Fast Eddie Nelson no AMAC. Entre Barrett e a Lua, a viagem foi mágica e única

Foi no passado sábado, dia 19, que tive o prazer de assistir a uma belíssima viagem no tempo. O local escolhido para esta jornada foi o Auditório Municipal Augusto Cabrita, no Barreiro, aplicando perfeitamente o conceito de viajar sem sair de casa.

Se foi possível existir um Dark Side of the Moon, Wish You Were Here ou Animals, foi porque antes existiram alguns álbuns que criaram os alicerces para que a música dos Pink Floyd levantasse voo para um público mais abrangente. No entanto, o período “Entre Barrett e a Lua”, nome deste concerto que se focou nos temas criados após a saída de Syd Barret e até ao lançamento de Dark Side of the Moon, é dos períodos mais ricos, exploratórios, arriscados e inovadores da carreira da banda londrina.

O desafio foi lançado pela OUT.RA a Fast Eddie Nelson, que trouxe consigo a sua banda que habitualmente já o acompanha em nome próprio: Quico (Bateria), João Alves (Baixo) e Rui Guerra (Órgão), com Luís Simões (Guitarra) a juntar-se ao grupo no final do primeiro tema.

Se existiam dúvidas que a banda estava à altura do proposto, essas foram dissipadas ao fim dos primeiros acordes. Não só o som da banda e de todos os instrumentos foi recriado de forma exímia, como toda a performance dos músicos foi formidável. Temas como “Let There Be More Light” fizeram-nos ir até ao final dos anos 60 e ao álbum A Saucerful of Secrets, que conta ainda com alguns temas cantados por Barrett, mas onde já se encontra a participação de Gilmour, que viria a ter uma grande influência no som da banda. Mas foi com temas como “One of These Days” e a magistral “Echoes”, faixa de 23 minutos do grandioso Meddle, que percebi que estava a assistir a algo único e que valeu cada segundo. Para acompanhar tudo isto, estava também uma projeção em palco com várias fotografias deste período, com Mason, Wright, Waters e Gilmour a “controlarem” aquilo que a banda estava a fazer e, caso tivessem vindo ao Barreiro, não iam ficar nada desiludidos com o resultado.

Ao fim de uma hora de concerto, o público estava em êxtase e rendido a esta enorme feito. Não só a banda conseguiu tocar de forma maravilhosa como todo o espírito e atmosfera da época estava ali em palco, bem vivo, tal como se estivéssemos em 1972. Não fossem as medidas restritivas e de distanciamento social impostas pela situação atual, que foram muito bem geridas por parte da organização, e ter-me-ia levantado, saltado e curtido ainda mais como acontece sempre que revejo o concerto de Pompeia.

Da minha parte, espero que o feito se repita. Foi, sem dúvida, a melhor hora de música ao vivo que vi este ano e só tenho que agradecer aos músicos o incrível espetáculo que proporcionaram a um AMAC bastante composto mas que mereciam um público ainda maior.

Texto: Gonçalo Cardoso
Fotografia: Pedro Roque/Eyes Of Madness