Quinze concertos para ver no NOS Primavera Sound 2019

Três dias, quinze concertos. Contas fáceis: são cinco por dia que recomendamos. O NOS Primavera Sound está mesmo a chegar – acontece já nos dias 6, 7 e 8 de Junho – ao Parque da Cidade do Porto e aproveitamos os últimos dias de antecipação para desenhar um roteiro de aconselhamento para quem parte para esta edição à descoberta. No topo do cartaz vislumbramos nomes como Solange, J Balvin e Erykah Badu, mas há muito mais para além dos headliners óbvios perto do final de cada um dos dias. A edição de 2019 desenha um perfil um pouco distinto daquele que caracterizou o festival desde 2012, ano da sua estreia, mas mantém-se o espírito de descoberta para uns e de afirmação para outros. A lista em baixo poderá ajudar a definir escolhas (ou complicá-las).

Spoiler alert: É claro e óbvio que Shellac é um dos nomes a ver nesta edição.

#01 Stereolab

Dez anos depois da sua separação em 2009, os franco-britânicos Stereolab (na foto de capa do artigo) reúnem-se dez anos depois para vários concertos – um deles será então no Porto. Pop vanguardista liderada por Tim Gane e Laetitia Sadier, os Stereolab formulam uma tese que vai do krautrock ao lounge com base em sintetizadores vintage e breves toques de funk, jazz e até bossa nova. São um dos grupos mais influentes dos anos 90 e actuam no primeiro dia do festival, no Palco Seat.

#02 Danny Brown

O rapper norte-americano Danny Brown é um caso quase singular no que toca às novas formas do hiphop. Já o escutámos em colaborações com Kendrick Lamar, Run The Jewels e The Avalanches nos últimos anos, mas é a solo que desenvolve uma lírica gélida e quase pós-apocalíptica, tendo muitas das suas influências no industrial e no post-punk de This Heat, por exemplo. É Detroit a resultar no hiphop da mesma forma que o faz no garage  e quase uma resposta virulenta dos States ao grime londrino – como comprovado em Atrocity Exhibition, lançado em 2017.

#03 Yaeji

Espírito livre da electrónica assim como é nas suas raízes. Kathy Yaeji Lee, ainda que nascida em Nova Iorque em 1993, cedo partiu para a Coreia do Sul, país de origem dos seus pais. Eventualmente “devolvida” aos Estados Unidos para desenvolver as suas artes e iniciar a sua carreira musical como DJ. Daí partiu para a produção que ostenta ao vivo, em concertos de formato híbrido em que sobrepõe a voz aos seus beats, tanto em inglês como em coreano. Uma mistura rica entre o hiphop, a pop e a tecno, Yaeji terá só para o fim da prmieira noite de Primavera Bits.

#04 Built to Spill

Surgidos no cartaz como substitutos após o cancelamento de Lizzo, os Built to Spill tornam conveniente a celebração dos vinte anos de Keep It Like A Secret, o passo definitivo da banda no sucesso entre a crítica e a vertente comercial – um autêntico clássico do indie rock que será visitado neste concerto sob as ordens de Doug Martsch.

#05 Allen Halloween

Letras directas, cruas e provavelmente uma das vozes mais representativas da vida suburbana. O rapper luso-guineense conta como ninguém o pesar da violência, da pobreza e das drogas, com um estilo agressivo e característico de voz grave e de flows lentos. No horizonte tem o projecto Unplugueto, ainda por lançar, mas faixas como “Crescer”, “Na Porta do Bar” e “Meu Querubim” dão uma fascinante continuidade à obra de Híbrido.

#06 Sons Of Kemet

O jazz não vive nem sobrevive com o passar das décadas. As suas mutações atingem diferentes graus de irreverência, mas existe um sítio especial onde colocar as fusões de Sons Of Kemet – é world music, é dub, é afrobeat, é grime, é soca, é tudo, tal como Shabaka Hutchings já nos habituou na sua outra banda, os The Comet Is Coming. Sons Of Kemet vão tocar no Porto em formato XL com quatro bateristas, incluindo Moses Boyd, para uma garantia de música desenfreada e gloriosa a favor do poder de todas as mulheres negras.

