20º Super Bock Super Rock @ Meco, 17 a 19/7/2014

Foi há 20 anos atrás que tudo começou, em Alcântara. Hoje o Super Bock Super Rock faz na Aldeia do Meco, na Herdade do Cabeço da Flauta, um dos melhores festivais de Verão do país que a celebrar a sua 20ª edição trouxe nomes como Massive Attack, Eddie Vedder ou Kasabian. A Ruído Sonoro esteve por lá e conta-vos como foram estes 3 dias Super.

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Dia 17 de Julho

Final da tarde na Herdade do Cabeço da Flauta. As primeiras pessoas começavam a entrar e a dispersar-se pelo recinto. Entre passeios pelo espaço, uns iam em busca de brindes e outros em busca de uma cerveja gelada para refrescar do calor que ainda se fazia sentir. Aos Million Dollar Lips coube a tarefa de inaugurar este primeiro dia do festival. Vieram de perto, nomeadamente de Sesimbra, e com a sua mistura de rock e electro-pop começaram a atrair ao palco EDP os mais curiosos. Ainda que a conta-gotas, o recinto foi-se preenchendo ao som de vibrantes melodias robóticas. A cover de INXS, ‘Mistify’, fez-se ouvir e entoar pelo público, mas devido a problemas técnicos teve que ser reiniciada. O concerto prosseguiu e também nós, uma vez que relógio não parava e já eram horas do primeiro concerto no palco Super Bock Super Rock.

Vintage Trouble podia-se ler em grande no fundo do palco. Este quarteto californiano trazia consigo todo o calor da costa oeste americana e deliciou-nos com um concerto magnífico, que infelizmente não fez jus ao público que teve. Foi um regresso aos anos 60 e 70 mas com um perfume moderno, relembrando desde Otis Redding a Led Zepellin, com os mais enérgicos e dançantes riffs de guitarra e com a vibrante energia de Ty Taylor, que é sem dúvida um autêntico monstro de palco. Percorrendo as faixas do seu último disco “The Bomb Shelter Sessions”houve ainda espaço para a recente ‘Run Like The River’ que levou Taylor a correr até ao topo da régie e a cantar, em coro com o público, o refrão ‘Run baby run’. Um concerto sem dúvida brilhante, carregado de blues e puro rock ‘n’ roll.

Às 20h30 estava na hora de Metronomy. O cenário pintava-se de branco com nuvens cor-de-rosa, como no seu mais recente álbum “Love Letters”. ‘Holiday’ foi a primeira da setlist e introduziu ao público os primeiros ritmos eletrónicos. As suas canções pop cheias de electrónica foram seduzindo a plateia que ia-se chegando cada vez mais para junto do palco. ‘Love Letters’ veio abraçar os presentes e animá-los, numa festa que continuava ao som de “The English Riviera”, álbum mais acarinhado pelo grande público. A criatividade contemporânea dos Metronomy leva-os já no seu 4º álbum de originais, e se continuarem neste bom caminho esperam-se muitos mais. O português em ascensão Frankie Chavez também animou o palco da Antena 3. Das suas músicas com influências que vão do blues ao folk puderam-se ouvir temas como a conhecida ‘Fight’ ou ‘Psychotic Lover’ do recente “Heart And Spine”.

Tame Impala já não são novidade em solo nacional, mas ainda haviam muitos os que estavam no recinto a aguardar pela oportunidade de ver estes australianos em palco pela primeira vez. O quinteto, constituído por Kevin Parker, Dominic Simper, Jay Watson, Nick Allbrook e Julien Barbagello, conquistou o mundo em 2012 com o álbum “Lonerism” e desde então não têm parado de surpreender. Começaram de mansinho com ‘Be Above it’ e foram subindo a temperatura intercalando temas do novo álbum com o “InnerSpeak”. ‘Elephant’ despertou a plateia e entre saltos e cantorias os minutos iam passando. As imagens psicadélicas e cheias de cor que passavam em pano de fundo iam-se fundindo com o rock, também ele psicadélico e com uma linha de pop à mistura, e criavam-nos um mar de cor. É neste mar que chega ‘Feels Like We Only Go Backwards’, talvez a música mais aguardada (e conhecida, pelo público em geral) que se ouviu entoada por todo o recinto. Estávamos então na recta final e a despedida foi feita ao som de ‘Apocalypse Dreams’.

