Gator The Alligator: “Vamos sempre procurar evoluir musicalmente”

Os Gator The Alligator são um dos novos sucessos do garage rock com uma forte componente de rock progressivo. Para além do seu êxito, o jovem grupo de Barcelos tem conseguido obter reconhecimento comercial, na rádio. Tal sucesso é pouco comum numa banda deste género musical, aqui em Portugal, mas a banda conseguiu tornar a sua personagem “Gator” num sucesso de vendas e de publicidade. Neste contexto de pandemia, sentámo-nos com os Gator para sabermos mais sobre a sua carreira e futuro.

O vosso projecto inicia-se em 2018 com um single muito especial “Sleep All Morning”. Falem-nos do vosso percurso até à fundação da banda e como surgiu o lançamento desta primeira faixa.

Nós somos todos de Barcelos e conhecemo-nos na escola. Tivemos projectos musicais antes, mas que acabaram por estagnar, o que fez com que se a abrisse a oportunidade de experimentarmos fazer uma jam nós os quatro. Ao fazer essa jam, começámos a perceber que o nosso som se ligava bem, o que nos deu vontade de fazermos mais jams até que surgiu a oportunidade de darmos um concerto. Aí arrancamos com os Gator. A “Sleep All Morning” é lançada pela necessidade que tínhamos de ter conteúdo digital, tendo em conta que começámos a ter mais concertos e era necessário mostrar um pouco daquilo que era o nosso som na comunicação dos eventos.

 A pergunta da praxe, mas inevitável. Sendo os Gator, The Alligator uma banda garage rock com fortes toadas no progressivo, que bandas vos inspiram para criarem a vossa música?

Temos muitas bandas que nos inspiram de muitos estilos diferentes, nunca nos quisemos prender a nenhum estilo, porque não nos queremos limitar criativamente. O nosso som acaba por ser consequência da mistura daquilo que é a nossa identidade individual enquanto músicos.

Após o sucesso da óptima faixa “Sleep All Morning”, os Gator embarcam numa verdadeira aventura conceptual para criarem a vossa personagem de elite, o Gator, que baptiza o vosso projecto. A Outubro de 2018, lançam o vosso primeira longa-duração “Life Is Boring” que acaba por surgir como uma chamada de atenção às rotinas do dia-a-dia. Essa vertente electrizante e combativa do disco prolonga-se pelo álbum, deixando um rasto premente nos ouvidos dos ouvintes. “Life Is Boring” foi o álbum certo, no momento certo no país certo, tendo em conta as vossas tendências quase anti-sistema?

O Life Is Boring é um álbum que aborda temáticas do quotidiano e sentimentos que fazem parte daquilo que é a vida, por isso, de certa forma vai ser sempre o “momento certo” para um álbum como este. Quisemos abordar os sentimentos que todos temos que acabam por tornar a vida um pouco previsível e cíclica. O Life Is Boring representa-nos a todos, sendo uma bola de emoções a tentar perceber aquilo que é a vida, um dia de cada vez.

 Sentiram que o feedback do público português, quanto ao álbum, foi o esperado? Ou não estão muito interessados no impacto comercial nas rádios e afins, para já?

O feedback foi surpreendente! A reacção foi extremamente positiva e abriu-nos muitas portas e oportunidades. Nunca pensámos que fosse ter o impacto que teve, pelo menos, não desta forma. Fomos conseguindo ter algumas músicas a passar na rádio e esse era um dos degraus da escada que nós queríamos subir. Queremos levar a nossa música ao maior número de pessoas possível e a rádio desempenha um grande papel na divulgação de novos projectos.

A vertente demonstrada em “Sleep All Morning” é um nadinha modificada em “Life Is Boring”, já para não falar da componente conceptual, mas é óbvia a vertente mais heavy e progressiva do longa-duração. Sentem que essa evolução vos fez crescer musicalmente para um nível prematuro de maturidade?

A evolução da nossa sonoridade foi algo natural, quanto mais tocávamos, mais à vontade nos sentíamos e cada vez mais aprimorávamos aquilo que era o nosso som. Vamos sempre procurar evoluir musicalmente, individualmente e enquanto banda, de forma a conseguirmos explorar as possibilidades criativas como quisermos e também para manter a nossa música fresca tanto para o público como para nós.

