Royal Blood + Bad Breeding @ Coliseu dos Recreios, 2/4/2015

Com apenas dois anos de formação, o duo britânico Royal Blood já anda a revolver o chão por onde passa, trazendo uma lufada de ar fresco ao rock contemporâneo. A sua estreia em solos portugueses deu-se no real Coliseu dos Recreios que nesta quinta-feira, 2 de Abril, se viu emergido num mar de gente. Já havendo esgotado o Armazém F, o suposto palco que os iria receber em Novembro do ano passado, quem não conseguiu comprar o bilhete na altura teve aqui a feliz oportunidade de poder presenciar este fenómeno.

A pontualidade britânica imperou e às 21h em ponto os Bad Breeding saudaram a casa. Com um coliseu ainda vestido pela metade, estes rapazes não se mostraram tímidos, mesmo sendo a sua formação ainda recente. Não há para já nenhum disco gravado, mas os singles ‘Age Of Nothing’, ‘Chains’ e ‘Burn This Flag’ desvendaram-nos uma arrebatadora tempestade eléctrica que durante 30 minutos nos manteve com os olhos colados no palco. Com um rock que cortava o ar a uma velocidade furiosa, também assim o vocalista se demovia em movimentos frenéticos com o microfone, numa energia que era igualmente dividida entre os restantes membros. Depois de vermos o guitarrista a tocar no cimo dos amplificadores que se empilhavam à beira do palco, e do baixista ter lançado o seu baixo ao chão num gesto súbito e violento, foi desta forma efusiva que estes ferozes britânicos abandonaram o palco.

 Às 22h os primeiros acordes de ‘Hole’ provocaram de imediato um alvoroço entre o público. Apesar de ser um b-side, podia ouvir-se um coro de vozes a acompanhar Mike Kerr no refrão, o que só veio confirmar a fome voraz com que o público devora os temas da dupla. ‘Come On Over’ entrou de seguida para causar uma euforia contagiante de coros e saltos ao ritmo da bateria de Ben Thatcher. E se alguém disse que o rock só se faz com guitarras, desengane-se, é que nesta equação não precisávamos de mais variáveis e estes rapazes mostraram ser capazes de arrebatar um estádio inteiro. Do Blues ao Rock dos anos 70, a síntese é equilibrada com riffs singulares que, para quem ouve à primeira, torna difícil de crer que apenas um baixo e uma bateria chegam para nos trazer um som tão robusto quanto o deles. Tomara muitas bandas de 4 ou 5 elementos terem aura suficiente para preencher tão bem o cenário como os Royal Blood parecem fazer tão naturalmente.

Com apenas um trabalho editado, o álbum homónimo foi percorrido na íntegra, juntamente com mais dois b-sides vigorosos que podiam muito bem ser colocados ao lado das restantes faixas do álbum. A fasquia manteve-se elevada durante todo o concerto e o mosh pit foi inclusive aberto em quase todos os temas. Numa das interacções que Kerr teve com o público, apresentou-nos Thatcher como «meio homem, meio touro, meio louco» e, a confirmar estas palavras, vimo-lo a percorrer a frente de palco e a regressar com uma bandeira portuguesa ao ombro. ‘Loose Change’ ameaça o final do concerto mas antes vemos Kerr a puxar de um cigarro, enquanto descontraidamente vai tocando uns acordes. A cereja no topo do bolo é nos dada assim, espontaneamente, com ‘Out Of The Black’ a causar os últimos momentos de tensão, num solo de baixo prolongado que originou um agitado circle pit e terminou com a vontade de carregar no replay.

Sendo Lisboa a última paragem desta tour, resta-nos agora esperar por novos trabalhos e por uma visita num futuro próximo, e quem sabe, numa maior arena.

Texto: Rute Pascoal
Fotografia: Everything Is New

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