O relógio marcava 23h40, hora de Massive Attack entrar em palco para nos deslumbrar com um dos melhores concertos desta edição do SBSR. Desde 1988 a fazer história, estes 26 anos de carreira parecem pouco quando comparados ao talento e à capacidade de inovação que esta banda inglesa nos tem presenteado ao longo do tempo. Eles não são só uma banda de trip-hop, eles são um universo de géneros que vão desde a electrónica ao jazz, soul e hip-hop, numa panóplia de melodias contagiantes. ‘Battlebox 001’ deu início ao espectáculo (e que espectáculo!) que aliado ao desenho cénico manteve toda a gente com os olhos sempre vidrados no palco. “Heligoland” prendeu o público com os temas ‘Paradise Circus’ e ‘Girl I Love You’, onde as letras se podiam ouvir entoadas pelo público. Do incrível “Mezzanine” fomos tocados com ‘Teardrop’ e ‘Angel’, duas prestações incríveis de deixar qualquer um arrepiado. O Super Bock Super Rock foi um dos primeiros palcos a ter o privilégio de assistir a este novo formato visual que o duo desenvolveu como pano de fundo nas suas apresentações. Entre vários efeitos visuais e algumas mensagens que iam suscitando risos entre o público, foram as mensagens políticas que mais se destacaram, como a notícia do recente conflito entre israelitas e palestinianos. O encore deu-se com ‘Incantations’, ‘Splitting The Atom’ e ‘Unfinished Simpathy’ para terminar em grande. Com este novo espectáculo fica-se igualmente a ansiar pelo sexto álbum de originais, que esperemos ser para breve.

Poucos foram os que arredaram pé do recinto, apesar de serem quase 3h da manhã quando os Disclosure subiram finalmente ao palco, ligeiramente atrasados. Depois da recente passagem pelo Optimus Alive’13, os irmãos Lawrence vieram mostrar novamente o seu talento e genialidade. ‘F For You’ deu início à festa e ninguém parecia estar cansado. O recinto transformou-se numa enorme pista de dança e tema após tema a dupla inglesa foi percorrendo “Settle”, o seu primeiro álbum de originais, onde cada tema parece um single carregado de ritmos eletrónicos que convida todos a dançar. Ouve-se finalmente ‘White Noise’, que já há muito que era gritada pelo público – e também pedida nas várias mensagens enviadas através do twitter e que iam sendo apresentadas nos ecrãs gigantes – mas infelizmente devido a problemas técnicos a música não terminou como era esperada e foi interrompida por uma curta pausa. Mas nada ia atrapalhar ou estragar a noite destes jovens e ‘Voices’ trouxe novamente calor ao ambiente. A noite terminou com a esperada ‘Latch’, sucesso espantoso do último ano, que conta com a voz de Sam Smith e que foi cantada em alto e bom som pelos presentes. Cada momento e cada música fizeram deste o concerto perfeito para terminar em grande o primeiro dia deste 20º Super Bock Super Rock.

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Dia 18 de Julho

O segundo dia do SBSR previa-se grande. Com bilhetes esgotados à conta de nomes como Eddie Vedder, Woodkid ou Cat Power, nada fazia adivinhar os imprevistos que iriam ocorrer noite fora.

O sexteto alfacinha For Pete Sake foram os primeiros a tocar no palco EDP. A banda é liderada pelos irmãos Pedro e Concha Sacchetti e foi a grande vencedora do concurso de bandas da Antena 3 no início deste ano. Com um som novo e cativante, carregado de traços da pop e folk, foram condensando aos poucos a plateia que por essas horas ainda aproveitava o final da tarde para passear pela herdade.

