Ride no Lisboa ao Vivo. Doces anos 90

Os anos 90 já lá vão e com eles ficaram uma série de bandas que não voltaram a ver os palcos. Felizmente, os Ride não são um desses casos. A banda britânica apresentou-se pela primeira vez em nome próprio em solo português e trouxe consigo o seu mais recente álbum, This Is Not A Safe Place (2019). O Lisboa Ao Vivo foi o local escolhido, que estava menos composto do que seria de esperar, ou não estaríamos a falar de uma das mais importantes bandas de shoegaze. O feito seria repetido no dia seguinte no Hard Club, na cidade do Porto.

A primeira parte ficou a cargo dos Crushead Beaks, um jovem trio oriundo de Londres claramente influenciado pelos Stone Roses e cujo o vocalista  fazia lembrar um jovem Damon Albarn. Um som interessante e pujante, que me surpreendeu e agarrou, e que entreteve bem o público durante cerca de uma hora.

Os Ride subiram ao palco poucos minutos depois. Após um breve «Olá Lisboa» dito por Mark Gardener, o vocalista do grupo que também dá o ar da sua graça na guitarra, deixando as leads para Andy Bell, a banda mostrou duas faixas do seu último álbum. O baixo de Steve Queralt estava bem definido, um dos elementos mais distintos da sonoridade da banda, acompanhando Laurence Colbert, que formava tudo de forma exímia na sua bateria. O primeiro momento de maior adrenalina surgiu com “Leave Them All Behind”, tema do segundo álbum, Going Blank Again.

Ao longo das dezanove faixas tocadas, onze delas dizem respeito aos últimos dois trabalhos da banda, onde a sonoridade difere um pouco do que tinham feito nos anos 90. Ainda assim, o público manteve-se desperto e atento, esperando sempre por uma das faixas mais antigas. Como é habitual, o melhor estava guardado para o fim, onde foram tocadas cinco faixas de Nowhere, o álbum de estreia da banda e ainda hoje considerado o seu melhor trabalho. “Vapour Trail” e “Seagull” foram os pontos altos da noite, naquela que foi uma boa viagem pela discografia da banda.

Os Ride mostraram que é possível ressuscitar, continuar a fazer música e não ficarem presos no tempo. A banda esteve de parabéns e, apesar da sala não ter estado muito composta, o público parecia bastante satisfeito pelo espectáculo que tinham acabado de ver, ouvir e sentir.

Texto: Gonçalo Cardoso