Metronomy no Coliseu de Lisboa. O amor em formato de dança

Texto: Ana Margarida Dâmaso | Fotografia: Ana Ribeiro

A pautar o inicio do mês de Março de 2022 ficaram os regressos às salas de concertos com diminuição de restrições face ao período pandémico que vivemos nos últimos dois anos.Em tempos de crise, seja ela mundial ou no nosso jardim, nada mais inspirador do que belas canções sobre o amor e a interacção entre humanos, como aquelas que se puderam sentir e recordar na noite de dois  de Março, em Lisboa, com uns tais Metronomy a preencher o nosso grandioso Coliseu dos Recreios.

A primeira parte deste evento esteve a cargo de Grove, também britânica, de Bristol. Num ambiente queer, esta produtora cantou e dançou com recurso a um computador e um microfone debaixo de um colorido jogo de luzes, vestindo uns calções e um penteado de totós. O seu espectáculo consistiu em curtir a sua própria cena, com voz exótica e recurso a várias rimas. Com grande interacção com a audiência, mostrou-nos alguns dos seus trabalhos como “BBB”, referindo que aquele se tratava do maior concerto em que teve a honra de participar, sobretudo tratando-se da abertura para Metronomy. Quando terminou, a plateia, que aderiu aos seus movimentos de dança, já estava preenchida.

 

Às 22 horas subiram a palco, então, os esperados e muito aplaudidos Metronomy. Nos camarotes alguns grupos de amigos aproveitavam o convívio, mais recatadamente. O público correspondeu ao habitual, nas faixas dos 20-40, uma malha urbana e bem conhecedora dos seus maiores sucessos. Numa formação de cinco elementos, com uma única mulher, Anna Prior, tão já conhecida pela nossa nação, assumiu o destaque central na sua bateria. A seu lado, a completar a banda: um baixo, duas guitarras e teclas a dobrar.

Arrancando com “Love Factory”, foi na segunda faixa que ocorreu a primeira grande festa do público, com “The Bay”, recuperada do incontornável The English Riviera. Todos dançaram! Que saudades de ver “sardinhas enlatadas” com braços no ar, a cantar sem medo, considerando aquela como a nossa baía, fazendo jus à letra. Das múltiplas capacidades desta banda, é muitas vezes Anna Prior, na sua coordenação voz e instrumento, de bateria colorida e transparente, que dá o cunho a determinadas músicas, como em “Corinne”.

A banda, sempre bastante comunicativa através do seu vocalista e líder Joseph Mount, não guarda a admiração que tem pelo nosso país e acabam por relembrar a sua passagem em terras lusas em 2019 ou 2020. Assim aproveitaram para cantar “It’s Good To Be Back”, do mais recente Small World.  Podemos assumir pela expressão do público que os grandes sucessos da banda se situam entre 2011 e 2016, com grande destaque para o seu álbum Love Letters, de 2014. “Everything Goes My Way”, “Night Owl”, “Reservoir” e “The Look” foram algumas das mais esperadas e entoadas pelo público, que muitas vezes se deixou contagiar pelo instrumental, seguindo acapella. Estas dimensões de união acabam por trazer alguma esperança à humanidade que tem vivido noites frias e de solidão. Reinventaram depois a sua doce “Salted Caramel Ice Cream” numa versão rock’n’roll, diferente da que usualmente escutamos no álbum.

Tratando-se este do segundo concerto da tour, que arrancou na véspera no Porto, saudaram o público num simbólico agradecimento, explicando que este se tornou o maior concerto em nome próprio em Portugal, sobretudo após os dois últimos anos de pandemia e da estranheza de estar em salas com muita gente. «It’s crazy, thank you!», confessaram.

Após uma pequena pausa, o público não arredou pé e a banda acabou por regressar para o encore com “Old Skool”, “Love Letters” e abraçaram-nos, deixando novos elogios à plateia lisboeta. Para fechar de vez, ficou um travo de grunge e punk rock, um mix de videojogos dos anos 90 com uma qualquer banda de garagem, com “You Could Easily Have Me”. E assim os tivemos. E têm até já regresso a Portugal agendado para a edição deste ano do festival Super Bock Super Rock.