Quando terminaram, já os Keep Razors Sharp davam os primeiros acordes no palco da Antena 3. Um rock psicadélico com misturas de indie ia despertando o interesse dos presentes na tenda, não fosse esta uma banda formada por músicos já com alguma bagagem em bandas como Sean Riley & The Slowriders ou Riding Pânico. O disco, esse ainda está para sair, até lá vamos poder vê-los por aí em festivais.

Joe Satriani começou cedo a mover multidões que caminhavam a passos largos em direcção ao palco da EDP para ver o lendário guitarrista. Foi em 1987 que com “Surfing with the Alien” Satriani começou o seu percurso e desde então os êxitos seguiram-se uns atrás de outros. Fazendo-se acompanhar pela sua banda, foi descarregando riffs como ninguém, mostrando aos presentes o porquê de ser considerado um dos melhores guitarristas da história da música.

Às 20h a dupla nova-iorquina formada por Madeline Follin e Brian Oblivion abriu o palco Super Bock Super Bock, nesta que foi a estreia dos Cults em Portugal. O público ia-se chegando, ainda que a conta-gotas e num passo um pouco tímido. Começaram com ‘Abducted’, do álbum homónimo de 2010 e foram seguindo com o melhor da indie-pop que nos têm trazido nestes últimos anos. Na voz doce de Madeline é nos trazida a balada ‘If You Know What I Mean’ e também do seu álbum de estreia ouve-se ‘Go Outside’ música que os lançou para as luzes da ribalta e provavelmente das poucas mais cantaroladas pelo público, que apesar dos esforços da banda, se mostrou pouco entusiasmado (ou seria cansaço da noite anterior?). A fechar em grande tivemos ‘I Can Hardly Make You Mine’ que deixou no ar um ambiente alegre e animado.

Os Pulled Apart By Horses vieram-se a revelar uma surpresa no palco EDP. O público saltava e gritava repleto de energia ao ritmo destes 4 britânicos. Riffs poderosos, misturando o rock com o punk, contagiavam os presentes numa sonoridade inquieta e viciante, dando até origem a alguns mosh pits. Mas ao cair da noite começaram as primeiras surpresas e uma chuva miudinha começou a cair. A boa disposição da banda face ao mau tempo foi notável, e entre brincadeiras o vocalista afirmou: «Portugal, por vocês eu não me importava de ser electrocutado!». E lá foram tocando mais umas malhas, à chuva, uma vez que o palco EDP lamentavelmente não tinha cobertura. O público, esse também não arredava pé, e ali continuava protegendo-se como podia. Mas a 3 músicas do final, mesmo já com guarda-sóis gigantes a cobrir os amplificadores, não foi mesmo possível continuar e os Pulled Apart By Horses foram forçados a abandonar o palco e a despedirem-se mais cedo.

O mesmo não aconteceu no palco principal, onde se ouviu The Legendary Tigerman do início ao fim, e onde o público permaneceu, igualmente, recorrendo ao uso de chapéus, toalhas ou mesmo sacos de plástico para se abrigar. Paulo Furtado, o nome por trás da «lenda», ora tocava a solo, ora fazia-se acompanhar por uma série de músicos, juntos num só palco a animar a noite molhada ao som de temas como ‘Naked Blues’, ‘Wild Beast’ e tantos outros, num ritmo dançante como se quer o blues a que este senhor nos já acostumou. O concerto contou também com a participação de Filipe Costa, Ana Cláudia e Alex D’Alva Teixeira, que vieram trazer mais alma à festa e ajudar na cover de ‘These Boots Are Made For Walking’, um original de Lee Hazlewood mas mais conhecido pela maioria na voz de Nancy Sinatra, e que meteu muitas botas a dançar na lama. Com a chuva já a dar tréguas, foi ao som de ‘Dance Craze’ que dançámos em direção ao palco EDP.

A chuva obviamente causou transtorno ao palco pouco prevenido da EDP, que viu a sua programação alterada a fim de conseguir melhores condições para os seguintes concertos. Foram postas coberturas no palco, mas o facto é que já de nada serviram uma vez que a chuva cessou. O resultado foi uma bola de neve de concertos adiados que acabaram por interferir naquele que era o mais esperado da noite: Eddie Vedder.