Estão ligados à Gig., uma produtora conhecida por dar voz a bandas jovens e cheias de talento. Sentem uma evolução e maior responsabilidade no seio do grupo fruto desse mesmo compromisso? De que forma a vossa relação modificou o vosso trabalho?

Nós entrámos para a Gig. logo no início do projecto e, desde então, criámos um método de trabalho com comunicação regular que nos fez passar à fase seguinte, onde começámos a trabalhar de uma forma mais “profissional”. O resultado desse trabalho abriu muitas portas tanto para nós, Gator, como para a Gig. Criámos uma relação de amizade entre nós que nos faz trabalhar com um empenho diferente e com a vontade de nos ajudarmos uns aos outros a crescer.

Apesar da vossa tenra idade, como banda, o grupo já actuou em palcos verdadeiramente interessantes como o Bons Sons, o Super Bock em Stock e na excelência do Porta 253. Tendo em conta a pandemia que estamos a passar, as saudades dos festivais e dos concertos já devem apertar. Consideram-se animais de palco?

Nós gostamos muito de tocar ao vivo, porque conseguimos trazer um nível de intensidade diferente daquele que a audição do álbum traz. Tentamos cativar o público com as nossas performances ao vivo e sentimos falta disso. Somos uma banda que gosta da andar na estrada e, devido à situação mundial, não temos tido a oportunidade de o fazer, mas, mal seja possível fazê-lo, com segurança para todos, irão ver-nos por aí.

De que forma vos afectou a pandemia de Covid-19 e como continua a afectar os vossos lançamentos e agendamento?

Nós tínhamos o nosso álbum planeado para sair no início de Abril de 2020, mais ou menos um mês após a nossa EuroTour, com a “Feral Rush” a sair logo depois de chegarmos da tour. Com a pandemia, achámos que seria melhor guardar o álbum algum tempo até que definimos 30 de Setembro de 2020 como data de lançamento.

2020 não será um ano tão horrível no que toca à vossa evolução. Setembro vai ser mês de lançamento de novo longa-duração intitulado “Mythical Super Bubble”.  O que nos podem contar sobre o segundo lançamento de estúdio?

O Mythical Super Bubble é a procura das respostas para as perguntas que o Life Is Boring abriu. É a procura por um santo graal que resolva todos os problemas da vida do Gator e que todos nós temos. Mostra-nos aquilo que são os pensamentos e sentimentos do Gator, nesta jornada que se inicia no final do Life Is Boring com a aparição do “Demon”. É a evolução daquilo que é o nosso som para contar uma parte nova da história do Gator.

Gator continua a ter a rebeldia do primeiro disco e de que forma veem esta vossa mítica personagem a crescer neste novo álbum e nos que se seguem?

Gator encontra um desafio novo pela frente, desafio esse que enfrenta com a mesma rebeldia e com ainda mais força do que quando enfrentou a sua vida chata. Desta vez, o Gator está focado em resolver a chatice da sua vida, e para isso precisa de entregar a Mythical Super Bubble ao Demon. O Gator está pronto para enfrentar todos os desafios que este novo Universo lhe colocar à frente.

“Feral Rush” foi o tema de apresentação de “Mythical Super Bubble” , disco que se apresenta como um portento psicadélico cheio de toque progressivo pulverizado com uma sonoridade heavy q.b. que aumenta a fasquia da vossa música. Aliás, até lançaram um videoclip da faixa, tendo já lançado vídeos para “Yayaya” e “Spider”, do vosso álbum de estreia. “Feral Rush” resume a vossa ideia do conceito do novo disco ou ainda há muito para descobrir, não só em termos de conceito como de sonoridade?

A “Feral Rush” mostra um bocadinho daquilo que será a nova fase do Gator e mostra o seu primeiro desafio nesta jornada. Ainda há muito para descobrir! A sonoridade molda-se àquilo que queremos contar e transmitir em relação aos sentimentos do Gator ou da personagem esteja a “narrar” no momento.

Para além de álbum novo, que outras novidades podemos esperar dos Gator The Alligator?

Para além do álbum novo, estamos a tentar marcar algumas datas de apresentação do álbum pelo país. Tendo em conta a situação actual global, é muito complicado fazer previsões para aquilo que estaremos a enfrentar mais para a frente, por isso, é difícil marcar datas, no entanto, estamos a fazer tudo o que é possível para conseguirmos mostrar esta nova fase do Gator ao vivo.

Texto e entrevista: João Braga
Edição: Nuno Bernardo
Fotos: João Machado