Hindi Zahra no Capitólio. Uma equidistante forma de fado

Foi na noite de 26 de Maio que se fez silêncio no local onde a música parece cada vez mais vir a ser respeitada, Capitólio de seu nome, desta vez para escutar a marroquina Hindi Zahra na apresentação do seu Homeland, a confirmação de mais um delicioso caldo cultural.

Uma casa quase composta na sua totalidade e uma primeira parte não anunciada, surpreendeu nem sempre pela positiva os espectadores mas revelou-se agradável no final. Ouviam-se comentários sobre o desconhecimento desta intérprete e da sua presença na abertura do concerto. A jovem brasileira Labaq, que já partilhou palco com Surma, trouxe o seu segundo disco Lux para abrir as noites nesta série de concertos em Portugal a acontecer na primeira quinzena de Junho.

Eram 22h20 quando o público se começou a aproximar do palco pelo entusiasmo de ver e escutar, finalmente, a artista da noite. O rosto surpreso da cantora ao ver o público, a maquilhagem, os acessórios e o “portunhol” de ar egípcio, na companhia dos seis elementos em palco, são apenas um pormenor quando se escutam as suas canções. Com “The Man I Love”, o público abana ancas e ombros ao som do trompete, usando o seu vestido comprido para acompanhar a dança.

Não só de voz é dotada esta artista, quando se juntou à percussão, nas primeiras músicas, ao tambor. Em “Silence” o público começou a sentir o instrumental de uma guitarra quase perfeita e Hindi dança como se estivesse a dar corpo à música. No final dirige-se ao público agradecendo: «Thank you, I missed you so much». Houve ainda uma passagem por “To The Forces” e “The Moon Is Full” trouxe uma espécie de tango arábico, enternecido com uns tons de trompete. Em “The Blues” surgiu então um falseto angelical.

Tal como no fado, os seus cantares em árabe fazem-nos sentir o que talvez seja perto daquele sentimento que os estrangeiros expressam sobre o nosso fado: não se conhece a língua, mas na verdade não é preciso, dada a intensidade emocional da música. Após um belíssimo solo do percussionista, chega a mais desejada “Beautiful Strangers”, que todos acompanham em canto e em movimento. Já no final, como que em grito de liberdade, “(Please) Set Me Free” colocou toda a gente de pé a dançar e a cantarolar este hino tão valioso e tantas vezes necessário de invocar à realidade.

Texto: Ana Margarida Dâmaso
Fotografia: Ana Ribeiro