Kelly Lee Owens na Galeria Zé dos Bois. Batida imersiva e ilusão temporal

Com alguns trabalhos anteriores de curta duração às costas, foi com o lançamento do aclamado LP homónimo no primeiro trimestre de 2017 que Kelly Lee Owens saltou para as bocas do mundo com um som divertido, surpreendente e cheio de personalidade.

Foi sozinha em palco, mas acompanhada de si própria e de toda instrumentação que dela faz parte, que neste aquário da ZDB a boa disposição do público, a personalidade da Kelly e a sua música confundiam-se com as projecções em segundo plano como as peças de um puzzle que só constituem uma imagem final se se concordarem entre si. Nada fora de sítio, existia apenas a energia que fluía entre peças para as aproximar e tornar cada vez mais perceptível com o tempo a imagem final que se formava como se todas as peças se conhecessem e fossem feitas para estar ali naquele momento.

As palavras e batidas confiantes de Kelly traduziram-se em movimento involuntário do público, resultado de uma performance vocal muito própria e bem conseguida, pontuada apenas de alguns problemas técnicos encarados pela própria com a mesma boa disposição que transmitia por ondas sonoras que em pouco estorvaram a fluência da actuação.

No fim ficou uma experiência daquelas que só se sabe que tomou lugar depois de acabar, pois enquanto decorre nem a pensamento dá lugar, apenas a imersão e atenção indivisível no que se passa, graças à abertura e personalidade juvenil da intérprete. Continua-se sem saber se o concerto foi curto ou se dobrou o tempo e acabou mais rápido.

Texto: Ricardo Silva
Fotografia: Nuno Bernardo