Stoned Jesus no RCA Club. Peregrinos em transformação

Depois de se terem apresentado no Porto na noite anterior, o RCA Club deu as boas-vindas aos Stoned Jesus e Somali Yacht Club para um final de feriado, o 1º de Novembro, que levou bastante público à sala lisboeta.

Os Somali Yacht Club foram os primeiros a entrar em palco e rapidamente nos conseguiram transportar num embalo rítmico de psicadelia que tinha em The Sea, último registo discográfico lançado este ano, o seu leme. A banda já tinha estado em Portugal naquele que foi um dos pontos altos da piscina na edição de 2015 do SonicBlast Moledo e era bom voltar a vê-los, desta vez em sala. “Crows” foi a escolhida como ponto de partida para cerca de 50 minutos de concerto que, não sendo irrepreensível (a voz de Mezk Erei nem sempre era fiel à que ouvimos em disco), ficará com toda a certeza na nossa memória. Tempo houve para um elogio a Portugal, no geral, e às “ondas grandes” da Nazaré antes do final que chegava ao som de “Vero”, também do último disco.

Os Stoned Jesus estrearam-se em Portugal em 2015 com uma presença no festival Reverence Valada, tendo, na altura, feito questão de nos informar que era esse o concerto mais longe do seu país natal que tinham dado até à data. Três anos depois, em Lisboa, o trio da Ucrânia volta a apresentar-se à nossa frente naquele que foi, por coincidência, o seu concerto número 400. O tempo passou mas nem tudo mudou – do lado de cá do palco sente-se o mesmo entusiasmo que se sentia naquela pequena freguesia do Cartaxo há três anos. A banda apresenta-se mais sólida mas continua a irradiar uma felicidade difícil de explicar.

“Feel” e “Hands Resist Him” deram início ao concerto que tinha em Pilgrims, lançado em 2018, o seu foco principal, com uma passagem integral por todos os temas do disco. Ainda que, pessoalmente, não estejamos 100% convencidos em relação ao último álbum, não há como negar que todas as sete músicas resultaram particularmente bem ao vivo. Ainda assim, talvez pelo pouco tempo que tivemos para deixar o disco amadurecer nos nosso ouvidos, nenhuma parece ser o suficiente para nos deixar nas coordenadas mentais onde queremos (e esperamos) estar ao longo desta viagem. Os regressos ao passado foram escassos mas materializaram-se em “Black Woods”, “I’m The Mountain” (que teve como introdução um excerto do refrão de “Alma Mater”, dos Moonspell – um dos momentos mais inesperados da noite) e “Here Come The Robots”, a última do concerto (já no encore), naquele que pareceu um obrigatório picar de ponto aos seus trabalhos anteriores.

Os diversos pedidos de “Electric Mistress” não foram concedidos e a banda deu por terminada a apresentação a Pilgrims, o disco que parece ser a mais aproximada representação daquilo que são os Stoned Jesus no momento actual. A verdade é que oito anos passaram desde o álbum de estreia e talvez o trio ucraniano que se apresenta à nossa frente não seja exactamente o mesmo que lançou First Communion ou gravou, mais tarde, “I’m The Mountain”. Seja como for, enquanto houver vontade e oportunidade de voltar a Portugal, estaremos do lado de cá para os continuar a acompanhar. Até à próxima!

Texto: Bruno Correia

Fotografia de capa, não correspondente ao concerto reportado, com direitos reservados – Fonte