No sábado, dia 23 de Abril de 2016, o palco do Beat Club, em Leiria, viu dois dos jovens SS mais promissores da música nacional: a abrir, o S de Surma, a nova pérola musical leiriense, com um experimentalismo psicadélico e etéreo rico em detalhes e camadas; a fechar, o S de Sequin, a aclamada jovem artista que em três anos já conquistou Portugal de norte a sul, com o seu intenso e energizante pop eletrónico.
Débora “Surma” Umbelino subiu a palco 15 minutos após a uma da manhã, curvada sob o teclado, rodeada de aparelhos electrónicos, perdida num mundo de estranhos sons que tão bem se encontram juntos. No segundo tema, junta ao teclado e à voz gravada em camadas a guitarra, terminando em suave acapella. A transbordar de genuína alegria, agradece ao público, dá as boas noites, pede desculpa pela quase imperceptível rouquidão e segue concerto com uma terceira música mais ritmada e dançável.
Lançado pela Omnichord Records, a nova editora leiriense que tem capturado o melhor que a cidade tem para oferecer, o single Maasai foi o quinto na setlist e o momento alto do concerto. Até ao final tivemos mais três, com direito a muralhas de som intensas, efeitos misteriosos no baixo, uma música nova há mais de um mês e uma despedida com um riso quase de criança, terminando com a intrincada Lo-Fi perto das 2 da manhã. E lá foi ela, com a sua trouxa electrónica a esconder um mar de fios, talvez inconsciente do quão bom foi aquilo que acabou de fazer em palco e do futuro que poderá ter pela frente.
Vinte minutos depois, Ana “Sequin” Miró, acompanhada ao vivo por uma menina de ar sorridente e um rapaz de ar desligado, sobe a palco e canta a bela e hipnótica Meth Monster. Logo na primeira interacção com o público, a artista mostra-se descontraída, animada, num concerto onde foi de resto muito faladora, cheia de piadas e com uma descontracção tal que levou a várias imperfeições na voz e um ou outro engano no teclado. Apesar de tudo, nalguns momentos a voz brilhou, e quando o fez o concerto teve magia.
Apresentando o seu mais recente trabalho, o EP Eden, Sequin interpretou-o na íntegra, começando logo na segunda música do alinhamento com Monolith. Flamingo abriu a pista de dança, bem recheada de público; Naïve teve um belo momento a três vozes, sendo que as backing vocals durante todo o concerto pecaram por não se ouvirem muito bem (ou às vezes de todo). Antes de Two In One, Sequin fez questão de ironizar o facto de ser uma “artista estrangeira” por cantar em inglês (quiçá em resposta a alguns comentários no YouTube?). Icecream foi lenta mas intensa, terminando a sequência de músicas menos mexidas com SVU, a bela balada do novo EP.
A tetralogia final voltou a chamar pelo corpo, primeiro com o mais recente single Ellipse, logo depois com a disco tropical Peony e de seguida com a aclamada Beijing. A fechar o pano, uma versão da Physical de Olivia Newton, com o público a abanar o seu físico (uns pouco; outros demais, como o senhor de laranja, que estaria a ouvir o mesmo concerto que nós mas em fast-forward).
Não tendo tido a sua melhor noite, Sequin conseguiu ainda assim dar um belo concerto, muito por culpa das inabaláveis composições e da presença em palco quase teatral, bastante mais trabalhada que a menina tímida que vi no Fusing 2014. Se apenas dois anos resultaram em tal evolução, adivinha-se também para ela um futuro risonho, mais ainda do que já foi até agora. Nota final para o DJ Carlos Matos, que sem pausas deu seguimento ao seu set, homenageando o grande Prince.
Fotografia: Marina Silva
Texto: David Matos