O delírio do Barreiro Rocks está a chegar

Existe um certo encanto do rock no Barreiro. Soubessem Raoul Duke e Dr. Gonzo e não era em Las Vegas que procurariam o sonho americano. O delírio vive-se no Barreiro Rocks, um dos festivais mais marcantes e autênticos que a Europa conhece e reconhece, e está-se à porta da sua 16ª edição.

De 30 de Novembro a 4 de Dezembro a cidade da Margem Sul é a capital do rock. O sangue deixa-se pulsar pelas válvulas dos amplificadores e pelos acordes dissonantes e desenfreados, frutos da atitude punk que percorre os artistas que passam pelo festival.

O dia inaugural é marcado pela força percussiva de Joaquim Albergaria e Ricardo Martins. O primeiro actuará em conjunto com a maquinaria MMMOOONNNOOO num espectáculo acompanhado por texturas visuais e o segundo no novo projecto Bruxas/Cobras, onde se desdobra com o baixista Pedro Lourenço. Em jeito de matiné, os “miúdos” vão à escola no 1º de Dezembro. A partir das 16h na recuperada Escola Conde de Ferrreira vão passar alguns músicos pertencentes ao Programa Jovens Músicos, iniciativa da Hey, Pachuco que promove o Barreiro Rocks. Em cartaz está a massa continental de Pangeia, o hard rock revivalista dos mestres da guitarra Skyard, a refeição d’Arroz Com Feijão, o coração rock’n’roll do hiphop de Genes ou a alma distorcida de Alex Chinaskee & Os Camponeses. Destaque também para Os Cúmplices, banda erguida do projecto Cumplicidades (do Programa Escolhas – E6G), onde uma turma de crianças canta as suas próprias letras adaptadas a alguns dos maiores hits do rock, do punk e do garage.

No dia 2 de Dezembro as atenções focam-se no habitual Pavilhão do GD Os Ferroviários. O dia, com algumas bandas curadas pela Groovie Records, é encabeçado por Les Grys Grys, que chegam de Montpellier para debitar a loucura do garage punk francês. Também de França, mas de Le Havre, os Les Synapses vão-se estender pela pop carregada de fuzz. Também com o selo da Groovie, Rolando Bruno y Su Orquestra Midi promete baile tropical cumbia directamente de Buenos Aires. A restante noite é preenchida por três nomes que já fizeram mexer o Barreiro Rocks no ano passado: os The Sunflowers, agora já com um álbum na estrada, vai potenciar a habitual festa de crowdsurfing incontrolável; os The Brooms vão invocar a magia e o bruxedo do psicadelismo e Conan Castro & The Moonshine Piñatas mostrarão do que é feita a música feita na fronteira mexicana.

Sábado é dia grande. À tarde há matiné na Escola Conde de Ferreira para quem se conseguir aguentar nas canetas depois da noite de sexta. Há garage de The Japanese Girl, há punk de Fugly e Diogo Augusto, há juventude pop das Caldas da Rainha de Eternal Champions e há surf rock vacinador de The Miami Flu. Já escureceu? Já se jantou? É que a festa volta ao GD Os Ferroviários a partir das 21h30. Parcialmente curada pela Slovenly Records, o destaque maior vai para o fuzz sujo e ferrugento dos italianos The Dirtiest. Também do sul da Europa mas de um “pouco” mais longe, de Atenas, os Bazooka trazem-nos a democracia do punk embebido de psicadelismo grego. A trupe europeia fica repartida com o rock’n’roll primitivo dos holandeses The Anomalys e do punk rock madrileno de Biznaga. A turma portuguesa do dia divide-se entre os heróis do Rio Tinto, 800 Gondomar, e o novo projecto de Kaló (Tédio Boys, Bunnyranch), o trio The Twist Connection.

O Barreiro Rocks termina na Escola Conde de Ferreira durante a tarde de domingo. As lides barulhentas e selvagens de The Jack Shits encabeçam uma tarde em que se apresentará I Speak Rock and Roll, o novo disco do anfitrião Nicotine’s Orchestra, e os barreirenses Monkey Cage mostram o que nasceu das cinzas de Stereofux. Também durante a tarde haverá rock felino dos Panado, power trio de Lisboa.

Finados os nomes para esta edição – esquecemo-nos de mencionar os DJ sets de El Perro Encendido, Piñas Coladas, Groovie Records, Slovenly Records e Hey, Pachuco – os mais cépticos podem virar as costas por pouco conhecerem do cartaz. É certo que ninguém tem de ter a lição do rock estudada porque ninguém conhece todas as garagens deste mundo. Mas apontamos que foi neste festival que nomes como Black Lips, Ty Segall, Lost Sounds, Strange Boys ou Howlin’ Rain fizeram a sua estreia em Portugal e onde já passaram notáveis como Andre Williams, Gallon Drunk, Billy Childish, Speedball Baby, Pierced Arrows ou Jack Oblivian.

Quem não conseguir aguentar mais uns dias, nos dias 25 e 26 de Novembro há warm-ups Barreiro Rocks na agenda. Na sexta-feira a sala principal do festival, no GD Os Ferroviários, abre as portas à Sterling Roswell Band, que destaca o trabalho do ex-Spacemen 3 e The Darkside em formação com João Pimenta (10 000 Russos) e Grahame Painting (Jerico Orchestra). No sábado o Barreiro Rocks sobe a Rio Maior para três colheres de rock made in Barreiro n’Os Maiorais: Nicotine’s Orchestra, The Brooms e Planeta Quadrado. Ambos com entrada livre.

Sabe mais informações sobre o Barreiro Rocks XVI, desde a programação completa ao preço dos bilhetes, aqui.