FUNDAMENTAIS DO PROGRESSIVO: V e Focus

Hoje, introduzimos duas novas bandas à nossa secção do Fundamentais do Progressivo, algo que será cada vez mais frequente. São duas bandas de géneros diferentes, uma mais virada para o rock progressivo e a outra mais para o metal progressivo, no entanto são detentoras de um talento crucial para o desenvolvimento do progressivo. Estou, pois, a falar de Spock’s Beard e de Cynic, com lançamentos em 2000 e 1993, respectivamente.

Spock’s Beard – 2000 – V

É para muitos o álbum de eleição da banda de rock progressivo dos EUA, com os irmãos Morse à cabeça. É, na minha opinião, um dos grandes álbuns do género que introduz uma nova década, celebrando o que o rock progressivo tem de melhor.

É igualmente um disco obrigatório para quem quer conhecer rock progressivo de excelente qualidade, tendo em conta que ele começou a ser menos produzido, a partir deste ano. Para além de algumas faixas mais ‘fáceis’ e até ‘comerciais’ como “All On A Sunday,” “Goodbye to Yesterday,” “Thoughts (Part II)” e “Revelation,” o grupo decide rebentar as costuras da complexidade com duas portentosas faixas que, claramente, mostram a capacidade e qualidade do grupo americano.

Lista de faixas para V:

01. At the End of the Day
02. Revelation
03. Thoughts (Part II)
04. All on a Sunday
05. Goodbye to Yesterdays
06. The Great Nothing

Quer dizer, falar mal das primeira e última faixas é a mesma coisa que dizer que Lars Ulrich é o melhor baterista de todos os tempos, ou seja, é um disparate completo. Claro que cada um tem a sua opinião, mas vamos ser honestos, “At the End of the Day” e “The Great Nothing,” principalmente esta última, dignificam – e de que maneira – o bom nome do que o rock progressivo deve ser: intenso, criativo, complexo e trabalhado. Tecnicamente e instrumentalmente, o grupo excede-se em ambas as faixas e consegue produzir duas das melhores músicas da sua carreira repleta de discos gloriosos.

Cynic – 1993 – Focus

Claramente, metal progressivo com uma pitada q.b. de death metal, os Cynic têm uma das melhores estreias do mundo do metal, para muitos o melhor álbum da sua discografia. No entanto – e apesar de tudo isto ser verdade – o álbum teve uma recepção difícil, tendo sido largamente criticado pela disparidade de estilo pretendido pelos fãs. Sean Reinert, um dos fundadores dos Cynic, foi o baterista do icónico álbum de death metal Human, dos Death. Aquando do lançamento deste Focus, a esperança era que o estilo se mantivesse, mas tal não aconteceu.

Lista de faixas para Focus:

01. Veil of Maya
02. Celestial Voyage
03. The Eagle Nature
04. Sentiment
05. I’m But a Wave to…
06. Uroboric Forms
07. Textures
08. How Could I

A diferença musical é significativa, apesar da existência clara das influências do death metal. No entanto – e apesar de não ser um álbum consensual – é ainda vissto como uma dos grandes pioneiros do género, tendo influenciado um número de bandas e discos. A falta de empatia pelo álbum foi a grande razão para a separação precoce da banda. A banda apenas voltaria a lançar um outro disco em 2008, com um registo diferente, Traced in Air é uma excelente demonstração da evolução da banda nestes 15 anos de diferença.

É um disco que recomendo vivamente, não é o meu favorito pessoalmente, mas é um excelente lançamento de metal progressivo rico em subtilezas instrumentais que elevam o estatuto do álbum ainda mais. É um álbum em bruto que precisa de refinamento, mas é isso que o torna tão fundamental.

Autor: João Braga