Decorreu de 10 a 13 de Outubro a nona edição do OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro, onde se destacaram nomes como Kevin Drumm, Steve Gunn, RED Trio, MAN Forever, Rodrigo Amado, entre outros. A RUIDOSONORO esteve presente em dois dias do certame da Margem Sul, mais especificamente nos dias 11 e 12, onde se pôde dar conta de sonoridades entre o folk, o drone e a música experimental, ao contrário dos outros dos restantes dias em que o jazz era dominante.
11 de Outubro – Steve Gunn + Helena Espvall
Passava um pouco da hora marcada quando o violoncelo de Helena Espvall se fez ouvir no Teatro Municipal do Barreiro. Originária da Suécia, embora actual residente na cidade de Lisboa, tem trabalhado em parceria com diversos nomes da música mundial e fez, inclusive, parte do grupo de folk psicadélico Espers. A sua actuação trouxe um misto de melodias sobrepostas em loop e improvisações, transmitindo uma espontaneidade cuidada. Apaixonante na forma como se deixava levar, Helena conseguiu ser doce e ácida em simultâneo através da sua ruidosa e melódica sonoridade, provocada do modo mais puro do seu interior, que só a própria conseguirá justificar. Seguia-se um discreto Steve Gunn. A introdução algo livre de rótulos do seu estranho e bonito folk cativou a atenção dos presentes antes que a sua voz atingisse o microfone. Bem humorado, mas algo fechado, esboçou alguns sorrisos na forma como apresentava as faixas que nos remontam à mística urbana dos Estados Unidos. As seis cordas da sua guitarra acústica amplificada e o seu slide libertaram aplausos sinceros de uma demonstração clara de como soariam as paisagens da nova América. A noite não poderia ter terminado melhor – Helena Espvall regressa ao palco acompanhada do seu violoncelo e, juntos, projectaram uma exótica diversidade de sons graves e agudos que será lembrada pelos que testemunharam.
12 de Outubro – Kevin Drumm + Helm
Esta noite, inserida nas celebrações do 27º aniversário da Junta de Freguesia do Alto Seixalinho, teve lugar no Convento da Madre de Deus da Verderena e a sala escura que recebeu as actuações de Helm e Kevin Drumm revelou-se cedo um cenário ideal para ser preenchido pelas suas vibrações. Luke Younger, sob o nome de Helm, trouxe às paredes do convento um som orgânico que se tornou cada vez mais negro enquanto os minutos passaram. Os ritmos escondidos no fundo do turbilhão de imagens que as suas camadas de som provocavam faziam tremer todos os presentes que lotaram este dia do evento, algo que se deve adivinhar quando a expressão pós-industrial é algo que assenta à criatividade do músico que recentemente lançou “Impossible Symmetry” e que agora consumou a sua estreia em solo nacional. Também em estreia em Portugal esteve Kevin Drumm. A sua importância no espectro da música experimental do início do século faz crer que a sua actuação perdeu apenas por tardia, mas Kevin e o seu Macbook souberam tratar de colmatar esse facto. O ambiente instigava à criação das nossas próprias imagens, de olhos fechados ou abertos, e facilmente nos levavam pela imaginação fomentada pela atmosfera que progressivamente desenvolveu. Se o início do seu concerto se mostrou quase inofensivo, as dissonâncias finais e as vibrações claustrofóbicas que a sua barreira de som criou deram perfeitamente para um estudo intensivo da capacidade neurótica de cada um e da resistência das paredes de que o Convento da Madre de Deus da Verderena é constituído.
Reportagem por Rute Pascoal e Nuno Bernardo.
Fotografias por Nuno Bernardo.