Black Bombaim e Killimanjaro no Musicbox. Combo alucinante

Para um sábado até se podia dizer que o Cais do Sodré estava bastante calmo, talvez fosse da hora talvez fosse porque a festa naquele dia se fazia indoors… e confirmo a segunda opção. Por volta das 21h15 já se via algum movimento à entrada do Musicbox e, mesmo com casa esgotada, nada fazia prever a viagem que íamos fazer naquela noite ao som dos nossos.

Regressados do Brasil, sabemos que os Killimanjaro têm estado a preparar uma tour europeia com Stone Dead, a acontecer em Abril, e que os Black Bombaim têm andado um pouco mais recatados em solos lusitanos. Ainda assim, depois de nos termos ficado a roer de inveja do concerto que reuniu estes dois pequenos gigantes do rock nacional no Porto, já merecíamos um mimo semelhante na capital.

Ainda com a casa a meio gás, os barcelenses Killimanjaro ligaram a ignição e instantaneamente se ateou fogo àquela sala. Aquele rock pesadão de vibe stoner a que já nos habituaram está-nos cravado no coração, na pele, na alma e em qualquer pedacinho de ser que nos reste. Se raras são as bandas que nos deixam boquiabertos ao ouvir um álbum… ainda mais raras são aquelas que nos fazem querer trepar paredes ao vivo (no bom sentido). Embora de poucas interacções, o trio formado por José, Masquete e Joni não deixou ninguém indiferente. Riffs rasgados, uma bateria incansável, um baixo possante e agora encaixem isso tudo num visual acabadinho de sair dos 70’s e num instinto animal puro, capaz de mandar a casa abaixo. São os Killimanjaro. Projecções não faltaram e eu, como amante deste tipo de componentes visuais em concertos, apreciei e confesso que veio mesmo a calhar aquele psicadelismo pesado quanto baste. Cores, texturas e alguns piratas (a acompanhar a temática do seu álbum Hook) foram algumas das coisas que retirámos de uma hora de concerto destes jovens, onde não faltaram faixas como “New Tricks, Old Dog” e “December” que toda a gente soube tão bem acompanhar.

No intervalo voltámos a ter a sensação do que é um Musicbox a abarrotar e ficamos quase colados ao palco para receber uma das bandas mais experimentais que podemos encontrar dentro do post-rock psicadélico, ainda que este rótulo possa parecer incrivelmente pequeno para encaixar tudo o que os Black Bombaim conseguem fazer. Aparentemente, Barcelos continua a ser berço de grandes revelações a nível da música nacional e assim nos faz chegar este trio que carrega já dez anos de carreira. Classificam-se como piri-piri psych, mas são tão mais do que isso. Foi uma viagem incrível, as pessoas mexiam-se ao ritmo daquelas ondas massivas de som, e nós fechámos os olhos e deixámo-nos ir. Acompanhados por projecções, cores e jogos de luz não houve nenhum acorde que soasse a algo que já tínhamos ouvido. Embora inspirem um estado de transe profundo, conseguem manter toda a gente de pés bem assentes na sala, intergaláctico mas ao mesmo tempo quente… e atmosférico outra vez. Dizem tudo sem precisar de palavras, cada nota conta-nos uma história. Com muitas influências de jazz à mistura e outras tantas a que perdi o rasto, damos por nós a querer dançar e dançámos. E nem demos conta do tempo passar, foi como estar numa realidade espácio-temporal só nossa.

Aquela que inicialmente parecia uma combinação ligeiramente exótica de bandas, rapidamente nos demonstrou que os limites são apenas impostos por nós, principalmente no que diz respeito a música. Só vos posso dizer que naquele espaço a música foi, e nós fomos, muita coisa… foi tribal, foi dançável, foi alucinante.

Texto: Andreia Teixeira
Fotografia: Rute Pascoal