Silva no Capitólio. Um encontro com a paz do Brasil

Ao contrário do que se vive no seu país de origem, o pacífico brasileiro Silva subiu ao palco do lisboeta Capitólio nas noites de 28, 29 e 30 de Março, com duas sessões por noite, quase todas lotadas até à hora de redacção desta reportagem. Só este facto mostra por si só a dimensão que o jovem de 30 anos alcançou em Portugal, após os seus concertos que se iniciaram por cá em 2013.

Sob um mar de macramés coloridos, surgiu-nos de pijama cor-de-laranja, num estilo super confortável como se nos estivesse a receber em sua casa. Começa sentado numa cadeira, de perna cruzada, só com a sua guitarra nas mãos. O público, variado, também tranquilo, aparenta fixar-se acima dos 30 anos.

Após cantar “Carinhoso” sozinho, entra Hugo para o acompanhar na bateria, para “Let Me Say”, antes de uma passagem por “Guerra de Amor” e “Feliz e Ponto”. É na altura das covers que estabelece um contacto mais próximo e directo com os presente, que o acompanham a partir das suas cadeiras, de olhos fechados, em “Bem Que Se Quis”, de Marisa Monte.

Para introduzir “Duas da Tarde”, explicou-nos que as suas letras são escritas em parceria com o seu irmão, e que ambos se inspiraram na história de um amigo de 70 anos cujo segredo para a conservação da aparência é acordar sempre às duas da tarde, tendo recebido um grande aplauso.

Saca depois um “(There is) No Greater Love”, cover de Billie Holiday, também muito aplaudido, depois de fazer arrepiar. Estranhamente cumpre-se silêncio nesta sala. Até os telemóveis, que iam surgindo no ar, eram em número reduzido face ao habitual. Pode-se até dizer que é um concerto de música brasileira dos nossos (novos) tempos, mas à maneira antiga. Desabafou que “Milhões de Vozes”, escrita em período pré-eleição, irá ser cantada pelo seu povo pelos próximos 4 anos “(…) eu prefiro me calar (…)” e calou-se por um momento.

“Beija Eu”, original de Marisa Monte, e uma das mais aguardadas, foi a que apresentou maior necessidade de gravação para quem assistia, tendo também sido uma das mais adoradas. «Em 2015 fiz seis shows com Gal Costa e foi quase desconcertante. Há uma música de um disco de 1974 e eu acho muito bonita», disse a introduzir “Flor do Cerrado”. No final, aceleraram o ritmo e o público acompanhou o samba com palmas.

Antes de “Aquele Frevo Axé” revelou que «este ano foi a primeira vez que fui ao Carnaval em Salvador: subi no trio com Daniela Mercury». Passou por “Infinito Particular” e “Júpiter” para depois agradecer a quem saiu de casa para os ver, relembrando a primeira actuação em Lisboa em 2013. Dando o mote para a última música, convidou todos para se levantarem e no refrão todos batiam palmas para acompanhar. Saiu do palco e as pessoas mantiveram-se em pé, chamando com assobios para o encore.

Voltou depois para “Fica Tudo Bem”, onde já todos davam uns passinhos de samba e por último, para o adeus, “Canta Canta Minha Gente” com as palavras simbólicas de união, força e esperança – “a vida vai melhorar”.

Texto: Ana Margarida Dâmaso
Fotografia: Ana Ribeiro