Moodymann @ Ministerium Club, 16/5/2015

«Detroit techno is not only one of the key building blocks of electronic dance music; for many dance lifers, “Detroit” is a byword for high-minded purism, a bulwark [protection] against “commercial” dance music.» (Michaelangelo Matos – Defining Detroit Techno: The Retrospectives And Reissues Of 2013, NPR.com). Em meados de 1980, começava a construir-se a figura mitológica pela qual a cidade de Detroit se viria a mostrar ao mundo.

O berço do techno, uma cena electrónica em germinação e crescimento profícuo pelas mãos do trio forte, os rapazes de Belleville – Juan Atkins, Kevin Saunderson e Derrick May (mais tarde acompanhados por Carl Craig), bem que poderiam ter os seus nomes crivados pelos dancefloors da cidade. Porquê o mito Detroit, afinal? Uma cidade cinérea, industrial, coberta a metal e cimento, perdida no meio de Michigan.  Contra o malfadado destino que pontos como estes podem sugerir, o som de Detroit surgiu em insurreição ao sentimento de crise, à música comercial, num rasgo orgânico e fresco de som, mais tarde calcado nas raízes do jazz, do R&B, do funk e do soul. Kenny Dixon Jr. (a.k.a Moodymann), juntamente com pares como Theo Parrish ou Marcellus Pittman, formaram esta segunda-vaga de precursores da música electrónica em Detroit.

Moodymann sempre se apresentou como uma personagem também mítica e enigmática. Quase sempre, dificilmente lhe reconhecemos a cara ou a voz. Na passada noite, não foi excepção – o microfone ficou pousado, e, no rosto, uma rede escura a cobri-lo na totalidade e um capuz enquanto trabalhava os seus discos. Quase nem damos por ele. Num set curto, mas diversificado, deu para ouvir um conjunto de sons que já se podiam avizinhar. Esteve lá de tudo – o disco, os rasgos de techno, o funk de James Brown, o house de Lil’ Kenny and the $hebangs ou de Noir & Haze (julgamos que na versão do produtor Solomun), e, inesperadamente, uma “Glory Box” de Portishead para acalmar os ânimos. Dançámos imenso, mas soube-nos a pouco. Queríamos mais.

Fotografia e Texto: Telma Correia