#07 Interpol

Há quase vinte anos atrás, quando os Interpol lançaram Turn On The Bright Lights, falou-se no ressurgimento do post-punk e de formas adormecidas de fazer rock. O que se seguiu nos anos seguintes, com a explosão do indie rock ancorado no post-punk, é história que já conhecemos. Com o passar de todos esses anos, mantiveram-se relevantes os Interpol. O trio formado por Paul Banks, Daniel Kessler e Sam Fogarino têm em Marauder, lançado em 2018, como o sexto capítulo da sua carreira para dar o primeiro concerto em Portugal desde 2015 – precisamente no NOS Primavera Sound.

#08 Shellac

Há duas coisas praticamente obrigatórias a cada NOS Primavera Sound: uma é conseguir que o Wandson Lisboa pague finos, a outra é ver Shellac. Podíamos reciclar qualquer texto sobre a banda residente do Primavera Sound, mas preferimos referir que a banda de Steve Albini, Todd Trainer e Bob Weston gozam de um som único entre o noise rock e o post-hardcore. Guitarra articulada, baixo demolidor e bateria feroz são ingredientes mais do que suficientes para um concerto incrível. Como sempre.

#09 Jambinai

Os sul-coreanos Jambinai, à semelhança de outras passagens por festivais no norte de Portugal, como o Milhões de Festa ou mais recentemente em Paredes de Coura, assumem o papel de momento espiritual ou xamânico do cartaz. A união do post-rock com a música tradicional coreana, incluindo instrumentos ancestrais como o piri, o geomungo e o haegeum, permite construir crescendos limpos com um sentido oriental que ajuda a fugir das influências mais óbvias de nomes como Godspeed You! Black Emperor ou Explosions In The Sky.

#10 Fucked Up

Os Fucked Up de Damian “Pink Eyes” Abraham vão dar um daqueles concertos directos à garganta, digno do seu hardcore. Mas nada é assim tão simples com os Fucked Up, especialmente depois das óperas punk David Comes To Life e Dose Your Dream, que conta com convidados tão ilustres como Owen Pallett, J Mascis ou Mary Margaret O’Hara. Se faltar um momento para trocar gotas de suor e nódoas negras, é apontar Fucked Up no horário.

#11 Erykah Badu

Já lá vão vinte e dois anos desde o primeiro passo rumo à coroação da “afro queen” Erykah Badu – foi logo a estreia Baduizm que a colocou no ponto incontornável da soul e da revolução do R&B no final dos anos 90, fazendo a ponte com a geração do hiphop de uns Fugees, por exemplo. Seguiram-se Mama’s Gun e Worldwide Underground no universo da neo soul, antes do díptico New Amerykah, há cerca de dez anos atrás, fazer Badu cimentar o seu lugar também no funk. Desde então apenas algumas mixtapes, mas a rainha Erykah está de volta ao estúdio e aos palcos. Será um ponto triunfal desta edição.

#12 Modeselektor

Por muito mais que se façam as contas de Moderat, os Modeselektor não são a subtracção de Apparat. Modeselektor são até dois terços dessa espécie de super-grupo alemão, sobrando-lhes a parte mais furiosa, ácida e IDM. A mais catártica portanto. São o elemento selvagem ao cuidado de Gernot Bronsert e Sebastian Szary, que vão actuar no festival não é modo set, mas sim live.

#13 Low

O trio Low foi um dos primeiros nomes directamente dos States a levar o rótulo de slowcore à dream pop minimalista e indie rock lento resultante da estreia I Could Live In Hope, de 1994. Alan Sparhawk, Mimi Parker e Steve Garrington tratam o minimalismo sónico por tu e despem ao vivo todo o glitching e vanguardismo de Double Negative, o seu mais recente álbum, em prol de músicas estupidamente bem escritas.

#14 Viagra Boys

Quando no ano passado vos indicaram os Idles como uma das próximas grandes cenas a não perder no Primavera Sound e não acreditaram, provavelmente arrependeram-se de não os ter visto. Porém não faremos isso com os Viagra Boys, que este sexteto de Estocolmo não está cá para seguir ninguém. Punk mutante e pronto para a bofetada – assim é Street Worms, a sua estreia, e assim será o concerto no Porto.

#15 Hop Along

O último dia do festival está recheado de cantautoras em formato de banda. Há Big Thief, Snail Mail e Lucy Dacus, mas é para Hop Along que as nossas atenções se viram. Frances Quinlan é uma daquelas personalidades fortes do novo indie rock, que arrisca os 90’s da mesma forma que os risca. A sua voz nervosa é o principal instrumento em trabalhos tão bem conseguidos como Get Disowned, Painted Shut e ainda o mais recente Bark Your Head Off, Dog.

Autor: Nuno Bernardo