O Stereo compila, em cada edição do Curtas do Vila do Conde, um conjunto de propostas que, através da junção entre a música e o cinema, pretendem alargar os horizontes de apresentação da sétima arte.
Para a edição deste ano, a 30ª da história do festival, antecipa-se, por exemplo, a performance de Steve Gunn (na foto). Com uma carreira que lista uma boa dezena de discos em nome próprio e outras tantas colaborações com nomes como Kurt Vile, Mike Cooper, Marcia Bassett ou Bardo Pond, a música de Gunn vagueia entre géneros, receptiva a todo o tipo de sonoridades. Começou pelo punk na adolescência para mais tarde se aventurar no psicalidelismo e na música exploratória, até se estabelecer, aos dias de hoje, como uma espécie de segredo entre os cantautores da sua geração. No Curtas apresenta um espectáculo onde acompanha o filme Visions in Meditation 1-4, de Stan Brakhage, uma narrativa visual que circula por diversas paisagens e momentos de profundo simbolismo humano. Esta apresentação terá lugar a 16 de Julho no Teatro Municipal de Vila do Conde.
La peste – Una deconstrucción musical y visual de Nosferatu é uma proposta de reinterpretação visual e musical que abre novas leituras para o seminal filme de F.W. Murnau. Concebido por Raül Refree (música) e Pedro Maia (imagens), o espectáculo toma como pilares a epidemia, os animais, a morta ou as paisagens da Transilvânia para lhes adicionar novas texturas tensionadas pelo órgão barroco, pelo piano ou pela percussão electrónica. A estreia nacional é na 30ª edição do festival a 12 de Julho.
Tal como as duas anteriores propostas, também Porto 1975 Mobilização Geral será no Teatro Municipal de Vila do Conde. Numa altura em que já se iniciaram as celebrações oficiais do 50º aniversário da Revolução dos Cravos, a ser assinalada em 2024, o Curtas apresenta um espectáculo construído a partir de filmagens que José Alves de Sousa captou na cidade do Porto desde o “verão quente” de 1975 até inícios da década de 1980. Acompanhando a “festa da democracia” que se vivia por esses tempos, os registos apresentam as mobilizações populares em várias datas importantes para a consolidação do regime democrático actual, entre o 11 de Março e o 25 de Novembro de 1975, com a celebração do primeiro aniversário do 25 de Abril pelo meio, ou os acontecimentos durante este período do PREC. Rodrigo Amado (saxofone), Hernâni Faustino (contrabaixo), Carla Santana (electrónica) e João Valinho (bateria) compõem a banda sonora para as palavras de Rodrigo Brandão, cuja spoken word serve de comentário, reforço ou contraponto às imagens. Será a 13 de Julho.
Partindo do trabalho apresentando na Galeria Municipal do Porto em 2019, I Don’t Know Karate But I Know Ka-razor! é uma versão adaptada para o formato filme-concerto do trabalho que Filipe Marques tem vindo a desenvolver em torno da problematização da impotência da condição humana. Acompanhando as imagens do artista, sobem ao palco Mané Fernandes, José Marrucho e DJ Lynce, que actua ainda numa after party que se segue ao concerto a 14 de Julho no Auditório Municipal de Vila do Conde.
Como habitual, o Curtas promoverá ainda uma competição dedicada a videoclipes que integra, entre outros, nomes como Conjunto Corona, Chão Maior, Sereias, Best Youth, Moullinex e Rodrigo Leão. Para este ano a secção tem ainda alinhada uma série de sessões de cinema ao ar livre no Pátio da Solar – Galeria de Arte Cinemática, onde se poderá rever, em cópias recentemente restauradas, o filme Songs For Drella de Ed Lachman, onde se regista a breve reunião de Loud Reed e John Cale para a gravação e apresentação do disco com o mesmo nome, dedicado ao mentor nos tempos de The Velvet Underground, Andy Warhol; ou ainda The Last Waltz, em que Martin Scorsese filmou há precisamente 50 anos a última reunião dos The Band, cujo concerto de despedida contou com a participação de nomes como Neil Young, Bob Dylan e Joni Mitchell.
O Curtas Vila do Conde regressa entre os dias 9 e 17 de Julho. Mais informações sobre o festival internacional podem ser consultadas no site oficial.