Com o concerto de Sleigh Bells adiado para as 3h da manhã, voltámos ao recinto principal para assistir ao espetáculo de Woodkid. Com talento de sobra, este jovem francês começou por fazer sucesso como realizador de videoclipes de nomes como Katy Perry em ‘Teenage Dream’ ou Lana Del Rey com ‘Born to Die’. No entanto, Yoann Lemoine estreou-se o ano passado com “The Golden Age” e provou também ter talento de sobra para a música. Com uma voz bonita e carismática, as suas músicas remetem a uma pop sumptuosa, com deslumbrantes arranjos orquestrais que nos levam em viagens por terras longínquas e cenários fantásticos. ‘I Love You’ conquistou o público e, por entre as muitas luzes cintilantes oferecidas pela EDP que se erguiam no ar, o tempo ia voando. O palco, esse oferecia-nos um ambiente cinematográfico com belas imagens de simetrias e jogos de sombras entre a percussão que cativavam o nosso olhar. Quem não esteve presente o ano passado no Vodafone Mexe Fest, provavelmente percebeu o porquê de este ter esgotado o Coliseu. Depois de uma brilhante viagem pelo seu álbum de estreia, finaliza-nos com ‘Run Boy Run’, numa versão prolongada que parecia um pouco forçada, ainda assim, com uma teatralidade e irreverência únicas.

O palco Super Bock Super Rock ficou vazio pelas quase 2h seguintes. Para que não houvesse sobreposição de espetáculos, o concerto de Cat Power que ia acontecer no palco EDP pelas 00h00 começou uma hora mais tarde, condicionando o de Eddie Vedder e causando o esperado descontentamento entre os fãs.

A espera foi longa para aqueles que não arredaram pé das grades, tudo por uma chance de estar mais perto do seu ídolo. Os primeiros acordes de ‘Corduroy’ chamaram para junto do palco os mais distraídos, e foi numa chuva de covers que Eddie Vedder deu início ao espetáculo. Desde Pink Floyd a Neil Young, muitos foram os artistas que Vedder cantou na passada sexta-feira. Para quem há muito ansiava por Pearl Jam, ter neste concerto uma enxurrada de músicas da banda foi talvez um ponto positivo, ainda que num formato mais acústico e intimista, sabe sempre bem ouvir e cantarolar aqueles temas que há mais de duas décadas nos acompanham diariamente e que marcaram toda uma geração. É de ukulele na mão que Eddie segue para o aclamado álbum a solo “Ukulele Songs”. Deste ouvimos as primeiras 3 músicas – ‘Can’t Keep’ um original de Pearl Jam, ‘Sleeping By Myself’ e ‘Without You’. Ainda ao som do ukulele, Cat Power sobe ao palco para acompanhar Vedder na belíssima ‘Tonight You Belong To Me’ de Irving Kaufman.

Deixando de lado o ukulele e voltando à acústica, ouve-se ‘The Needle And The Damage Done’, do enorme Neil Young. Um dos pontos altos da noite deu-se ao som de ‘Just Breathe’, onde as vozes se fundiam numa só e o ambiente, também influenciado pela decoração do palco, nos parecia crer que estávamos a assistir a um concerto na nossa sala de estar. Entre várias conversas informais com o público, o músico falou-nos do seu carinho pelo nosso país e da paixão pelas nossas excelentes praias para a prática do surf.

A banda sonora de “Into The Wild” também constou no repertório com os temas ‘Guaranteed’, ‘Far Behind’ e ‘Rise’. O tempo voava e já íamos a mais de uma hora de concerto quando Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) se juntou a Eddie Vedder para juntos tocarem Bob Dylan, com o tema ‘Masters Of War’. A guerra tornou-se, devido aos recentes acontecimentos, num dos temas mais comentados nos últimos dias, mas não é à toa que Vedder a menciona. Desde sempre que o seu nome sempre esteve relacionado com causas humanitárias, sociais e ambientais, e em resposta a um apelo feito pela banda no seu site, vários cartazes que diziam «PEACE» ergueram-se no ar ao som de ‘Imagine’ de John Lennon, que foi cantada em uníssono pelo público, num daqueles momentos tocantes que a todos emocionou.

