Falar de uma banda como os Swans não é uma tarefa propriamente fácil. Como se define uma banda que se encontrou em constante metamorfose ao longo dos anos, nunca se regendo por um só estilo? A resposta é, ao contrário de tudo o resto, bastante simples: não se define, limitando-se apenas a contar uma pequena história sobre a sua formação e a sua evolução ao longo dos anos. Uma retrospectiva, portanto.
Formados em ’82 por um tal de Michael Gira e com uma formação inicial que contava com músicos como Jonathan Kane e Roli Mosimann, os Swans sempre tiveram um som caracteristicamente desafiante. Inicialmente com um som mais industrial carregado de sons metálicos, tal como se pode ouvir nos álbuns Filth e Cop, eram habitualmente comparados a bandas da secção no wave, particularmente Sonic Youth e Mars. Fora em ’86 com Greed, no entanto, que a banda se começou a aproximar do estilo que hoje os distingue dos demais. Um tempo mais lento, os vocais limpos de Gira e as primeiras colaborações com Jarboe: a receita estava feita e o resultado era enorme. Jarboe acabara mesmo por se tornar numa peça fundamental dessa mesma transformação da banda, ela que estava por detrás do pano, com a sua voz um tanto melódica. Holy Money e Children of God, ambos registos dessa era, são ainda hoje considerados grandes influências para bandas como Godflesh, Sunn O))) e até mesmo Tool.
A exploração sonora continuara com The Burning World, que também fora o único álbum da banda numa editora de renome, a Uni/MCA. Um álbum com melodias mais pop e letras cantadas – uma novidade para a banda na altura -, a gravação e lançamento do mesmo não fora uma experiência de todo agradável para Michael Gira, que se sentira desiludido com a relação estabelecida com a editora. Formara portanto a Young God Records, a partir da qual todos os posteriores álbuns de Swans seriam lançados. O primeiro filho, por assim dizer, seria White Light From the Mouth of Infinity, que acabara por ser uma mistura entre os vários estilos explorados pela banda até ao momento, mas sempre com o intuito de inovar. Seguiram-se Love of Life e The Great Annihilator, também eles inovadores de uma maneira ou de outra.
Com Soundtracks for the Blind, chegou o primeiro fim da banda. Numa época em que Gira estava demasiado ocupado com outros projectos, decidira lançar um último álbum antes de se despedir com uma última tour mundial. Esse álbum consistia em dois discos recheados de gravações de campo providenciadas por Jarboe, assim como paisagens ambientais mais negras e composições mais cheias, mais épicas, o que fez com que o álbum se tornasse num dos melhores registos dentro da carreira da banda. Com Swans Are Dead, um disco duplo com duas gravações ao vivo, uma delas da última tour, a “morte” da banda estava oficializada.
Apesar do fim da banda, Michael Gira não ficou parado. Fosse a formação de Angels of Light, a continuação do seu projecto acústico ou até mesmo o trabalho na sua editora, Gira nunca parou de criar e de se superar enquanto músico. Mas a vontade de reformar os Swans nunca saiu da sua mente e numa tentativa de angariar fundos para um novo álbum da banda, lançara I Am Not Insane pela Young God, com músicas que viriam a fazer parte do tão esperado novo álbum da banda, My Father Will Guide Me Up a Rope to the Sky. Com este álbum viria também uma nova formação, possivelmente a mais conhecida da banda: Christopher Hahn e Norman Westberg nas guitarras, Phil Puleo e Thor Harris na bateria e percussão, Christopher Pravdica no baixo e claro, o próprio Michael Gira na guitarra e vocais.
Revitalizados e com um novo rumo encontrado, os Swans procederam ao lançamento de mais três álbuns, intercalados por dois anos cada: The Seer em 2012, que se afastara do elo criado entre os álbuns finais da primeira encarnação da banda e o projecto Angels of Light, dando prioridade à criação de uma atmosfera mais sónica e rica; To Be Kind em 2014, que misturava os dois álbuns anteriores para criar aquele que acabou por ser o som definitivo de Swans; e, finalmente, The Glowing Man em 2016, que trazia consigo o anúncio do segundo fim da banda, que tal e qual o anterior, trazia também um álbum ao vivo, Deliquescence, lançado este ano.
Durante todos estes anos foram também muitas as passagens da banda pelo nosso país, embora mais durante a segunda encarnação que na primeira. Fosse no NOS Primavera Sound, Amplifest ou em nome próprio, fizeram de Portugal uma espécie de casa de férias no Algarve: cá estiveram imensas vezes, mas algo continuava a chamá-los e de bom grado eles respondiam. E vinham. E tocavam. E atiravam-nos contra a parede com a sua imensa parede sonora. E nós gostávamos, amava-mos e pedíamos mais. Mas desta vez, não vai haver mais. Desta vez, será o fim. O fim destes Swans. O fim de uma banda que influenciou tantas outras e muitos mais ainda irão influenciar. Será este o derradeiro fim ou apenas mais um hiato de alguns anos? Só Deus sabe. Ou por outras palavras, perguntem ao Michael Gira.
Os Swans estarão presentes dia 8 e 9 de Outubro, no Hard Club no Porto e no Lisboa ao Vivo, respectivamente, para dois concertos finais no nosso país. Os bilhetes valem 25 euros e podem ser adquiridos fisicamente nas lojas Hard Club (Porto), Louie Louie (Porto), Piranha (Porto), Black Mamba (Porto), Bunker Store (Porto), Flur (Lisboa), Glamorama (Lisboa) e Vinil Experience (Lisboa), ou online, através da Amplistore.