Jameson Urban Routes. A sensibilidade dos novos sons urbanos

24 de Outubro

Dia inaugural e foi com cerca de 20 minutos depois da hora marcada, iniciando assim a 10ª edição do Jameson Urban Routes, que o quarteto inglês Wild Beasts voltou a pisar solo lisboeta.

Depois da apresentação do álbum Present Tense em pleno Coliseu dos Recreios em 2014 no Vodafone Mexefest, a dupla Hayden Thorpe e Tom Fleming acompanhados na bateria por Chris Talbot e Ben Little na guitarra, voltou à capital para apresentar o recente Boy King, lançado em Agosto.

Com um Musicbox esgotadíssimo, a banda inicia o concerto com “Big Cat” para imediatamente de seguida viajar até 2009 para ouvirmos a belíssima “We Still Got The Taste Dancin’ On Our Tongues” de Two Dancers. Seguiu-se “Ponytail”, do mais recente trabalho, e na primeira paragem do concerto e de copo de vinho na mão, Hayden Thorpe demonstra a felicidade por estar de volta a Lisboa e introduz a primeira da noite de Present Tense, com “A Simple Beautiful Truth” e o público reage efusivamente pela primeira vez, demonstrando o quão acarinhado foi este álbum pelos fãs da banda.

Com “Bed of Nails” de Smoother e “He The Colossus” de Boy King, começava a desenhar-se aquele que seria o padrão da noite, onde a banda procurou compor uma setlist em que se articulava o novo trabalho com os maiores êxitos da banda.

Foi então que Hayden Thorpe dirigiu-se novamente à plateia, desta vez entrando em terrenos políticos dedicando “Hooting & Howling” ao Brexit, mostrando o seu desagrado pelo resultado do referendo pela saída do Reino Unido na União Europeia. Levantaram-se de seguida os braços para “Mecca”, a segunda da noite de Present Tense, e baixaram-se para contemplar a tranquilidade da nova “2BU” e de “Lion’s Share”.

Entrávamos agora naquela que foi a fase mais emotiva do concerto. Se “Tough Guy” levou um Musicbox em peso a entoar “Now I’m all f*cked up and I can’t stand up / So I better s*ck it up like a tough guy would”, ver com um relógio a aproximar-se rapidamente das 23h e tendo em conta que estávamos no início de uma semana de trabalho, arrepiou ver uma sala cheia a acompanhar Hayden Thorpe no poderoso e arrojado refrão “Don’t confuse me with someone who gives a f*ck” de “Wanderlust”.

Com o público na mão era tempo de apresentação de mais uma faixa nova, “Alpha Female”, e pela reacção da plateia podemos ter encontrado aqui umas das favoritas do novo álbum. A banda retirou-se de seguida do palco sendo bastante previsível, até pela falta das tradicionais despedidas, que ainda não tínhamos chegado ao fim da primeira sessão deste festival.

Voltou então a ouvir-se passado poucos instantes o indie de Wild Beasts, com “Get My Bang” e de seguida em “Celestial Creatures”, Hayden Thorpe passeou-se pela plateia cumprimentando individualmente o público, como que agradecendo a calorosa recepção.

“All The King’s Men” encerrou um concerto em que se confirma que a sensualidade das letras, com uma constante exploração do lado sexual continua a ser o registo predilecto dos Wild Beasts. Porém a introspecção de Present Tense deu lugar a um álbum mais explícito, com uma sonoridade mais musculada. Pela reacção do público à saída fica a sensação que o aclamado Present Tense tem assim em Boy King um sucessor à altura. Foi um belo início de festival e de semana. Tomara que todas começassem assim.

Texto: Pedro Teixeira

27 de Outubro

Convidado pela organização do festival Jameson Urban Routes, Mtendere Mandowa trouxe ao Musicbox o seu projecto enquanto Teebs. Tanto o indivíduo como o artista mostraram humildade e, como que sem palavras acolheram o público dizendo-lhes para chegar mais perto.

A duração da sua slot nesta sessão pós-65daysofstatic e Thought Forms foi diagonal: sons líquidos que tinham tanto de acolhedor como de expansivo, fluindo de batidas tropicais e preguiçosas para sonoridades mais intensas e por vezes erráticas. Apesar dos aspectos visuais do concerto (talvez) não terem feito jus aos mesmos, o som fez-se sentir pelos presentes que responderam involuntariamente com o movimento dos seus corpos. Batidas suaves e orgânicas com base no hiphop, isentas de qualquer ligação cultural, música para todos os ouvidos, algo universal.

Texto: Ricardo Silva

28 de Outubro

Os Sensible Soccers são frequentemente apontados como uma das mais interessantes bandas do novo panorama musical português, mas já estão entre nós desde 2009. Porém foi em 2014 com a edição do álbum 8 que começaram um trajecto que já os levou a passar pelos maiores festivais português e que no passado dia 28 os trouxe à edição de 2016 do Jameson Urban Routes.

Para o efeito trouxeram o novíssimo Villa Soledade, e para os receber estava um Musicbox a rebentar pelas costuras. Quando os quatro entraram em palco, éramos capazes de jurar que não restava um único espaço livre na sala.

“Clausura” e “Villa Soledade” foram os dois primeiros temas que o quarteto nortenho tocou. O psicadelismo, com um toque pop e um travo de rock, chega-nos com um equilíbrio perfeito oferecendo-nos uma viagem de puro relaxamento. Pena foi o público dividido entre conversas ruidosas, múltiplas idas ao bar e entradas e saídas constantes não parecesse querer pagar bilhete para a mesma.

Abstraídos de tudo isso a banda apresentou “Bolissol” e “Nunca Mais Me Esquece”, voltando a 8 para a essencial “AFG”, que trouxe os primeiros e únicos tímidos gritos do público. A banda voltaria ainda a Villa Soledade para tocar “Shampom”,  encerrando um concerto curto (um pouco menos de uma hora) , competente, mas que infelizmente não teve um público à altura.

Texto: Pedro Teixeira

Fotografia de capa: Jameson Urban Routes