«Disseram-me que eu tenho permissão para ficar a tocar o tempo que eu quiser», disse Eddie Vedder com um sorriso, e lá ficou a tocar mais uma mão cheia de temas da banda de Seattle. ‘Black’ foi outro dos pontos altos, onde Vedder deixou o público a cantar por sua conta. ‘Hard Sun’ veio depois do encore e ‘Rockin’ In The Free World’, de Neil Young, foi o remate final que sublinhou a mensagem que Eddie Vedder quis deixar como mote nesta passagem de mais de duas horas pelo Meco. Parece que as horas de espera valeram a pena, neste que foi um concerto que, mesmo tocado para milhares de fãs, pareceu ser apenas para 3 ou 4 pessoas, de tão natural e íntimo que se fez sentir.

Já passavam das 4h quando a dupla nova-iorquina Sleigh Bells finalmente entrou em palco para apresentar o seu mais recente álbum “Bitter Rivals”. Num concerto flash, forçadamente, uma vez que a banda tinha voo marcado para as 7h da manhã, tocaram sem cerimónias o seu distinto noise-pop, numa atuação que apesar de curta foi das melhores do dia. ‘Minnie’, do recente trabalho, ouviu-se em primeiro lugar, e uma explosiva Alexis Krauss mostrou-se ao público, dando tudo o que tinha e contagiando a todos com o seu vibrante carisma. Derek Miller ia acompanhando energeticamente na guitarra, mas as atenções centravam-se quase sempre na bela Alexis. “Reign Of Terror” e “Treats” marcaram também presença com os temas ‘Comeback Kid’ e ‘Infinity Guitars’. O tempo já tinha acabado, mas acedendo à vontade do público a banda generosamente toca ‘A/B Machines’. Os instrumentos já estavam a ser rapidamente retirados do palco, mas Alexis volta subitamente para, à capela, cantar juntamente com o público ‘Rill Rill’, num gesto que foi sem dúvida dos melhores momentos da noite. Despediram-se com tristeza, mas fica a vontade de os ter cá num futuro próximo.

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Dia 19 de Julho

Estávamos então no último dia do Super Rock Super Bock, talvez o único que fizesse mais jus ao nome «Super Rock». Depois dos incidentes do passado dia faziam-se figas para que nada arruinasse a grande noite que tinha pela frente os esperados concertos de The Kills, Foals e Kasabian. O início estava marcado para as 19h no palco principal com um tributo especial a Lou Reed.

Zé Pedro e Amigos surgiu num convite do Super Bock Super Rock para homenagear o grande ícone da música que nos deixou em Outubro do ano passado. Zé Pedro (dos Xutos e Pontapés, para os mais distraídos) reuniu-se com o seu ‘gangue alternativo’, os Ladrões do Tempo, e convidou também outros nomes bem conhecidos do panorama musical português como Lena D’Água, Jorge Palma, Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), Frankie Chavez e Tomás Wallenstein (Capitão Fausto). Juntos foram percorrendo um repertório que destacava os principais temas da carreira de Lou Reed, tanto a solo como enquanto vocalista dos Velvet Underground. Só faltava a moldura neste belo quadro porque tela também já tínhamos, e essa estava a ser pintada pelo graffiter português RAM, que ao som de “Sweet Jane” e “Femme Fatale” nos deixou um belo retrato do músico norte-americano que poderá ser visitado na Casa da Música, no Porto.

No palco EDP já se podiam ouvir as guitarradas graves dos The Big Church Of Fire. Naturais de Lisboa, trazem-nos um rock ’n’ roll que mergulha nas raízes do blues e do western folk, trazendo-nos um som bem à anos 50 e 60, com toda a frescura que a capital pode oferecer.

