Texto e Fotografia: Fábio Caeiro
No passado domingo, 2 de Julho, foi dia de Portugal receber a dupla britânica de rock pela quinta vez. Sendo que os Royal Blood cá estiveram faz esta semana 1 ano, no NOS Alive, e tendo apenas lançado um single desde então, será que este concerto não é apenas um déjà vu? Mas já lá vamos.
Um pouco antes das 20 horas notava-se que o Sagres Campo Pequeno ainda estava a meio-gás, com espectadores a irem chegando a conta gotas. Tal acontecia provavelmente devido à hora precoce para a qual o concerto estava marcado. Apesar disso, a escolha do horário foi uma decisão compreensível estando uma semana de trabalho à porta.
Foi com uma plateia ainda um pouco dispersa (para quê começar a sofrer já com o calor?) que à hora certa começou o concerto da banda de abertura. Tarefa encarregue a Conferência Inferno, trio da cidade invicta. A banda passou por temas do EP Bazar Esotérico, lançado em 2019, e do primeiro longa-duração, Ata Saturna, que saiu dois anos mais tarde.
Apesar de um concerto bastante competente, destacando-se a presença do vocalista Francisco Lima, o público não pareceu muito surpreendido. Afinal de contas, quem comprou bilhete para ouvir um baixo sujo e bateria encontrou-se perante uma banda com teclas e sintetizador que se inspira em vários estilos, sendo possível identificar notas de electrónica, disco e industrial tudo envolvido numa certa atitude punk. Apesar de um distanciamento considerável de corpo musical entre as duas bandas, para o fim do concerto já se notava um público mais solto, a ir dançando ao som das músicas.
Ainda que não tenha sido uma junção muito bem conseguida, saúda-se o facto de se ter dado palco a uma banda portuguesa pouco ou nada mainstream e espera-se que, com este concerto a rondar os 25 minutos, tenham suscitado a curiosidade dos muitos presentes que os desconheciam.
Por fim, foi com pontualidade britânica que às 21 horas as luzes da sala finalmente se apagaram. O espectáculo pelo qual todos esperavam estava para começar, mas não sem antes se ouvir “Love To Love You Baby” de Donna Summer através dos PAs. Se a música tem apenas três minutos, foram três minutos que pareceram uma eternidade: foi possível sentir uma plateia cada vez mais irrequieta e efervescente até que chegou o derradeiro momento. Foi com as luzes num efeito estroboscópico e uma parede de som criada pelo baixo carregado de distorção e feedback que Mike Kerr e Ben Thatcher entraram em palco.
Começamos por ouvir “Hole”, um b-side do single “Little Monster” que acabou por ficar fora do seu primeiro e homónimo álbum. Talvez por não ser tão conhecida a plateia não tenha reagido com tanto entusiasmo, mas após o aquecimento feito com esta primeira música a sala entrou em ebulição e assim permaneceu durante praticamente todo o concerto. Seguiram-se “Come On Over”, “Boilermaker” e “Lights Out”, uma música de cada álbum já lançado. Depois desta pequena mostra do catálogo da banda seguiu-se “Mountains at Midnight”, o único single já conhecido do próximo álbum, Back to the Water Below, que estará cá fora dia 8 de Setembro.
Após meia-dúzia de músicas, Mike dirigiu-se ao público dizendo que iriam «tentar tocar uma música nova» (dando ênfase ao «tentar»). Foi assim que fomos presenteados com “Pull Me Through”, uma estreia ao vivo que, com um tempo mais calmo e melodias menos agressivas, convidou a que se recuperasse o fôlego. Depois os tons da sala mudaram para rosa, azul e roxo e previu-se que o objetivo era suportar músicas do álbum de 2021, Typhoons, tendo sido elas “Trouble’s Coming” e “Typhoons”.
Ainda antes do encore foi possível ouvir, entre outras músicas, “Loose Change”, “Little Monster”, “Ten Tonne Skeleton” e “Figure It Out”, que pareceram ter sido os pontos mais altos da noite. Talvez não seja uma coincidência, visto que pertencem todas ao primeiro álbum da banda – por muitos considerado o melhor – que teve um enorme sucesso e os catapultou para a fama. No regresso ao palco, Kerr trocou o baixo pelo piano para “All We Have Is Now” e, para acabar em grande e com um regresso às origens, despediram-se do público com “Out Of The Black”, o primeiro single oficial da banda.
Respondendo à pergunta feita no início do artigo: seja pelos moshpits nas músicas mais cruas do primeiro álbum, ora seja para dar uns passos de dança ao som do mais recente, para quem realmente gosta de Royal Blood valeu a pena assistir a este concerto. Apesar da banda andar pela Europa como suporte para os Muse, felizmente arranjaram espaço na agenda para dar um concerto em nome próprio em Portugal, algo que já não acontecia há seis anos, quando apresentaram o álbum How Did We Get So Dark?. Ganhou-se, por um lado, uma setlist mais longa e por outro uma melhoria no ambiente, não só em termos de público como também no local em si (a banda claramente encaixa melhor em espaços mais pequenos e fechados).
A dupla já bem conhecida pelos fãs portugueses sabe como dar um óptimo concerto e a conexão com o público foi notável em todos os momentos, valendo a pena lembrar a química existente quando “Little Monster” se prolongou enquanto Mike Kerr repetiu o riff principal criando suspense e Ben Thatcher aproveitou para fazer uma pausa e esticar as pernas, dando uma volta pelo palco.
Se o primeiro álbum fez com que muitos se tivessem apaixonado pela banda, o facto dos lançamentos seguintes poderem ser considerados “mais do mesmo”, sem grande inovação ou inspiração, foi o que fez com que alguns perdessem o interesse. Apesar de feita a apresentação de dois singles ainda é cedo para tecer comentários acerca do álbum que aí vem. Resta-nos aguardar com expectativa e esperança.