia, entre mais de trinta concertos.
Ainda que carregue a definição de festival de música exploratória, o OUT.FEST assume todas as formas de música em busca de uma linguagem própria e o auto-conhecimento e sentido de descoberta faz parte da sua identidade. «O [termo] exploratório surgiu para tentar encontrar uma designação que não implicasse nenhuma gaveta em particular», contou-nos Rui, assumindo que gostaria que fosse apenas um «festival de música», ainda que muitas vezes possa ser importante ter uma designação para dar uma noção a novos curiosos de que existe algo de diferente na abordagem musical da programação do festival. Nesse aspecto este ano estende-se aos campos da electrónica, do jazz, do black metal, do hip-hop, do ambient ou da folk, entre tantos outros cujos limites vão além da definição possível.
O OUT.FEST continua a percorrer vários espaços da cidade, este ano acontecendo em onze locais diferentes, mas essa aposta está em linha com a constante mudança do Barreiro. «Uma cidade é um organismo vivo e o festival também tem de ser, tem que lidar com as portas que forem abertas e com as que forem fechadas», havendo o desejo de continuar a procurar novos sítios, propondo-se o sentido de descoberta não só à música mas também à própria cidade nas palavras da organização: «É evidente que ainda há espaços [por realizar] e de certeza que há outros que nós ainda não conhecemos e vão fazer parte do OUT.FEST.»
Nesta 19ª edição, são vários os concertos de entrada gratuita: dia 4 nos PADA Studios e no A4, dia 5 à tarde na Gasoline e na Igreja de Nª Srª do Rosário, dia 6 à tarde na Igreja de Stª Cruz e dia 7 à tarde no Largo do Mercado 1º de Maio. Sobre o intuito de aproximar a cidade e o público local do festival, Rui Pedro Dâmaso assumiu que o «propósito é ser um festival de portas abertas e não criar barreiras à descoberta se alguém tiver essa vontade de descobrir». O palco no Largo do Mercado, por exemplo, é visto como um ponto de aglomeração de pessoas após a maratona de concertos em salas diferentes no sábado à tarde, mas também que «a ideia é pelo menos permitir aos curiosos, ainda que meio cépticos, ter uma oportunidade de poderem ter algum contacto com músicas que nós propomos sem sentirem a pressão de investir».
Os já mencionados concertos de Alvin Curran, Brìghde Chaimbeul, Rojin Sharafi, Tiago Sousa e ΔIII / XIII são de entrada livre, mas sem bilhete será também possível ver Cucina Povera, Leonor Arnaut & Ricardo Martins, Novo Major, Nze Nze e Raja Kirik. As atenções de sexta e sábado à noite centram-se, no entanto, na ADAO. Será nesta associação, antigo quartel do bombeiros transformado em hub criativo, que vão actuar Afrorack, Ben Yosei (que substitui Dawuna após cancelamento), DJ Lynce, Farpas, HiTech, Horse Lords, Rita Silva ou Scotch Rolex & Shackleton, para além dos já referidos Holy Tongue, J. Zunz, Liturgy, LustSickPuppy e Širom. O programa completo do OUT.FEST pode ser consultado no site oficial ou na nossa página estática.
Os passes globais com acesso a todos os concertos do OUT.FEST já se encontram esgotados, assim como o bilhete para todo o dia 7 de Outubro. Restam apenas bilhetes que garantem entrada na noite de dia 7, não sendo possível com esse bilhete ver os concertos de sala durante o sábado à tarde. Para quinta dia 5 e sexta dia 6 ainda há bilhetes à venda. Os bilhetes podem ser adquiridos via BOL e locais habituais associados.
Entrevista: Gonçalo Cardoso & Nuno Bernardo