Sobretudo conhecido por ser o guitarrista e teclista dos The Strokes, Albert Hammond Jr.veio também marcar a sua presença na festa dos 20 anos do festival do rock. Com um recinto mais pobre do que se esperava, o californiano foi descarregando temas do seu último álbum ‘¿Cómo te LLama?, que já data de 2008, intercalando com outros como “Everyone Gets a Star” e “Back To The 101” da sua estreia a solo em 2006. A cover de “Ever Fallen in Love”, dos Buzzcocks, foi possivelmente o pico mais alto de uma actuação que no geral pouco cativou o público.

Subindo novamente o recinto, encontramos uns Skaters a rockar já prego a fundo. Vieram quebrar o ambiente mais nostálgico deixado pelos The Big Church Of Fire e com apenas dois anos de existência já se mostram grandes em palco. ‘I Wanna Dance (But I Don’t Know How)’ pôs a dançar até os mais adormecidos e depois de uma boa viagem pelo seu recente álbum “Manhattan” fomos atraídos novamente para o palco Super Bock.

O motivo, esse dispensa muitas apresentações. A irreverente Alison Mosshart, acompanhada por Jamie Hince na guitarra, marcava a sua presença em palco. São eles os The Kills, considerados uma das melhores duplas do rock ‘n’ roll contemporâneo. E para os mais sépticos, bastou-lhes ver para crer, numa atuação que teve tudo, do início ao fim. O fundo tigresa já adivinhava a prestação de Alison, que parecendo uma gata assanhada, ia transmitindo uma energia estrondosa ao público e a todos agarrava com o seu entusiasmo. Do último álbum, “Blood Pressures”, pudemos ouvir “Future Starts Slow”, “Heart Is A Beating Drum” e “Satellite”, numa performance aonde “aborrecimento” ou “estagnação” não fizeram parte do dicionário. ‘Monkey 23’, do álbum de estreia, é a derradeira despedida destes monstros de palco, e é com o nosso sangue a pulsar nas veias que vamos nos entregar ao charme de mais uma dupla, mas esta nacional.

Estamos a falar obviamente de Dead Combo, dupla alfacinha que há muito que dá que falar dentro e fora de fronteiras. Donos de um blues sensual, carregado de ritmos latinos e outros bem portugueses, somos levados ao velho oeste com uma mistura de western que nos remete aos filmes de cowboys mas que de repente nos traz às ruas dos bairros de Lisboa. Numa atuação mais personalizada para condizer com o nome do festival, trouxeram com eles o baterista Alexandre Frazão para oferecer ritmos mais eletrizantes às guitarras de Tó Trips e Pedro Gonçalves. No fundo do palco podia-se ler “A Bunch Of Meninos”, título do sucessor de “Lisboa Mulata” que os lançou internacionalmente. Entre ‘Miúdas e Motas’ e ‘Cachupa Man’, fomos levados no universo único e inimitável que estes senhores criaram há mais de uma década atrás. A magia de Pedro Gonçalves tanto no piano como no contrabaixo é nos trazida conjuntamente pelo santuário que embelezava o palco, entre caveiras e rosas e um dinâmico jogo de luzes. Uma ‘Sopa de Cavalo Cansado’ é servida ao público, mas muitos são forçados a abandonar o recinto antes do final, condicionados pelo concerto no palco Super Bock Super Rock que infelizmente se sobrepunha. Descemos então rumo àquele que seria um dos concertos da noite.

