Black Mountain no Hard Club. Com vista para a montanha negra

Title Card: During the 1980s over 70% of American adults believed in the existence of abusive Satanic Cults. Another 30% rationalized the lack of evidence due to government cover ups. The following is based on true unexplained events. – The House Of The Devil. Dir. Ti West. MPI Media Group, 2009.

Foi já num aparentemente longínquo ano de 2005 que a Jagjaguwar lançou uma rapaziada de Vancouver que se fazia chamar por Black Mountain, qual cordilheira da Carolina do Norte, ou pináculo de calvário. O som quente, que respirava a válvulas e que fazia lembrar tempos felizes do casamento entre o rock e a psicadelia não tardou em catapultar a banda e aquele homónimo para um patamar à altura da vista, vincado de forma superlativa anos mais tarde com os lançamentos de In The Future e Wilderness Heart. Passados dez anos e com a estreia num palco português ainda por acontecer, foi agora, no arranque da digressão de apresentação de IV, que os Black Mountain reservaram uma passagem para este cantinho à beira-mar. Com uma ida a priori ao festival Tremor, em São Miguel, foi já deste lado que no passado Sábado os apanhamos na cidade do Porto, a deitar guitarra(s) ao ombro e a tomar posição perante um Hard Club para lá de composto.

Da mesma forma que a linha de sintetizador de “Mothers Of The Sun” abriu há umas semanas a cortina de IV, abriu também aqui um alinhamento que se fez girar de forma objectiva em torno desse novo álbum de estúdio dos canadianos – a lançar por essa mesmíssima Jagjaguwar no 1º de Abril. A coisa foi-se construindo por entre o groove cavalgante duma “Stormy High” ou de “Wucan” – medido sempre ao abanar de pandeireta de Amber Webber – e o je nes sais quois da dark pop quase mística de que vivem as música novas. O exemplo perfeito do que se quer dizer com a segunda metade daquela frase está em “Cemetery Breeding”, faixa que ao mesmo tempo que é estruturalmente tão simples, faz-se crescer pelo espaço que dá ao sentido de harmonia que sustenta o seu refrão. Infelizmente, espaço é o que no entanto parece não ter Wilderness Heart – álbum de cantigas maravilhosas e que guardamos num lugar especial do baú daquele ano – do qual só tivemos direito a ouvir “Old Fangs”. Se tudo acabou por fluir de forma mais ou menos uniforme e se até só de músicas novas podia muito bem ter vivido o concerto, foi precisamente com a mais antiga de todas que coçamos a cabeça. “No Hits” fez de encore de forma algo despropositada e soou mesmo perdida e deslocada do resto, quando momentos antes tínhamos ainda a épica “Space To Bakersfield” a ressoar nos tímpanos. Além do mais, juramos que se fechassem os olhos algures a meio daqueles nove minutos, podiam muito bem ver Roger Waters e companhia naquele segundo e pouco em que se desfazem as ramelas depois de os voltarem a abrir. Afinal de contas até o revivalismo se reinventa.

Texto: Rui P. Andrade
Fotografia cedidas por: Renato Cruz Santos