Forest Swords na Galeria Zé dos Bois. Compaixão, com ritmo e com visão

Uma noite fria e um aquário da Galeria Zé dos Bois completamente lotado receberam Matthew Barnes, conhecido como Forest Swords, na sua visita a Lisboa para apresentar Compassion.

No segundo disco do produtor britânico, o sucessor do aclamado Engravings, os samples fantasmagóricos metodicamente escolhidos permanecem e são intercalados com os graves sombrios, as influências dub e as ressonâncias techno minimalistas em nove faixas muito distintas, que partilham o denominador comum de serem intensas e constituídas por diversas e enriquecedoras camadas sonoras. Da guerra, ao pânico, ao vandalismo e por último a sobrevivência (palavras alusivas aos títulos das faixas do disco). Emoções complexas, cruas, e, por isso, quase mudas e instrumentais, sendo que, como o título indica, a compaixão predomina, uma metáfora para um peso que adquire uma certa leveza, um pedragulho, como o da capa do disco, que parece levitar ao ser levantado pelo homem, ou mesmo uma metáfora para uma luz ténue, como a de um feixe de um projector que ilumina parcialmente uma grande sala escura.

Este e a tela, onde foram projectadas as imagens, asseguram a componente visual do espectáculo, não fosse Barnes também fotógrafo e designer gráfico, e fazem parte da magia ao vivo, que acontece ainda com uma workstation bem completa, um baixista que toca para aumentar a veemência dos graves e ainda uma guitarra, ocasionalmente utilizada pelo britânico. E um espectro de melodias que vai desde a inspiração tribal à melancolia do piano.

Durante a actuação, nas parcas palavras proferidas pelo produtor, não faltaram elogios ao espaço da Galeria e apelos à sua sobrevivência. Ainda que o ambiente obscuro da sala fosse o ideal para ditar o tom desta experiência, esta acabou por ser um pouco ingrata para aqueles que, chegando em cima da hora, se viram obrigados a vislumbrar o espectáculo do fundo da sala, tornando-se difícil, por entre as cabeças e a média luz, distinguir os acontecimentos na frente do palco e os vídeos que os acompanhavam, o que deu azo a algum burburinho de fundo a dada altura.

Mas foi, acima de tudo, um despertar de sensações visuais e auditivas em simultâneo. A introspecção de Barnes, contido e focado em palco, é contagiante e, além dos sons e ritmos que obrigam a balançar o corpo, numa espécie de hipnose mística, é fácil ficar preso nas imagens que nos são mostradas, do restolhar de folhas ao vento, do esvoaçar dos tecidos de seda e sentir-se compelido a seguir atentamente as misteriosas figuras que nos convidam a entrar dentro da tela, e deste universo multissensorial aqui criado.

Texto: Rita Bernardo
Fotografia: Nuno Bernardo