Festival Bardoada & Ajcoi @ Pinhal Novo, 3 e 4/10/2014

A 2ª edição do Festival Bardoada & Ajcoi aconteceu nos passados dias 3 e 4 de Outubro e deu ao Pinhal Novo um cartaz ainda mais arrojado, com grandes nomes nacionais e algumas surpresas.

3 de Outubro

Na sexta-feira as portas abriram às 20h e pudemos observar um espaço bastante melhorado desde a última edição e que, embora não seja muito grande, estava bastante organizado e bem pensado.

Nesta altura o público ainda se contava pelos dedos, infelizmente. Pelas 21h subiram ao palco o Don John com ‘How Does It’. Eles são um grupo de jovens do Pinhal Novo que estão a dar os primeiros passos no mundo da música. As letras são originais e, com um pouco mais de confiança, têm o que é preciso para dar certo. A actuação terminou com ‘Jam’ e por esta altura a música parecia já ter atraído mais gente.

Quando os Boombox Band subiram ao palco já tinham uma sala mais composta, ainda que a meio gás, mas pronta para receber a estreia desta banda, também oriunda do Pinhal Novo. Numa onda mais rap rock cantaram sempre em português e contagiaram o público com o seu entusiasmo e energia. ‘Jardim’ foi uma das músicas que mereceu destaque pois foi num jardim que eles começaram a trocar as primeiras ideias e a ensaiar.

Apesar do som dos aplausos já preencherem a sala, ainda se sentia o público um pouco acanhado, algo que foi mudando quando os Vira-lata deram início ao seu espetáculo. Abriram com ‘Doa a Quem Doer’, também título do novo álbum, e seguiram-se com ‘Assalto’. Entre alguns temas do álbum anterior “Vai Buscar!” o destaque estava nas mais recentes ‘Não Há Tachos’, ‘Burguês’, entre outras. ‘Homem Que é Homem’ foi o tema dedicado às mulheres que sofrem de violência doméstica e a esta altura já se notava um público mais solto e alguns indícios de mosh. E com “vai um copo e mais um copo pró caminho” o final estava próximo e a despedida foi feita com a icónica ‘Ivone’.

Directamente do Porto, O Bisonte foi a banda que se seguiu e foi incrível a forma como o público se entregou às suas músicas. Abriram com ‘Esqueleto’ e desde logo mostraram aquilo de que eram capazes, com uma excelente energia em palco e uma grande empatia com o público. Entre conversa fiada o vocalista confessou que já estava um pouco “bêbedo” e a sentir-se arruinado, foi este o modo com que apresentou ‘Ruína’. Não podemos deixar passar em branco o primeiro crowdsurf da noite que demorou mas aconteceu durante ‘Músculo’. O final deu-se com ‘Abutres’, com o público a acompanhar a letra em uníssono.

Entre uma e outra banda o tempo foi passando e já estávamos quase no final da noite. Com quase uma hora de atraso, finalmente chegou a banda mais esperada desta noite, pelo menos pela maioria do público. Mata-Ratos, a banda que já remonta dos primórdios do punk rock português e que vem sempre acompanhada por uma enorme legião de fãs de todas as idades. São quase umas bestas, mas o público adora-os assim. A setlist foi extensa, tão extensa como os seus anos de actividade e não faltaram os temas dos quais o público sabe tão bem as letras, como é o caso de ‘C.C.M’. Em ‘Amor eterno’ o público foi dono do microfone a maior parte do tempo e a euforia era evidente. “Eu não posso deixar de relembrar que o Benfica vai à frente”, disse Miguel Newton antes de “Xu-Pa-Ki”, o que provocou algumas risadas. Foi no final desta música que se despediram do público, mas este não ficou convencido. Voltaram então para tocar “A Minha Sogra é um Boi” a música mais emblemática da banda, mas ainda assim o remate final desta noite fantástica foi feito ao som de “Põe tua mão na mão do meu senhor da galileia….” num estilo mais alternativo que só os Mata-Ratos sabem fazer e que deixou o público ao rubro.

