Russian Circles no Hard Club. Guiados pela rotina

Já teremos perdido a conta a quantas vezes os recebemos ou mesmo por quantas salas portuguesas fomos vendo os Russian Circles, a verdade é que a relação de amor entre o trio norte-americano e este cantinho da Europa dura há quase uma década, e não parece estar para acabar tão cedo. Em digressão de apresentação de Guidance, disco lançado em Agosto do ano passado, e acompanhados na estrada pelos Cloakroom, foi no Porto e perante um composto Hard Club que os fomos apanhar mais outra vez.

Não há volta a dar. Talvez pela maneira como tem envelhecido o género, ou simplesmente pela sucessão de digressões que cá os tem trazido, estes Russian Circles soaram menos em forma do que nunca. Apresentando um alinhamento que deixou de fora Geneva – indubitavelmente o mais forte registo da discografia dos norte-americanos –, não tardou até que tudo soasse a uma matriz amorfa de canções que em muito se seguiam. Dificilmente alguém acusará o trio de Brian Cook e companhia de serem más executantes, a verdade é que o pós-rock parece todo ele dissipado numa qualquer dimensão de pós-tempo – uma que continua a encher salas, é verdade –, mas que há muito está entregue a decair pelos mesmíssimos clichés que o viram nascer. O melhor terá aqui passado por “Afrika”, do mais recente Guidance, ou ainda por “1777”, faixa de Memorial, disco que os trouxe precisamente a esta sala há coisa de três anos. Mesmo a inevitável “Youngblood” soou fora de lugar e contexto, tomando um ritmo que em pouco ou nada serviu para coser as pontas do que foi uma actuação francamente mediana.

O melhor da noite também veio em formato a três, mas estes oriundos do estado do Indiana e de seu nome Cloakroom. Reunindo membros dos já defuntos Grown Ups ou Natives e lançando até há bem pouco tempo pela Run For Cover, não fica difícil perceber onde assentam as raízes do que fazem estes Cloakroom; música perdida entre a vivacidade e as guitarras estridentes do emo, a intensidade do pós-hardcore e uma montanha de vinis dos Red House Painters e Codeine. Dividindo o alinhamento pelo longa-duração e pelo EP que acumulam no catálogo, houve ainda espaço para “Big World”, single de avanço para o seu próximo lançamento via-Relapse Records e com data prevista para o ano que corre. A surpresa maior, essa ficou para o fim, com uma interpretação de “Farewell Transmission” dos Song: Ohia de Jason Molina. Eles prometeram que voltavam, esperemos que dessa feita não seja a reboque, rapaziada.

Ainda na primeira parte e sob a bandeira de acto surpresa surgiram os franceses Putan Club, mas deus nos livre de dizer o que for. Aliás, nós é que agradecemos.

Texto: Rui P. Andrade
Fotografia: Carolina Neves