Capitão Fausto @ Plano B, 26/9/2014

A cave do plano B, um dos bares que lançou as «Galerias» na noite do Porto, já deu à luz concertos admiráveis: Thee Oh Sees, Fuck Buttons, The Legendary Tigerman, entre outros. Desta forma, há um fantasma do mosh passado constante, e que é facilmente invocado quando os amplificadores são ligados neste palco particular. Desta vez foi logo na música que abriu o concerto dos Capitão Fausto, “Célebre Batalha de Formariz”, com o vocalista Tomás Wallenstein a fazer crowdsurf na apertada multidãozinha das primeiras filas.

Os lisboetas dirigiram-se ao Porto para apresentar Grelhados ao Vivo, o seu primeiro disco ao vivo que tanto se mantém na alçada dos álbuns de estúdio como arrisca, em interlúdios e divagações instrumentais de vários minutos. Exemplificando: ao mesmo tempo que ouvimos uma “Litoral” tocada «exactamente como ela é» (palavras do vocalista da banda) com a sua alegria mergulhada nas guitarras e na assertividade da escala de mi maior, também nos deparamos com umas “Flores do Mal” que, após as linhas melódicas brilhantes e cruzadas sobre sons sintetizados, parte para uma improvisação colectiva com o teclado como solista, sendo que o seu timbre à Fender Rhodes cria no palco o reflexo da fusão de um Herbie Hancock, mostrando que o psicadelismo destes rapazes é versátil.

Estes momentos instrumentais são constantes ao longo do concerto, brotando ora com o glissando febril e textura das teclas de “Verdade” ora com a linha de baixo super dançável de “Zecid”, assim como a veneração da comunidade de fãs, bem representada nas filas de frente, que dança, salta e canta todas as letras religiosamente, incansável. Este esforço é bem recebido pela banda que diz adorar tocar no Porto e que “Sai sólo en la mañana”, promessa feita ao som de um ritmo mexicano na bateria. Também permanente é o crowdsurfing, sendo que é por cima das mãos do público que na penúltima música os quatro músicos da banda (excepto o baterista, que se mantém a tocar) abandonam o palco numa saída triunfal, antes de voltarem em sequência enquanto desbundam numa jam.

A última canção é pujante com a sua distorção folgaz e puxa para os encontrões, terminando-se assim o concerto com uma certeza: os Capitão Fausto, independentemente do pretexto discográfico que os leva a pisar o palco, com o seu rock garrido e colorido, a sua postura vigorosa mas segura e a comunidade de fãs que fielmente os segue, estão numa posição confortavelmente alta no panorama do rock nacional.

Fotografia: Rafaela Bernardo
Texto: Gonçalo Tavares