Dernière Volonté
Martial Pop/Minimal Wave – FrançaO segundo dia de concertos começou de forma manifestamente mais enérgica que o primeiro. De facto, parece-me até que os Dernière Volonté não eram a banda mais indicada para aquela hora do dia e para aquele palco, mereciam algo mais aberto e com mais público, mas olhando para o cartaz, não havia outra forma de os encaixar. Foi sem surpresa, dada a sua emergente popularidade, que a Igreja de Pena encheu até aos limites, para o único concerto em francês do Entremuralhas.
A banda justificou a qualidade que lhe é atribuída de boca em boca, mostrando uma sonoridade potente e ritmada, com uma percussão provocante, que tão bem assenta na componente lírica. Numa mistura de pop militarista e sons electrónicos modernos, com pedaços mais neoclássicos e minimalistas, foi sem surpresa que o público, em comparação com o concerto do dia anterior de Jo Quail, manifestou maior movimento e entusiasmo, dançando ao som das contagiantes melodias dos refrões.
Dada a enorme afluente de pessoas no Palco Igreja da Pena, não consegui ver o concerto nas condições que desejava, pelo que espero por uma nova oportunidade de os ver ao vivo em terras lusas. Se cá voltarem, terão decerto uma plateia bem composta.
Setlist: [em actualização]
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Daemonia Nymphe
Ethnic/Neoclassical – GréciaOriundos de Atenas e fiéis à sonoridade típica da Grécia Antiga, os Daemonia Nymphe foram, provavelmente, a melhor surpresa desta edição do Entremuralhas. Subindo a palco à hora marcada (um falso prenúncio de um dia sem atrasos), a banda criou logo um positivo impacto inicial, com trajes regionais típicos e máscaras teatrais usadas pelas duas vocalistas. Nos primeiros temas, foi sobretudo marcante a voz poderosa do seu mentor Spyridon Giasafakis, sendo que a certo ponto a sua participação nas músicas passou a ser exclusivamente instrumental e deu lugar a um jogo entre a voz rasgada e delirante de Evi Stergiou (à esquerda no palco) e a mais doce e cristalina de Maria Stergiou (à direita). Duas vozes bastante diferentes, que se completam na perfeição.
De destacar o facto de todos os instrumentos usados pela banda serem autênticos e característicos da região grega. Com eles, a banda criou uma atmosfera que nos fez viajar até ao Monte Olimpo, à invocação de Deuses e Deusas, aos coliseus e palcos de teatro, à filosofia e ciência, a toda uma diversidade cultural riquíssima de um dos principais berços da civilização. Esta diversidade de emoções e temáticas foi bem acompanhada por um instrumental igualmente variado, desde temas mais atmosféricos e celestiais a outros mais mexidos e dançáveis, tudo orquestrado em sintonia.
Não consigo destacar melhores momentos neste concerto, porque a setlist foi bem ponderada e distribuiu de forma homogénea os temas mais interessantes. Ao contrário dos Stellamara no dia anterior, quase ninguém arredou pé do concerto dos Daemonia Nymphe, parecendo-me até que houve pessoas que pareciam inicialmente desinteressadas e acabaram por se deslocar ao Palco Alma, para apreciar melodias de contagiante mistério e beleza. Sem dúvida mais um momento mágico que a Fade In tornou possível, um concerto memorável e uma abertura interessante para Kim Larsen e companhia.
Setlist: Intro | Daemonos | Dios Astrapaiou (Psarantonis) | The Calling Of Naiades | Metamorphosis (Transformation) | Divine Goddess Of Fertility | Sirens Of Ulysses | Politeia | Oneiro | Divined By Trophonios | Summoning Divine Selene | Nemesis | Dance Of The Satyrs | Ecstatic Orchesis | Tyrvasia | Hymn To Bacchus
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Of The Wand And The Moon
Neofolk/Dark-Western – DinamarcaSe os Rome são ainda um projecto emergente de neofolk, os Of The Wand And The Moon, com mais 7 anos de existência, são já um nome incontornável para os fãs do género. Com uma sonoridade diferente dos primeiros, mas com a mesma base experimentalista influenciada por folk, neoclassical e industrial, Kim Larsen faz questão de criar melodias viciantes e temas superficialmente simples, mas complexos no pano instrumental de fundo.
O dia prometia não ter atrasos, pela pontualidade das duas bandas anteriores, mas tal não se verificou. Inesperados problemas técnicos com o som atrasaram em quase meia hora o concerto, voltando, infelizmente, a ser a banda de neofolk do dia a sacrificada na setlist. Foi já perto das 23 horas que se ouviu a imponente entrada A Cancer Called Love, completamente diferente dos restantes temas da banda. Foi notório nas primeiras músicas que o som ainda não estava a 100%, sendo que só a partir de Hold My Hand se conseguiu ouvir com nitidez todos os instrumentos e a voz calma, quase sussurada, de Kim.
