The Black Angels no LAV. Psicadelismo em silhueta

Texto: Ana Rodrigues | Fotografia: Nuno Bernardo

Os The Black Angels voltaram em grande para um concerto no LAV, em Lisboa, para apresentar o seu mais recente álbum, Wilderness Of Mirrors. Vieram acompanhados dos britânicos Black Market Karma, que foram presenciados por um público ainda a aquecer. Um pouco tímidos, talvez pelo frio, não desapontaram com as suas melodias a puxar para o nostálgicas, mas sem deixar para trás registos de rock neo-psicadélico. Foi uma escolha decente para a primeira parte dos texanos.

 

Um painel em plano de fundo serviu para mostrar os visuais bastante psicadélicos, como manda a lei. Após um grito estridente de Alex Maas, os The Black Angels iniciaram o concerto com “You On The Run”, enquanto nos imergia numa roadtrip ‘glitchada’ por uma estrada no meio da floresta. O já composto público automaticamente respondeu com aceitação e, entre notavelmente muita cerveja e movimentos de dança, começou a viagem. A “El Jardin” foi a canção escolhida para dar início à apresentação do novo álbum, seguida por “Icon” e “History of the Future”. “Grab As Much (As You Can)”, do penúltimo Death Song, que se lia nos casacos de alguns membros da banda, agradou bastante o público, mas foi “Manipulation” que exaltou mais a plateia, com o guitarrista Christian Bland a dar especial uso à sua voz.

Sempre a saltitar de álbum em álbum, seguiram-se “Firefly”, “Without A Trace”, “A Walk On The Outside” e “The Prodigal Sun”, que voltou a fazer mexer os fãs apreciadores dos registos mais antigos. “Entrance Song”, “The River”, “Mission District” ou “Black Grease” encantaram pelas suas pesadas notas. Os extravagantes visuais com cubos de rubik alucinados e um céu com nuvens de interferência fizeram jus à onda psicadélica, muitas vezes expondo o quinteto em silhueta. Foi com “Empires Falling” que se sentiu uma energia mais explosiva, literalmente, com uma devastação a ser retratada no videoclipe da faixa.

Depois de uma curtíssima pausa, voltaram com “Wilderness Of Mirrors”, a grande “Bloodhounds On My Trail”, “Vermillion Eyes”, “Choose To Choose” e “100 Flowers of Paracusia”. Por fim, sem surpresas e com uma referência ao sucesso do jogo e da agora série The Last Of Us, terminaram com a triunfante “Young Men Dead”, que conseguiu fazer mexer de uma forma mais desarticulada o público mais sério.

Não deixamos de notar o incrível desempenho da baterista Stephanie Bailey, ao canto e atrás dos restantes membros da banda. Mesmo numa posição de palco menos favorável, destacou-se com uma energia e técnica de se lhe tirar o chapéu. O multi-instrumentista Ramiro Verdooren surpreendeu com a sua ilustre capacidade de se desenvencilhar entre o teclado, baixo, guitarra e percussão. A sinergia entre Christian Bland, Alex Maas e Jake Garcia, mais centrados no palco, acabou por ser a líder de uma orquestra de fuzz e de testemunho do rock psicadélico de Austin.

De mencionar que a subida a palco deu-se ao som de “The Last Time”, versão que a Andrew Oldham Orchestra fez dos Rolling Stones e que acabaria por dar “Bitter Sweet Symphony” aos Verve umas décadas depois. Cedo percebemos que iríamos receber uma espécie de lição de história no que ao rock diz respeito, com particular propensão para adaptar os anos 60 aos dias que correm.