OUT.FEST. A fotogaleria da 18ª edição do festival

Fotografia: Nuno Bernardo

Foi entre os dias 5 e 8 de Outubro que se realizou a 18ª edição do OUT.FEST, o Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro. De regresso ao seu formato pré-pandémico, com a circulação entre palcos e as habituais maratonas de concertos na ADAO – Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios a fechar as duas últimas noites, o festival arrancou mesmo num novo espaço.

As históricas oficinas da CP, cujos contornos estão bem vincados no centro do Barreiro e que se estendem à frente ribeirinha, receberam o Ensemble Nist-Nah do baterista e percussionista australiano Will Guthrie como único concerto do primeiro dia do OUT.FEST. No período da tarde e de lotação esgotada, os nove músicos sediados em França exploraram os ritmos em torno do gamelão e da música metálica – num sentido lato – da Indonésia. Antes disso, Rita Santos havia inaugurado a sua instalação A Segunda Natureza no antigo centro comercial Sol-Pôr, há muitos anos de portas fechadas ao público. Já após a hora de jantar, Will Guthrie protagonizou uma conversa informal na Sala 6 sobre o seu trabalho.

 

Já a 6 de Outubro, quinta-feira, a SIRB “Os Penicheiros” recebeu duas expressões distintas do jazz nova-iorquino. Nicole Mitchell, a solo com a sua flauta, explorou e aproximou de forma crua os limites do instrumento ao abstraccionismo sónico. Os Elder Ones de Amirtha Kidambi, liderando o quarteto com a sua voz e harmónio sintetizador, apresentaram-se com uma nova formação, com Alfredo Colon no saxofone, Lester St. Louis no contra-baixo e Jason Nazary na bateria. Para além da música de From Untruth, de 2019, a fusão de free jazz futurista deu-se em palco também com temas novos, filhos da pandemia e de um período de reflexão social e racial vivido nos Estados Unidos.

 

A Biblioteca Municipal do Barreiro foi o local do pontapé de saída do terceiro dia de OUT.FEST. David Toop e Amirtha Kidambi estiveram à conversa, abordando questões relacionados com a origem e o desenvolvimento de diversas formas musicais, antes do britânico assumir o palco do auditório para percorrer e musicar objectos comuns. Na ADAO, foi a colaboração inédita entre Cavernancia de Pedro Roque e a violinista Maria da Rocha a dar início, tingindo a sala das colunas, primeiro de verde pela imagem e depois de negro pela assombração neurótica do drone. Seguiu-se o rock simples e orelhudo à anos 90 de bar italia, a ode viciante de piano e bombo às mãos e pés de Eve Risser, a intensa psicose urbana de Sereias, a tese exploratória e a voz lendária de Phew e finalmente a batida feroz de STILL vocalizada em forma de grime por Ecko Bazz. Já pela noite fora, o OUT.FEST estendeu-se à Gasoline, com o after nas mãos de DJ Narciso e DJ Haram.

 

São precisos dois capítulos para detalhar q.b. o último dia do festival. Propondo uma circulação entre palcos durante a tarde, mesmo no coração e aberta à cidade, foi preciso voltar à SIRB “Os Penicheiros” para ouvir os primeiros decibéis crescentes com Poly Vuduvum. Na ponta oposta da rota Luís Fernandes abraçou a escuridão com sintetizadores modulares na Biblioteca Municipal. A meio caminho Dibuk vocalizou paisagens esvoaçantes na Sala 6 e Má Estrela, do saxofonista Pedro Alves Sousa, colocou a exuberância jazz num palco montado no Largo do Mercado 1º de Maio. Na Biblioteca novamente, Dies Lexic de Inês Tartaruga Água e Xavier Paes mostraram de que cordas é feita a música de Lexicon Hall, enquanto n’Os Penicheiros Usof desenhou a planta musical do ambient. Ece Canlı voltou a encher a Sala 6, novamente com foco na voz e as entrelinhas que esta permite aos sons da fauna e da flora, cabendo a Claire Rousay destilar e transmutar field recordings no regresso ao auditório da biblioteca. George Silver & Gold permitiu ao percussionista André Neves (o próprio George Silver) apresentar-se em formato banda no referido largo do mercado, em espaço aberto, juntamente com David Caiado, Duarte Reis e Ernesto Vitali. Uma secção de ouro tropical a fechar uma tarde quente.

 

De regresso à ADAO para as últimas horas de OUT.FEST, coube a Carincur refrigerar o ambiente com texturas fluídas de voz, com a percussão a ficar no polo oposto do rés-do-chão do edifício, com Burnt Friedman & João Pais Filipe a acentuar a resiliência kraut. Audrey Chen fez da voz matéria de estudo, ora delicado ora impiedoso, seguindo-se guitarradas indomáveis na estreia nacional de Richard Dawson & Circle, num momento que foi tanto teatral como pujante. A violência, física e sónica, acabaria por atingir os píncaros em Prison Religion, dando espaço para RP Boo abrir a pista de dança com o seu footwork e sorrisos contagiantes. Pisitakun e Violet fecharam, já em modo after na Gasoline, mais uma edição triunfante do OUT.FEST.