Woodrock Festival

Woodrock Festival. O rock de volta a Quiaios

Texto: Bruno Correia | Fotografia: Woodrock Festival

O Woodrock Festival regressou à Praia de Quiaios, na Figueira da Foz, nos passados dias 21, 22 e 23 de Julho. Celebrando a sua oitava edição, o festival regressou após dois anos de interregno forçados pela pandemia, devolvendo assim o rock a uma paisagem que já o reconhece.

Sexta-feira, 22 de Julho

Foi um público ainda meio envergonhado que recebeu o punk dos Cobra ao Pescoço. A tocar praticamente em casa, a energia (com devido destaque para o vocalista) não foi sempre correspondida pelo lado de cá do palco mas ajudou a aquecer o início de noite frio.

Foram os Madmess os próximos a entrar em palco e a aproveitar a oportunidade para apresentar Rebirth, álbum lançado o ano passado, a uma audiência cada vez mais composta. Nota mais que positiva para um concerto vivido a uma velocidade bem diferente do anterior e que rapidamente pôs cabeças a abanar ao som do psicadelismo do trio do Porto.

Não é novidade para grande parte do público português a força da natureza que são os Kadavar, e isso voltou a ficar provado no Woodrock. «Estão prontos para o rock’n’roll?!», perguntaram, como se a resposta pudesse ser outra que não um redondo sim. «Terão de o provar», acrescentaram, e assim queremos acreditar que o fizemos ao longo de toda a actuação que teve início com “Lord of the Sky”, à qual se seguiu “Last Living Dinosaur”. O som nunca pareceu a ficar a 100%, o que acabou por contribuir para que a voz de Lupus Lindemann nunca ficasse tão clara como desejado, mas nem isso pareceu fazer com que o público não se estivesse a divertir. “Doomsday Machine” e “Come Back Life”, de Abra Kadavar, um álbum que às vezes é fácil esquecermo-nos estar-se a aproximar-se da década de existência, não puderam faltar e conseguiram das maiores reacções da noite antes do final ao som de “All Our Thoughts”.

Era já 1 da manhã quando as Sereias deram à costa e subiram ao palco para nos trazer uma sonoridade, assim descrita pelos próprios, como uma «selvajaria de jazz-punk-pós-aquático». É inegável a peculiaridade do que aqui vimos e ouvimos, assim como o é a capacidade das sereias, com o seu chamamento em forma de sintetizadores, de nos levar numa viagem às águas profundas de onde parecem ter saído. Não agradarão com certeza a todos os ouvidos, mas o que aqui nos fizeram viver foi em partes iguais inesperado e bastante interessante.

Mas a noite ainda não estava terminada e a antecipação para ver Dopelord não deixava o sono tomar conta dos corpos dos ainda presentes. Com Klusek a meio do palco com a sua habitual t-shirt na qual se lia «Sabbath Worship», a banda polaca teve 50 minutos ao seu dispor durante os quais se apresentou como que em modo best of com, entre outras, “Hail Satan”, “Addicted to Black Magick”, e “Children of the Haze”. Do lado de cá a plateia ainda estava composta e aguentou-se firme até ao fim com “Reptile Sun”, do penúltimo disco. Um concerto bastante positivo, ainda que sem grande história, para terminar a sexta-feira de festival.

Sábado, 23 de Julho

A noite de Sábado voltava a começar em tons de punk, desta vez com The Faqs. Entre visitas a Face the Faqs, álbum de 2019, e ao EP de estreia de 2017 – “Punhetas” conseguiu pôr o público presente a cantar – houve também tempo para temas novos ao longo de uma actuação bastante sólida da banda do Porto.

Num registo bem diferente, mas com um nível de intensidade igualmente alto, seguiram-se os The Twist Connection. Kaló dizia-nos que «valeu a pena esperar». O público responde que sim e o vocalista e baterista da banda de Coimbra rapidamente diz que não era uma pergunta, mas uma afirmação. «Valeu a pena esperar pelo Woodrock. Estar aqui vale a pena». No que nos diz respeito, não podíamos concordar mais e o que ajuda a que o seja são concertos como o deste trio que, com uma actuação irrepreensível, manteve a fasquia bem lá em cima.

Com mais de duas décadas de existência, os Witchcraft dispensam apresentações e rapidamente após a confirmação da sua presença em Quiaios, se tornaram uma das bandas mais esperadas do festival. Talvez alguma da culpa possa mesmo ser atribuída à expectativa, mas não há como negar que a cerca de uma hora de actuação nunca conseguiu convencer totalmente. Com o foco do concerto a ser o álbum homónimo de estreia, o início deu-se ao som de um passado mais recente com “Malstroem”, de Nucleus (2016). Magnus Pelander, vocalista e guitarrista, ainda começou por dizer que não falava uma palavra de português, mas lá acabou por sair um «obrigado». «Esta é toda em sueco», disse, antes de tocar as primeiras notas de “Schyssta Lögner”. No geral, um concerto sólido dos suecos mas onde por vezes pareceu faltar um fio condutor que o permitisse tornar aquilo que muitos eventualmente antecipavam ser o possível concerto da noite.

Assim sendo, arriscamos dizê-lo, as honras de ter o concerto da noite couberam então aos Mars Red Sky. Visivelmente felizes por estar de volta a Portugal («a praia continua no sítio», disseram, em tom de brincadeira) e trazendo consigo o habitualmente lento e pesado fuzz que os caracteriza, levaram os presentes em 60 minutos de passeio cósmico ao céu vermelho de Marte. O ponto de partida foi “The Light Beyond”, primeira música de Stranded in Arcadia (2014) e o tempo, que acabou por parecer demasiado curto dada a qualidade do concerto, foi suficiente para uma passagem quase geral pela discografia da banda que culminou com “Strong Reflection”, presença obrigatória no alinhamento. Pelo meio, várias passagens pelo último disco, de 2019, com o destaque a ter de ser dado a “Reacts”, um raro instrumental do trio francês.

O relógio já marcava 02h40 da manhã mas a vontade de aproveitar o festival até à última foi grande e também considerável era a quantidade de público que ficou à espera de Mike Vhiles para o derradeiro concerto do fim-de-semana. A energia da banda conimbricense não foi abalada pelo tardar da hora e foi correspondida pelos que ainda marcavam presença. Com, por enquanto, apenas um EP lançado, conseguiram um excelente concerto que teve em “Soul Fuzz” o ponto final e que terminou com o guitarrista e baixista a juntarem-se ao mosh. Foi a melhor forma de encerrar as festividades e começar a contagem decrescente para a próxima edição do Woodrock. Nós estamos prontos!

Finalizamos a reportagem com um pedido de desculpas à organização e às bandas pela impossibilidade, por motivos de força maior, de marcar presença no primeiro dia de festival e assistir ao que terão sido, indubitavelmente, excelentes concertos de Misfit Trauma Queen, Fatman, 10 000 Russos e Miss Lava.