Apesar de todos estes contratempos e da curta duração do concerto, no qual foi dado destaque a temas do último álbum, The Lone Descent, a banda conseguiu criar uma hora de grande intensidade e colmatou as falhas alheias à banda com profissionalismo. Num concerto que atraiu muita gente, destaca-se o monstruoso I Crave For You e o melancólico We Are Dust. Foi pena não termos tido tempo para ouvir mais clássicos, mas ponderando todos os contratempos, o concerto foi o melhor que se poderia esperar.
Setlist: A Cancer Called Love | A Pyre Of Black Sunflowers | Absence | Tear It Apart | Hold My Hand | My Devotion Will Never Fade | Immer Vorwärts | I Crave For You | Watch The Sklyine Catch Fire | My Black Faith | Sunspot | We Are Dust | The Lone Descent
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The Beauty Of Gemina
Darkwave/Gothic Rock – SuíçaOs The Beauty Of Gemina eram, de todas as bandas do Palco Corpo, a mais desconhecida. A verdade é que acabaram por justificar o porquê de não terem o sucesso das outras, e o facto de serem muito mais jovens que qualquer uma das outras não é desculpa suficiente. Confesso que não os conhecia antes de os ver no cartaz, mas antes de ir para o Entremuralhas fui pesquisar e gostei bastante dos temas que ouvi. Foi por isso com enorme desalento que assisti a uma setlist fraca, mal pensada, que tornou o concerto disconexo e não explorou nem metade do potencial de estúdio da banda.
A qualidade instrumental estava lá, a voz de Michael Sele era profunda e adequada aos temas, a imagem da banda e a interacção com o público foi boa. Mas sempre que o concerto parecia estar a evoluir, com bons temas como Shadow Dancer, Suicide Landscape e Rumours, era logo de seguida cortado por uma música menos interessante. A falha no microfone no quinto tema, Kings Men Come, também não ajudou à festa.
Não quero com isto dizer que foi um desperdício de tempo este concerto. Acho que o maior problema foi a drástica diferença de qualidade para com as outras bandas do Palco Corpo, qualidade essa que a Fade In colocou ao mais alto nível e que os The Beauty Of Gemina não acompanharam (nem poderiam acompanhar, face ao seu repertório ainda reduzido). Foram bons, mantiveram uma boa porção de público interessado, mas não aproveitaram da melhor forma a oportunidade. Gostava de ter ouvido uma balada pelo meio, e gostava ainda mais que o tema The Lonesome Death Of A Goth DJ não tivesse aparecido. Acho que a banda fica a dever aos portugueses um concerto como deve de ser, porque têm potencial para algo muito superior.
Setlist: Voices Of Winter | Golden Age | This Time | Shadow Dancer | Kings Men Come | Prophecy | Suicide Landscape | Last Night Home | Dark Rain | One Step To Heaven | Rumours | Seven-Day Wonder | The Lonesome Death Of A Goth DJ | Badlands | Kingdoms Of Cancer
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VNV Nation
Electro/Future Pop – InglaterraA encerrar o Entremuralhas 2012 tivemos um ícone incontornável da música electrónica alternativa, o famoso duo composto por Ronan Harris e Mark Jackson, uma banda super optimista e de energia mais que positiva, cujo mote é “devemos batalhar para alcançar o que queremos, e não ficar sentados em amargo arrependimento”. A Victory Not Vengeance Nation deu ao final do festival um toque de supremo bem-estar e ritmo intenso, sendo praticamente impossível resistir à vontade de dançar e cantar com eles os refrões dos grandes clássicos da banda.
Num concerto onde o duo visitou um pouco de toda a sua discografia, de salientar o incansável Ronan Harris em palco, que transformou os temas em verdadeiros hinos à felicidade, força de vontade e a tudo de positivo que nos rodeia. Depois de um início intenso, a balada Illusion deu-nos o único momento de descontracção do concerto, de cortar a respiração, profundamente marcante. Para mim, o momento mais intenso de todo o festival. Nem os problemas técnicos no sistema de luz tiraram brilho a uma prestação imaculada da banda, nem o vocalista deixou que o público esmorecesse por um segundo que fosse. Sempre a exigir interacção e efusividade, Ronan conseguiu levar a plateia ao êxtase e pôs toda a gente a dançar como nunca se viu no Entremuralhas.
O concerto acabou com um tema que ficará perpetuamente gravado na memória dos presentes, Perpetual, tendo toda a gente cantado “let there be, let there always be, neverending light” até à exaustão. No final, ninguém arredou pé à espera de um encore, mas já passava das 3 da manhã e não havia licença para mais. Foi com alguma perplexidade que o público assistiu a Ronan Harris sair do palco, passar ao lado da multidão, que esperava mais um tema, enquanto tirava o seu cigarro e sair do castelo. Não sendo o final que se esperava, foi decerto um episódio caricato e inesquecível.
Setlist: [em actualização]