Entremuralhas @ Castelo de Leiria, 27 a 29/8/2015

A COLORIDA MARÉ NEGRA

Pelo sexto ano consecutivo, o ritual gótico repete-se. As vestes são negras, adornadas com mil e um pormenores, qual conto de fadas sombrio; vestidos longos de beleza ímpar, corpetes justos a definir formas esbeltas, rendas trabalhadas com padrões complexos, jóias brilhantes e acessórios que nos levam por uma viagem no tempo, do passado medieval ao futuro cyber. A contrastar com o negro, sorrisos iluminados e almas coloridas, ricas em cultura e simpatia que partilham entre si, durante três dias de cumplicidade ímpar. São jovens, adultos, idosos e crianças, todos juntos entre muralhas, unidos pela música, pela arte e pela magia do Castelo de Leiria.

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Mas nem só de negro se pintam as cores de tão singular festival, único no mundo. Todos os anos, mais e mais curiosos fora do universo gótico se aventuram na experiência, para se deliciarem com sonoridades alternativas, escolhidas a dedo para três palcos de características distintas. São os corajosos, que desafiam as nefastas más línguas que, inexplicavelmente, ainda existem, rotulando o Entremuralhas como um encontro satânico de vampiros e lobisomens, de música extrema e gente fria e dura como a pedra do castelo. Felizmente, os estereótipos vão morrendo, e a verdade vai-se espalhando de boca em boca, de som em som, de foto em foto.

O ANO DOS EXTREMOS

À tarde, o suor da íngreme subida; à noite, o suor da dança. Três dias e outros tantos palcos, numa edição que fica para a história como uma das melhores, senão mesmo a melhor, de sempre. Da sonoridade angélica dos A Dead Forest Index à bizarria extrema dos Igorrr; da magia teatral dos Art Abscons à frontalidade dos Agent Side Grinder; da solenidade dos And Also The Trees à irreverência de Tying Tiffany; da calma postura dos A Jigsaw à irrequieta e incansável Lene Lovich. E os Laibach… ! Os extremos tocaram-se, uniram-se, formando um círculo de concertos com características tão únicas que nunca se pensaria que resultassem tão bem em sequência. Mas resultaram!

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Pela primeira vez, a procura de bilhetes foi tanta que o mítico número de 737 pessoas por dia se elevou a 1037 no sábado. A Igreja da Pena já antes tinha ficado lotada, mas os palcos Alma e Corpo viram as maiores enchentes de sempre graças a estes 300 bilhetes extra. Já em menor número foram as actividades extra concertos, o Muralhartes, com destaque para o lançamento do livro Sons Monocromáticos de Miguel Silva, um testemunho fotográfico à altura do festival, e para a honrosa presença da artista internacional Anáisa, que nos presenteou com um belo testemunho de superação e a sua voz única de gutural lírico noise.

OS SONS ECOANTES

Mas porque é a música o foco do evento, deixe-mo-nos de devaneios e vamos esmiuçar cada um dos singulares actos que deram vida à VI edição do Entremuralhas. É tempo de recordar, pois serão estas memórias que manteremos até dia 25 de Agosto de 2016, data já anunciada para o início da VII edição, que se estenderá mais uma vez por três dias. É já com uma excitação mal contida que aguardamos pelos nomes com que a Fade In irá popular mais um cartaz de luxo!

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O OLHAR FOTOCRÓMICO

 

CURIOSA MENTE

• A VI edição do Entremuralhas foi a primeira cuja procura obrigou a organização e o município a aumentar em 300 o número de bilhetes disponíveis num dos dias (sábado, dia 29);

• Se todas as bandas se tivessem apresentado com todos os elementos, 87% dos concertos (13 em 15) teriam tido, pelo menos, uma presença feminina em palco;

• As 15 bandas em cartaz representaram 9 nacionalidades diferentes; no entanto, a edição de 2014 foi a mais diversa, com 12 nacionalidades;

• No sábado, metade dos concertos tiveram irmãos em palco: A Dead Forest Index, Ash Code e And Also The Trees;

• Apenas 3 concertos tiveram encore: Lene Lovich, Laibach e Agent Side Grinder;

• 3 foram também os concertos com direito a máscaras em palco: 6COMM, Art Abscons e Anaísa ( 🙂 );

• Em média, os concertos duraram 58 minutos e iniciaram 18 minutos após a hora marcada, sendo que Igorrr começou 11 minutos antes;

• A setlist tocada pelos Laibach apenas teve duas músicas em comum com o seu concerto anterior, em Pyongyang: The Whistleblowers e Opus Dei;

• Todas as músicas de Keluar têm apenas uma palavra no nome.

CRÉDITOS E AGRADECIMENTOS

Fotografia: Marina Silva

Texto: David Matos

Agradecimentos: à Fade In, pela acreditação; a todos os presentes, pelas fotos e simpatia; às bandas, pelos concertos e cedência de setlists