Murdering Tripping Blues @ Sabotage Club, 7/3/2015

“O método de composição não mudou muito, mas as músicas são fruto dessa evolução enquanto músicos e indivíduos. À medida que vamos amadurecendo a música amadurece connosco, mas deixamos sempre que o impulso dite as regras do jogo” – dizia-nos há bem pouco tempo Henry L. Johnson em entrevista, sobre o recente Pas Une Autre, lançado no final do ano passado pela Ragingplanet.

Amadurecimento é a palavra de ordem dos Murdering Tripping Blues desde os tempos de Share the Fire, datado de 2010: um garage rock menos sujo e mais aprumado, um blues mais melodicamente ordenado e, bem mais vincadas, as incursões experimentalistas no universo do psicadélico, aproximando-os da génese do também trio formado por Hayes, Levon Been e Shapiro, Black Rebel Motorcycle Club.

Na passada noite de Sábado, em Lisboa, deram a conhecer os frutos destes anos de maturação. O alinhamento foi variado, ainda que, como se quer, focado no último registo. “In Heat” traz à memória “Rifles” do trio californiano que mencionamos em cima, pela guitarra lânguida de L. Johnson, a bateria de Johnny Dynamite a acompanhar semelhante ritmo e, em último, e aquilo que dá um kick perfeito na canção e a enche de groove texturizado, como se uma segunda voz celestial se embrenhasse pelo meio, as teclas de Mallory Left Eye. “Into Your Eyes”, um dos singles a par de “Stumblin’ Blues”, apanha-nos numa camada ruidosa de guitarra e bateria dissonantes, sem perder o fim à meada, abraçadas pelos teclados hipnóticos. Foi possível também ouvir novamente umas quantas malhas antigas e já conhecidas de outras paragens, “Ode to Her”, “Tune In, Drop Out” ou “I’ll be Your Narcotic” de Knocking at the Backdoor Music (2008), e umas quantas de Share the Fire. “Hooked on You”, a terminar, com as galopadas de Dynamite e as braçadas frenéticas de L. Johnson levanta pés e sacode ombros energicamente dos que ocupavam a ala da frente da plateia, qual selvajaria do rock, a provar que o amadurecimento e os impulsos espontâneos andam de braço dado e resultam. A primeira parte esteve a cargo de The Big Church of Fire.

Fotografia e texto: Telma Correia