O regresso dos Baroness que deixou o Paradise Garage ao rubro

Houve quem os tivesse visto quando actuaram no festival Milhões de Festa em 2012, mas muitos outros viram nesta data única em Lisboa uma oportunidade de marcar encontro com a banda. Os norte-americanos Baroness chegaram a Lisboa para apresentar o mais recente disco Purple, no dia 6 de Março, perante um Paradise Garage bem completo, numa noite muito intensa.

Talvez seja urgência a palavra que mais marca esta passagem da banda por Lisboa. Uma urgência que não podemos não relacionar com o acidente sofrido pelos Baroness há quatro anos. Do acidente resultou uma reformulação da banda de John Baizley, o homem por trás de muito do que é a estética dos Baroness, com a entrada de Nick Jost e Sebastian Thompson, e este disco Purple que marca um sarar de feridas físicas e psicológicas.

Uma urgência por parte da banda em viver e sobreviver, notória ao desfilar dos primeiros riffs de “Kerosene”, com um entusiasmo quase bárbaro e uma energia contagiante que não nos deixa ficar indiferentes. E uma mesma urgência por parte dos fãs, certamente cientes das fragilidades da vida humana e das intempéries imprevisíveis da vida. Às guitarradas soberbas não faltaram momentos de alternância progressiva, como em “March To The Sea”, “Try To Disappear”, “Eula” ou mesmo “Chlorine & Wine”. Os fãs, que observavam e acompanhavam tudo isto ao abanar a cabeça, e entoavam todas as letras de forma dilacerante e veemente.

Num alinhamento centrado no mais recente registo, lançado no final de 2015, “A Horse Called Golgotha” foi um momento de explosão colossal numa visita a Blue Record.

Mas não bastou sentir esta nova força, os Baroness encarregaram-se ainda da componente visual, brindando-nos com focos luminosos cujas cores enunciavam desde logo os nomes do disco que revisitaríamos a seguir logo aos primeiros acordes. Ora roxo, ora amarelo, ora verde, ora azul, ou mesmo vermelho, que apenas se acendeu para a fenomenal “Isak”, num regresso ao primeiro disco já perto do final do concerto, que eram reflectidos nas peculiares bolas de espelho que adornam o tecto desta sala, que é também uma discoteca em horas mais tardias.

Para o encerramento, depois de desculpas pela demora e promessas de um regresso a tão surpreendente público, ficou “Take My Bones Away”, a fechar em beleza o alinhamento de quase vinte faixas. Um regresso ao mais melódico e harmonioso Yellow & Green que nem por isso deixou de provocar uma descarga de energia sob a forma de moshpit por parte da assistência que se havia mantido contida até então.

Já os Correia, na primeira parte, têm na sua génese os irmãos, ora pois, Correia: Poli e Mike, caras que conhecemos de projectos como Devil In Me, Sam Alone, More Than A Thousand e Men Eater, aqui ambos encarregues de dar voz à banda. O incenso a arder em cima do palco e a fragrância do mesmo que se espalhava pelo palco antes da actuação, deixavam adivinhar que dali viria algo diferente. O rock sempre pungente, com algumas pinceladas exóticas, arrisca pelo lado alternativo e invoca os 70’s com temas como “Deceivers Of The Sun” e “Deliver Us”, que farão parte do registo Act One a ser lançado em breve. Durante a sua actuação, com a segurança de já não serem inteiramente estreantes nestas andanças, os Correia deixaram umas nuances de como será o primeiro disco a ser lançado, uma agradável surpresa para os presentes.

Fotografia: Nuno Bernardo
Texto: Rita Bernardo