 

4 de Outubro

Na segunda noite começámos muito melhor, com uma sala muito mais preenchida em relação ao início da noite anterior. Pelas t-shirts via-se que eram maioritariamente fãs de More Than a Thousand ou Hills Have Eyes, mas não foi por isso que não se deixaram levar com as bandas que se antecederam, como Griever. Banda da casa, iniciaram com ‘Skeletons’ e arrancaram os primeiros headbangings na sala. Ainda estavam na terceira música e já o público vibrava em moshes e circle pits. Fizeram questão de tocar uma música importante para eles, ‘Palavras Vãs’, mostrando que o bom metal não se faz só em inglês. ‘Chains’ deixou o público com uma boa energia e prontos para receber a banda que se seguia.

Kandia, a única banda com uma presença feminina em palco, entraram de mansinho ao som de ‘Caution’ mas logo mostraram a sua garra com ‘New Breed’. Donos de um rock bem pesado, foram descarregando malhas dos álbuns “Inward Beauty | Outward Reflection” e “All Is Gone”. Nya Cruz dedicou o tema ‘Paranoia’ aos “stalkers” do Facebook que não pedem amizade para falar mas só para controlar a vida dos outros e mais tarde desabafou que a musica “All I Need To Know” é sobre a força de acreditar em nós mesmos. ‘Scars’ foi dos temas que mais puxou pelo público e ‘Karma’ ditou a despedida.

Hora das surpresas com os franceses Checkmate, que além de serem a primeira banda internacional presente neste festival, estrearam-se também em solo nacional e trouxeram-nos o seu mais recente trabalho “Immanence”. Num concerto sempre a alta velocidade, foi fácil dominar o público e ao fim de pouco tempo surgiu o primeiro wall of death da noite, a pedido do vocalista. Entre muito mosh, o público ia descarregando a adrenalina toda ao som de temas como ‘Invictus’ e ‘I.M.A’, enquanto os mais ousados se arriscavam em stage divings. As energias francesas contagiaram sem dúvida a plateia mas a grande festa estava ainda por chegar.

A energia não se dispersou muito e assim que os Hills Have Eyes entraram em palco foi notória a euforia dos mais jovens. ‘All At Once’ começou, a loucura instalou-se e quase que se formavam filas para o stage diving. Em ‘Hold Your Breath’ o vocalista Fábio Batista pediu um circle pit e o público atendeu sem cerimónias. Enquanto este fazia crowdsurf, Vasco Ramos dos More Than a Thousand entrou em palco e foi ao som destas duas vozes que ouvimos ‘Anyway It’s Gone’. Na recta final presentearam-nos ainda com a nova ‘The Bringer of the Rain’ do seu próximo álbum “Antebellum” e despediram-se ao som de “Strangers”.

A pontualidade predominou nesta segunda noite e era 1h quando os More Than a Thousand subiram ao palco, no momento mais esperado da noite. Começaram com ‘Cross My Heart’ e seguiram com ‘Fight Your Demons’, ambas do recente trabalho “Vol. 5: Lost At Home”. Foi estonteante ver a loucura do público, mais entusiasmado não podia estar. É impressionante a forma como esta banda tem vindo a crescer e a maneira como é acarinhada pelos fãs que em momento algum baixaram os braços ou deixaram de cantar com a banda. ‘It’s Alive (How I Made a Monster)’, ‘First Bite’ e ‘Nothing But Mistakes’ foram algumas das memórias do anterior “Vol. 4: Make Friends and Enemies”. Entre muitos saltos e pingos de suor ao ritmo de ‘Make Friends and Enemies’, Vasco fez-se acompanhar apenas da guitarra para nos envolver num um solo magnífico onde nos brindou com ‘In Loving Memory’ e ‘Midnight Calls’, num momento íntimo e emocionante onde se viam muitos braços no ar e chamas de isqueiros. ‘Roadsick’ e ‘No Bad Blood’ foram o culminar de um concerto em grande, numa noite igualmente em grande e única.

 

Os agradecimentos foram em grande parte direccionados a Igor Azougado, vocalista dos Shivers e responsável pela organização do Festival, que subiu por último ao palco para agradecer a todos e para anunciar um pequeno espectáculo de fogo-de-artifício, juntamente com uma actuação dos Bardoada que trouxeram os seus bombos para dar o grito final de encerramento.

Fotografia: Rute Pascoal
Texto: Inês Ariana