Best Youth no Teatro Maria Matos. A melhor juventude no regresso pós-pandémico

Após uma primeira noite esgotada na Casa da Música, no Porto, foi no passado dia 22 de setembro que a dupla Best Youth rumou à capital para uma actuação, também lotada, no Teatro Maria Matos.

A mais recente renovada casa de Lisboa, tem vindo a receber diversos eventos com as adequadas condições de higiene e segurança essenciais às exigências da atualidade, no que respeita à Covid-19. Apesar da noite encoberta e das primeiras gotas de chuva desta nova estação, era visível a sede musical dos espectadores que ali marcaram presença.

Foi Ed Rocha Gonçalves o primeiro a entrar em palco, abrindo caminho a Catarina Salinas que, sob uma luz vermelha, nos relembrou a preciosidade da sua voz ao avançar com “Red Diamond”. Além da voz doce e suave de Catarina, era alternando entre a guitarra eléctrica, o piano do lado direito e as teclas do lado esquerdo, que Ed percorria o palco e o seu repertório com temas como “Feelings”, “Coincidence” ou “Highlights”. O seu guarda-roupa sempre elegante e cuidado, desta vez branco e azul, formava um jogo de luzes que embevecia o público. As sombras no fundo preto mostravam as danças dos dois artistas em palco, revelando a sua cumplicidade. Sendo esta a primeira vez no Maria Matos, falaram das saudades das actuações ao vivo bem como do público lisboeta, e agradeceram o facto da sala estar cheia, principalmente nos tempos que correm.

Catarina foi intercalando os seus habituais movimentos de dança com momentos de calma e respiração profunda. Esta apresentação mais simples, mas essencialmente mais bonita, fez-nos integrar cada nota tocada e cantada em canções como “Black Eyes”. Inevitável foi abordar a questão mais presente e mencionar a sua ocupação durante a quarentena: «A única coisa que conseguimos fazer foram as chamadas video letters». Abriram espaço para um novo momento da actuação, recorrendo às suas versões de “Harvest Moon” (de Neil Young), “My Favourite Game” (de The Cardigans) e “1979” (de The Smashing Pumpkins), trazendo à lembrança algumas das influências da sua adolescência e do seu percurso enquanto dupla.

Foi com um sentimental e honesto pedido expresso de Ed que anteciparam alguns dos mais sentidos momentos mais bonitos da noite: «De zero a vinte quão chato é ver concertos assim? Por favor, sorriam com os olhos o mais que puderem!». Aumentando a proximidade intergeracional com o público, fizeram um convite à sua interação nas covers de “Take My Breath Away” (Berlin) e “Wicked Games” (Chris Isaak), esta última repleta de romantismo e sensualidade, que fizeram os presentes vibrar. Aos primeiros ‘a-a-a’ de “Never Belong”, o seu mais recente single, o público acompanhou com palmas. Recuaram mais tarde até aos sucessos “Midnight Rain” e “Part of the Noise”, lançando um movimento disco, com barras de luzes a acender. O público, com vontade de dançar, fez parecer os lugares nas cadeiras pequenos para um simples abanar de ombros.

Terminaram com “Nightfalls” e mais que qualquer outra coisa, seja pelas saudades ou não, a dupla pareceu divertir-se em palco, tornando o concerto não só de e para o público, mas também para os próprios. O encore fez-se com “Maybe We Can Still Be Friends” e “Mirrorball”, esta última reinventada no final apenas com voz e piano.

Para satisfazer um pouco mais a sede de concertos, a dupla regressou ainda para o segundo encore agradecendo a presença e referindo, a sorrir, «Isto é só se vocês quiserem, não há aqui ninguém a fazer favores a ninguém!». Tocaram assim “Hang Out” só com voz e piano, para a despedida. Que bela maneira de receber este outono.

Texto: Ana Margarida Dâmaso
Fotografia: Ana Ribeiro