Após o anúncio de separação em 2002 e do regresso em 2012 para a celebração dos vinte anos de formação, foi no passado dia 6 de Dezembro que os Ornatos Violeta subiram à arena do Campo Pequeno para um regresso em pleno a Lisboa, num concerto a 360º, que deu uma volta completa nas lembranças de um passado tão próximo a tantos, agora com os vinte anos de O Monstro Precisa de Amigos.
O atraso de vinte minutos foi justificado com as enormes filas intermináveis que se estendiam em todas as portas desta praça, onde grupos de amigos se juntaram naquela noite de quinta-feira para beber uns copos e relembrar velhos tempos. «À nossa, pessoal», foi com esta deixa e um copo no ar que Manel Cruz se apresentou, brindando os presentes.
“Como Afundar” foi o mote para um mergulho nas profundezas internas de cada um que ali se apresentava de corpo e alma. Aos primeiros acordes da segunda música, “Tanque”, ouvem-se gritos de excitação e à terceira Manel tira, como habitual, a sua camisola para cantar “Pára de Olhar Para Mim”. Estava iniciada a viagem pel’O Monstro Precisa de Amigos.
Escusado será dizer que canções como “Ouvi Dizer” e “Chaga”, esta já mais tarde, foram cantadas pelo público na íntegra, palavra a palavra, de arrepiar, protagonizando entre elas um momento de humor em que Manel Cruz apenas levantou os braços e bateu na sua barriga, como quem se diz sentir-se saciado.
Em “O.M.E.M.”, agarrados à estrofe «Foi tão bom para ti como foi para mim?», criou-se um momento enérgico em sincronia com o público, no qual Manel terminou deitado no chão a gemer. «Obrigada pessoal. Como se diz no norte e no sul, ’tá do caralho!», exclamou sem travar a língua.
Na onda de reviver bandas e artistas, fez referência aos companheiros Da Weasel, também num esperado regresso aos palcos, no próximo ano. E para o fim de uma primeira parte do concerto deixou-se “Dia Mau”, tudo aquilo que não tem sido para estes rapazes o reviver dos seus tempos áureos, em 2019.
A legião que os segue não se deixou enganar pelas despedidas e o adeus definitivo chegou apenas ao terceiro encore, onde incluíram “Chuva”, não prevista na setlist inicial, e a derradeira “Raquel”, deram termo ao concerto na capital, o último desta tour. Para trás ficou ainda “Punk Moda Funk”, “Débil Mental”, “A Dama do Sinal” ou “Dias de Fé”, provas passadas da celebração que é Ornatos Violeta e de um eterno namoro com o cancioneiro do rock português, que teima em não abandonar a ponta da língua dos milhares que esgotaram o Campo Pequeno.
Fotografia: Ana Ribeiro