Lisboa recebeu a união global de Talib Kweli

«My father told me stories of getting sprayed with fire hoses and chased by the police. When you live in a comfortable bubble, you think those days are over. But I can’t stress enough how much the photos that you see here are similar to what’s going on now.» – manifestava-se Talib Kweli à Billboard em Setembro do ano passado acerca das tensões raciais em Ferguson, nos Estados Unidos, decorrentes do trágico tiroteio que ali teve lugar.

Na sua condição de master of ceremony, a liturgia faz-se também de revolução, activismo, e de reprovações incisivas dos flagelos sociais que sabe de perto e lhe escalavram os nervos, e assim como a qualquer um – desigualdade, racismo, terrorismo, pobreza. A meio tempo do espectáculo, lança-se num afiado discurso, frisando aos presentes que o terrorismo não tem feição, raça ou religião, e em alta voz lança o mote: «If you’re a fan of Black Star you’re also a fan of black lives matter!». “K.O.S (Determination)”, do seu Black Star a pares com Mos Def recorda-nos desse clássico de 1998, onde já ambos faziam ouvir as suas vozes de consciencialização num disco profundamente reflexivo: «At exactly which point do you start to realize / That life without knowledge is death in disguise?»

No passado sábado, no Ministerium Club, percorremos com Talib Kweli duas décadas de momentos épicos na sua carreira, mas também de colaborações felizes e celebração das mesmas: relembrámos as memórias de Sean Prince em “Palookas” ou J Dilla em “You Know What Love Is” dos seus Slum Village e ouvimos uns quantos clássicos bem acompanhados (não fosse Talib um homem de colaborações), “The Blast” com Hi-Tek, “Respiration” com Common ou “Definition” com Mos Def.

Braços no ar, ombros em movimento e versos bem sabidos na ponta da língua de todos os que circundavam o palco, temas seminais como “Get By”, “Never Been In Love” ou “Listen” (do clássico Eardrum de 2007) levantam o êxtase já instalado na sala. Da história mais recente ainda ouvimos no final “Every Ghetto” à qual o público também não poupou suor, barulho e entusiasmo. No final, ficaram os aplausos de imensa gratidão e a materialização visível de um dos princípios enraizados por Kweli e professado bem alto nesta noite: «HipHop is the most motherf**** unifying thing in the globe!»

Fotografia e Texto: Telma Correia