Texto: Ana Ribeiro | Fotografia: Ana Ribeiro
No dia 18 de Maio, Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe, duo norueguês conhecido como Kings of Convenience, subiram ao palco do Coliseu dos Recreios. Após um concerto no Porto, desceram para duas noites praticamente esgotadas em Lisboa onde vieram alimentar o desejo dos antigos fãs e, ao mesmo tempo, permitir aos novos assistir ao seu concerto. A dupla não actuava em Portugal há mais de uma década.
Pelas 21h00, a icónica sala Lisboeta continuava com uma afluência em cima da hora, tipicamente portuguesa, frenética e com uma plateia notoriamente internacional. Com um Coliseu praticamente esgotado, Kings of Convenience subiram ao palco vinte minutos depois e esperava-os uma plateia sentada animada, ansiosa e bastante feliz. Com uma entrada fortemente aplaudida pisaram o palco com um amigável «Good evening everybody! We are Kings of Convenience» e, frente a frente, o duo começou a dedilhar “Comb My Hair”, uma música do seu último álbum Peace Or Love. Após um caloroso aplauso e notando a elevada afluência aos lugares sentados disseram, «Oh there is people arriving! People just arriving, we only played one song!», para acalmar quem entrava apressado achando que já tinha perdido meia-hora de concerto. Após afinar as guitarras seguiram com “Rocky Trail”, outra música do seu último álbum, antes de “Cayman Islands”, do seu disco de 2004 Riot on an Empty Street, ter sido envolvida numa atmosfera íntima, com cores quentes, enfatizando o vermelho e os tons alaranjados.
“Angel”, a terceira música tocada pertencente ao novo disco, arrancou ao som de palmas ritmadas que, a pedido de Eirik, foram rapidamente substituídas por estalar de dedos envolvidos por um lusco-fusco de plateia que, aparentemente não permitia a Erlend ver a audiência, que acabou a música a pedir à régie para, em tom de brincadeira, «parar de tentar cegá-lo». Mantiveram-se nas novidades, “Killers” e “Love Is a Lonely Thing”, divididas pela apresentação do duo, piadas sobre o som e a pronunciação dos seus nomes, e explicações de como surgiram estas músicas, que no caso da última foi inspirada num livro de 1930, sobre a história da cidade de Bergen.
Erlend acabou por admitir que adora Fernando Pessoa. «WE LOVE GUITAR!»- ouve-se, algures pela audiência, acabando por dar origem a uma dissertação de Eirik sobre como ele também adora guitarras e mostrou-se um pouco envergonhado por ter uma carreira baseada no uso de uma invenção de uma pessoa que não consegue identificar. Antes de começar a conhecida “Know How”, convidaram as pessoas das laterais a ocupar os lugares vagos da plateia. Foi acompanhada com estalidos dos dedos, desta vez intuitivamente, e terminou com a plateia a cantar em uníssono dando origem ao aplauso mais forte até a esse momento.
“Homesick” foi dedicada ao povo ucraniano, àqueles que tiveram de fugir do seu país, e verbalizaram a sua tristeza por estar a acontecer o que eles nunca tinham pensado ser possível, uma guerra na Europa. Apesar da iniciativa do público de bater palmas ao ritmo de “Catholic Country”, Erlend pediu novamente ao público que acompanhasse com estalinhos dos dedos comparando as palmas, no geral e, nas suas palavras, a «really bad drumming». No final da música a plateia cantou e gradualmente levantou-se, permanecendo assim para “Mrs. Cold”, que foi entoada pela audiência desde o início.
Os músicos pediram aos seus ouvintes para se aproximarem, para preencher os lugares vagos e tomarem a frente do palco e assim, “Boat Behind”, de 2009, foi acompanhada por contrabaixo e violino, músicos que colaboram com a banda há vários anos. O refrão foi cantado pelo público e a música terminou, mais uma vez, com estalinhos dos dedos, arritmados, fazendo lembrar uma noite chuvosa dando lugar a um crescendo para palmas muito fortes guiadas por Erlend. Com o público em alta e cheio de energia continuaram com “Misread” onde o duo foi direcionando agradecimentos às diferentes áreas da plateia do Coliseu com simpáticos acenos.
Seguiu-se “Fever” e a esperada e conhecida “I’d Rather Dance With You” que foi recebida com muita energia, numa corrida controlada para as filas da frente, com dança e um aplauso imenso à saída do palco. Durante alguns minutos o público pediu um encore ao som do famoso bater de pés do coliseu, de aplausos e assobios que não iriam cessar sem Kings of Convenience regressarem para mais musicas.
Voltaram com agradecimentos: «Thank you so much, we have so many songs but we’ve decided that when we come back to Portugal we need to play more than one concert! Our dream is to come to a few selected cities and do A-sides on a Friday, B-Sides on the Saturday. I’m not sure it’s going to work…» , manifestando assim o desejo de voltar a Portugal para mais concertos. Tocaram “24-25” seguida de “Rule My World” onde a audiência reagiu com palmas e a euforia de quem sabe que está quase a terminar. O público foi presenteado com “Little Kids”, música de 2001, mas antes a dupla agradeceu a quem saiu de casa e a quem esperou tanto tempo por este concerto. Terminaram pedindo para tirar uma selfie com um Coliseu verdadeiramente feliz.
Um concerto há muito desejado, intimista, com muitos casais abraçados, trocas de beijos durante músicas, um concerto muitas vezes com meia-luz sem medo de mostrar a plateia à banda, cores quentes e com uma energia particular. Uma noite confortante que deixou um sorriso nas caras de quem foi, lentamente, esvaziando a sala, sendo o concerto o tópico mais ouvido nas conversas entre grupos que se encontravam ao abandonar o Coliseu.