Red Fang no Lisboa ao Vivo. Destruição e entretenimento a uma velocidade estonteante

Os que acompanham o que ocasionalmente debito no meu diário de bordo lembrar-se-ão da aventura que foi encontrar o Lisboa ao Vivo aquando a visita dos polacos Riverside, no ano passado. Para alguém que já muito pouco visita Lisboa – e ainda menos para um concerto -, descobrir onde se situava o recinto do concerto acima mencionado fora uma experiência que não queria propriamente repetir. Mas desta vez eu vim bastante bem preparado para a navegação em mares de asfalto – desta vez, tinha boleia veicular.

A minha segunda visita ao LAV prendia-se, como indica o título desta mesma reportagem, com o regresso de Red Fang a Lisboa. Na sua última visita à capital haviam actuado no Musicbox, onde apresentaram o seu então mais recente disco, Whales and Leeches. Desta vez com o seu quarto disco, Only Ghosts, o entusiasmo seria ainda maior, assim como o palco. Mas antes de podermos presenciar o enorme quarteto de Oregon, tivemos de suportar a banda de abertura, os Dollar Llama. De uma forma simples, os Dollar Llama são uma banda lisboeta que encontra no rock sulista e no sludge as suas maiores inspirações, mas que não as aproveitam da melhor maneira, apostando num som que, apesar de entretido em alguns momentos, é extremamente banal. A pouca afluência inicial que fora crescendo à medida que os acordes se iam ouvindo não impediu os lisboetas de destilar temas do seu disco mais recente, Juggernaut. Mas pouco serviu de aquecimento para o que seguiria a seguir.

 

Sem grandes introduções, sem grandes ostensividades, os Red Fang entraram em palco a disparar em todas as direcções, despejando logo os temas “Blood Like Cream” e “Malverde” de seguida. Em “Crows in Swine”, a terceira música da noite, a plateia entrou numa erupção de loucura e fervor, causando assim aquele mosh digno de registo videográfico que durou até ao fim do concerto. Eram encontrões à moda antiga, corpos a sobrevoar cabeças – alguns deles em posições budistas, enquanto carregados por outros tantos loucos -, e o coro entusiasmado composto por aqueles que mal aguentavam com os pés assentes em terra firme. Perante tal cenário de pura destruição e entretenimento, a banda demonstrou-se bem à vontade, respondendo com o seu bom humor típico enquanto tocavam a uma velocidade estonteante. É sempre um prazer ver John Sherman a tocar bateria de uma forma frenética e alucinada enquanto ambos Bryan Giles e David Sullivan demonstram a sua mestria na guitarra, não esquecendo, claro, o frontman e baixista Aaron Beam que muitas vezes se juntava ao público nas grades que ora tocavam air guitar, ora imitavam o ritmo da bateria de Sherman, quase em formato jam.

De início ao fim, naquele que era o seu último concerto desta pequena digressão europeia, os Red Fang percorreram toda a sua discografia, tocando temas que vão desde as mais recentes “Not For You”, “Flies” e “Cut Short” do seu mais recente disco, Only Ghosts, até aos já clássicos “Sharks”, “Wires” e “Into the Eye”. Nota especial para os dois novíssimos temas tocados também durante o concerto, “Antidote” e “Arrows”, que farão parte do quinto disco que a banda se encontra a preparar e que demonstraram ser temas bem épicos e espirituosos, ao bom estilo Red Fang. Com a gigante “Prehistoric Dog”, o concerto avizinhava-se por terminado, mas dado o entusiasmo de todos os presentes, o quarteto decide regressar para um poderosíssimo encore, composto por “Hank Is Dead” e “Throw Up”. Contas feitas e suor limpo de todos os poros possíveis e imagináveis, bebem-se umas últimas cervejas em boa companhia, recorda-se a intensidade da noite e refastela-se nos souvenirs obtidos. Venham mais noites assim.

Texto: Filipe Silva
Fotografia: Paulo Jorge Pereira