More Than A Thousand. A agridoce celebração do adeus.

O acolhedor Texas Bar, em Leiria, teve a honra de receber no passado sábado, dia 7 de Maio, um dos quatro concertos da Portugal Farewell Tour 2016 dos More Than A Thousand. A festa foi rija, intensa, emotiva; o público não era mais de mil, mas parecia quando entoava os hinos da banda em plenos pulmões, naquela que foi a despedida da cidade do Lis de um dos grandes nomes da música pesada nacional. Em 16 anos, a banda foi além fronteiras e conquistou a Europa com o seu metalcore e post-hardcore brutal e melódico; sem que nada o fizesse prever, anunciaram o ano passado que iriam por um ponto final, por tempo indefinido, na sua carreira, despedindo-se primeiro do velho continente e terminando agora a viagem no país que os viu nascer e crescer de miúdos rebeldes a homens de barba rija.

Para aquecer o público, duas bandas foram chamadas e cumpriram com distinção: os locais First Class Tragedy, que apresentaram o seu tão aguardado álbum de estreia A Different Story To Be Told, e os bejenses HochiminH, que regressaram aos palcos após se eclipsarem depois do grande álbum de estreia em 2009. Ambos os concertos tiveram cerca de 30 minutos, compensando a curta duração com uma intensidade brutal em ambos os casos.

First Class Tragedy #13

Meia hora antes da meia noite, os First Class Tragedy abriram as hostilidades, começando por chamar o público para a frente antes de entoarem Broken Youth, a música do abertura do seu novo álbum. Com bastante expressividade em palco, sobretudo na figura central do vocalista, Joel Marques, não foi preciso esperar muito para os primeiros mosh pits da noite começarem a girar.

Ao terceiro tema revisitaram o seu EP de estreia Reaching Hope (ver review) com The Medicine, que meteu toda a gente a saltar. Salus foi explosiva, uma das melhores do novo disco; o single do álbum, It Still Exists, trouxe uns breakdowns monstruosos. Antes de terminar com H.O.P.E., que contou com um vocalista convidado, a saudação às outras duas bandas com quem partilhavam o palco. Grande começo de noite!

Ho Chi Minh #02

Demorou meia hora a preparação do palco para os HochiminH, mas a espera valeu a pena. Contrariando o estereótipo, a banda alentejana não foi nada lenta a aquecer a plateia, com Way Of Retain a abrir a todo o gás. Sempre com um ar de enorme prazer a tocar, como se fossem putos que tivessem recebido uma consola nova, a banda continuou com Aside e uma nova música, guardado desde os tempos do álbum de estreia. O vocalista Skatro mostrou-se simpático e um frontman que sabe tomar conta do palco, comunicativo e vivendo cada tema.

Hope You Never foi brutal, seguindo-se a Reload, dedicada às mulheres que vêm aos concertos de metal. O momento mais surpreendente do concerto foi a versão totalmente ‘hochiminhizada’ da Enjoy The Silence dos Depeche Mode, com ajuda do público no refrão. O final do concerto foi caótico, terminando num furioso circle pit pouco depois da uma da manhã; estava tudo finalmente mais que aquecido para os monstros que se seguiam.

More Than a Thousand #13

Os reis da festa eram os More Than A Thousand, que subiram a palco meia hora depois da uma da manhã. Aclamados pelo público na entrada, o coração bateu forte e Feed The Caskets abriu a todo o gás. Ainda no primeiro tema, uma espécie de mini wall of death empurrou a plateia para todos os cantos da sala, reforçando o vocalista a ideia de que ninguém se devia aleijar. Heist, o explosivo tema de abertura do último álbum dos MTAT, continuou a festa, aquecendo a plateia até ao primeiro auge da noite em It’s Alive.

Por esta altura já toda a gente estava mergulhada num transe positivo de pura energia uníssona, com as músicas a seguirem-se uma após outra sempre com a mesma energia, sempre com brutalidade gutural e contrastar com os refrões melódicos; First Bite, We Wrote A Song About You, Nothing But Mistakes, a mais melódica Black Hearts para derreter os corações sobretudo da plateia feminina, Fight Your Demons. Por entre crowd surfing, mosh pits, cânticos e headbanging, o público deu o máximo à banda que retribui o favor, iguais a si mesmos.

A recta final foi de sonho, com alguns dos melhores temas de toda a sua carreira: primeiro, Cross My Heart, com o contagiante refrão entoado por toda a sala; logo a seguir, o último momento mais calmo da noite, com a doce balada Roadsick, gravada no final com uma câmara da plateia pelo vocalista. E depois de revisitar algo mais antigo, o final que não podia faltar com No Bad Blood, o tema que define a essência da banda, aquilo que são e como os vamos recordar para sempre.

Com uma longa carreira a fazer amigos e inimigos, ficou claro que foram mais os amigos e aqueles a quem a banda deixou uma marca especial. A despedida fez-se sem encore, porque era impossível subir mais alto na emoção. E depois de tão doce concerto, o amargo de saber que esta foi, provavelmente, a última vez que eu e muitos viram More Than A Thousand ao vivo. E digo provavelmente porque quero acreditar que um dia voltarão, ainda mais fortes, para deliciar os saudosos fãs com memórias de sonoridades antigas.