Catacombe, homília ao post-rock nacional

O post-rock tem sido um dos géneros musicais que mais cresceu em Portugal nos últimos anos. Originou uma pequena cena e uma comunidade de fãs devota. Mas se esta rápida aumentação descobriu talento em recantos ocultados do nosso país, também expôs os clichés sónicos sobre-usados pelas bandas mais sensíveis. No passado dia 25, na Cave 45, com os essenciais Catacombe e Imploding Stars, antes de se celebrar uma das bandas, celebrou-se o post-rock nacional.

Falava-se dos clichés do género. Um deles é a sucessão prepotente entre partes de menor dinâmica para maior dinâmica, tentando equilibrar a intensidade sonora das peças. Com os Imploding Stars (banda de abertura), este chavão originava uma discrepância. Enquanto reinava a calmaria, os músicos de Braga portavam uma postura exploratória, combinando com interesse os efeitos das guitarras e pondo à prova melodias cativantes. Contundo, amplificando a potência, caminhavam sempre para o mesmo ambiente sonoro.

Ouçam-se os mestres – GY!BE, Slint, Sigur Rós – e veja-se como a música se expande com o tempo. Nas partes intensas, os Imploding Stars fechavam-se a quatro paredes com o estridor da bateria. E olhem que a Cave 45 não é muito grande.

Quidam, o último registo dos cabeça de cartaz, fala de pessoas – “Lolita”, “Nadir”, “Zenith”. Esta carga temática faz a banda demarcar-se no panorama português: com tons de sépia, os Catacombe transformam memórias fotográficas em sons.

Com o baterista a mandar nas tropas, ornamentando as composições, os restantes instrumentistas enrolam as suas ideias musicais de forma harmoniosa. Para além da maior vivacidade, esta música é de um proclamado saudosismo. Ouçam-se as guitarras de “Jardim da Sereia”, a reverberação de “Ninho de Vespas”, a versão piano solo de “Lolita”. Ao longo de uma hora de concerto, os Catacombe comprovaram estar na proa do post-rock nacional.

Texto: Gonçalo Tavares