Madredeus @ CCB, 12/12/13

Eis os Madredeus no CCB, os Madredeus de “Essência”, título adequado a um projecto que já sofreu diversas metamorfoses mas mantém uma identidade e um lugar muito únicos, não só na música nacional como no panorama internacional também. “Essência” não é um álbum de originais. Antes, serve de ponte entre os velhos e os novos Madredeus, introduzindo a nova formação às suas tonalidades clássicas, e trazendo estas para um novo modo de estar e sentir a sua música.

E estas harmonias, acompanhadas agora com dois violinos em acréscimo ao violoncelo, sintetizadores e guitarra clássica, ganham uma nova dimensão no centro da qual está Beatriz Nunes, jovem que dá voz ao renascimento de uma banda cuja ausência de mais de três anos deixou saudades nos fãs. Afinal, há coisas que são verdadeiramente insubstituíveis.

Ao palco, sobem com a nobreza e calma bela que tanto os caracteriza, mesmo antes da magia da voz de Beatriz nos inundar os ouvidos e chegar até à alma. Não haja dúvida de que estabelecer comparações seria algo tremendamente injusto, porque Beatriz tem uma voz cristalina e irrepreensível, bem capaz de transportar as palavras para o mundo da melodia musical e fazer justiça à herança dos Madredeus.

Simpática e contida, e com a prestação segura de quem ainda tem potencial a desenvolver, mas já acumula grande experiência, Beatriz interpretou com mestria clássicos como “Ao Longe o Mar”, “Estrada da Montanha” ou “O Pastor”, induzindo a plateia num onírico embalar que mostrava uma herança valiosa a caminho dum novo século.

Depois deste concerto no Centro Cultural de Belém, aguardam-se os próximos desenvolvimentos nesta nova fase dos Madredeus. Beatriz Nunes faz um trabalho louvável na interpretação dos temas da sua nova banda, e conseguiu aguçar-nos a curiosidade para ver como se sairá em temas compostos a pensa na sua voz. Porque se há algo que esta formação merece é não ficar presa à memória da incomparável Teresa Salgueiro.

Para terminar, em meu nome e da Ruído Sonoro, deixo os nossos agradecimentos à Uguru pelas condições que nos concedeu para fazermos esta reportagem.

Texto e Fotografia: Marco Trigo