Na passada noite de Halloween os dinamarqueses Iceage actuaram na Galeria Zé dos Bois em pleno Bairro Alto. Nesta casa em que a banda parecia ser aguardada há muito vieram apresentar o seu mais recente álbum antes de uma passagem por Guimarães, no festival Mucho Flow. Com uma sonoridade inicial mais juvenil e visceral a namorar com aspectos de punk, os Iceage embarcaram numa trajectória claramente direcionada à maturidade, visível em cada obra lançada, são notórios refinamentos composicionais e estilísticos que culminaram neste Beyondless.
Foi exatamente este trabalho que escolheram abordar durante a maior parte da duração do espectáculo, quase que para mostrar que cresceram e com eles a sua identidade. Com as poucas passagens por discos anteriores, como Plowing Into The Field Of Love e You’re Nothing, aceitaram que seu passado faz parte de toda a viagem ao mesmo tempo que deliciaram os fãs da sonoridade mais abrasiva com temas como “Ecstasy” e “White Rune”.
Ainda assim, o protagonismo foi deixado para os movimentos elegantes e vocais expressivos do vocalista Elias Rønnenfelt e também para os temas como “Painkiller” e “Catch It”, cujas vibrações subtilmente sombrias o acompanhavam. Os ritmos efusivos evoluíam e insinuavam um piscar de olhos ao jazz, construindo assim a base sobre a qual os restantes membros deitavam os seus tons únicos de guitarra e baixo que, com ajuda de alguns pedais, constituem o som que qualquer fã identifica como Iceage.
Tudo isto resultou em um espetáculo natural em que o calor habitual do aquário do ZDB proporcionou uma experiência intimista que se disfarçou e se integrou suavemente nesta noite de Halloween, culminando depois na festa temática no andar de cima.
Texto: Ricardo Silva