O relógio marcava 23h20. Estava na hora de Foals. Depois da recente passagem pelo Coliseu em Outubro do ano passado, a banda de Oxford voltava a pisar um palco português, desta vez num recinto aberto. ‘Prelude’ é o tema #1 que abre este novo LP “Holy Fire”, e foi também o tema escolhido para se abrirem as cortinas do palco, neste que seria um espectáculo digno de vénias. Os seus anos de estrada não são muitos, mas são merecedores de todos os aplausos oferecidos. O tema ‘Balloons’ do seu primeiro disco tocou de seguida e escusado será dizer que os momentos mortos foram poucos ou nenhuns. Estes 5 britânicos sabem sem dúvida como agarrar multidões e fizeram-no ao som de ‘My Number’, um dos temas mais tocados nas rádios nos últimos tempos. Com ritmos vibrantes, o seu rock absorve o melhor do indie ao techno e somos invadidos por ‘Providence’ que causou a loucura quando o vocalista Yannis Philippakis desceu até junto do público, a tocar, e se jogou para cima de milhares de mãos que o agarraram no seu louco acto de crowdsurfing. De volta ao palco, ‘Spanish Sahara’ acalmou os ânimos e devolveu a muitos o seu fôlego. A três músicas do fim, ‘Inhaler’ marcou a sua presença, mas a energética ‘Hummer’ do primeiro EP causou o maior frenesim. «Portugal, you were badass!», exclamou Philippakis antes de ‘Two Steps, Twice’ ser cantada em coro por um público que não se poupava nos saltos e estava agora em êxtase para receber os cabeças de cartaz da última noite.

A tarefa dos Kasabian não era fácil, mas podemos adiantar que foi cumprida. Vieram nos oferecer uma setlist repleta de novidades fresquinhas do seu recente álbum “48:13”, a começar logo com ‘bumblebeee’. A motivação para a dança instalou-se com ‘Shoot The Runner’ e uma passagem pelos 5 álbuns de estúdio da banda ia-se fazendo de forma intercalada. ‘Days Are Forgotten’ também causou o esperado coro no refrão e foi sucedida pela divertida ‘eez-eh’ que levantou poeira no recinto, num ambiente animado onde se vivia apenas o agora. Não era de estranhar o entusiasmo que se vivia no recinto, não apenas por ser o último dia, mas pelo facto da banda de Leicester ser bem conhecida pelos seus poderosos concertos ao vivo onde o melhor do seu rock se mistura com a eletrónica e nos oferece uma divertida pista de dança. Embalados no ritmo, foi assim que continuámos ao som de ‘Club Foot’, que nos levava até 2004, altura em que os Kasabian se mostravam ao mundo. A surpresa de uma ‘Praise You’, original de Fatboy Slim, deixou todos admirados, e foi ao som de ‘L.S.F’ que os Kasabian abandonaram o palco. Mas desengane-se quem pensou que a festa acabava ali. Depois de uma curta pausa, Tom Meighan volta ao palco seguido de Sergio Pizzorno e a restante banda para nos brindarem com mais 3 temas. On fire foi exatamente como ficámos depois da brilhante ‘Fire’ ter despoletado um mar de diversão, onde permanecer com os pés no chão era tarefa difícil. ‘All You Need Is Love’ foi nos cantado à capela, e mais uma vez, tal como Eddie Vedder tinha feito na noite anterior, Tom Meighan quis deixá-lo como mensagem para nos lembrar que não é preciso muito para sermos felizes.

Para os mais resistentes a festa ainda continuava pela noite fora na tenda da Antena 3 com os Batida a aquecer a noite com os seus ritmos quentes de kuduro vindos diretamente de Angola. Esperavam-se ainda largas horas de música com vários DJ’s para quem quisesse combater as insónias ou então descarregar as últimas baterias. Mas foi no palco EDP que terminámos em grande o nosso último dia no Meco, com a atuação do quarteto invulgar C2C. Pfel, 20Syl, Atom e Greem decidiram juntar-se para mostrar ao mundo a sua arte do turntable que abraça géneros que vão do breakbeat ao electro passando pelo hip-hop ou até mesmo jazz, numa performance fenomenal aliada aos efeitos visuais que nos iam prendendo a atenção. Mais que um grupo de DJ’s a girar discos e a introduzir efeitos, os franceses C2C são uma energética força que incendeia qualquer espaço.

Fecha-se assim mais uma edição de Meco, Sol e Rock ‘N’ Roll. Para o ano há mais, assim se espera.

Fotografia e Texto: Rute Pascoal