Quem são os Death Grips e porque se fala tanto neles

Os Death Grips são Stefan Burnett (MC Ride) Zach Hill e Andy Morin (Flatlander), um conjunto de hiphop experimental. Ou eram – pelo menos até ao Verão de 2014, antes de se eclipsarem na hora de fazer uma digressão europeia com Nine Inch Nails e Soundgarden, cessando as suas funções.

Foi então em Julho último que deixaram uma nota no seu Facebook oficial, afirmando o fim da banda:

we are now at our best and so Death Grips is over. we have officially stopped. all currently scheduled live dates are canceled, our upcoming double album ‘the powers that b’ will be still delivered worlwide later this year via Harvest/Third Worlds Records. Death Grips was and always has been a conceptual art exhibition anchored by sound and vision. above and beyond a ‘band’. to our truest fans, please stay legend.

Este anúncio foi dado um mês depois de anunciarem o referido The Powers That B, um álbum duplo cujo primeiro disco foi imediatamente disponibilizado para download gratuito na Internet, algo comum na carreira da banda, dando a este primeiro disco o nome de Niggas On The Moon. E surpresa, todo o disco conta com a contribuição da islandesa Björk.

O segundo disco desde The Powers That B foi anunciado perto do fim de 2014 com o nome de Jenny Death, lançando-se vários teasers pela Internet fora com pistas sobre a sua data de lançamento daquele que se espera ser o último capítulo da perturbada carreira de Death Grips. Ou não. A verdade é que a esta hora já não se consegue confiar em nenhum dos avanços dados, não se sabendo se a banda terminou ou não, não se sabendo se isto tudo não é mais um golpe para se falar mais, e mais, destes tipos.

The Powers That B
The Powers That B

Correu então o rumor da data de lançamento de Jenny Death no Twitter (fala-se para 10 de Fevereiro), numa mesma conta, alegadamente falsa (ou não, mais uma vez), em que se anunciou que Death Grips vão entrar em digressão novamente. A 4 de Janeiro de 2015 existe nova actividade na página do Facebook da banda – há novo álbum, imediatamente disponibilizado para download gratuito.

Trata-se de um álbum inteiramente instrumental, alegadamente uma banda sonora, com o nome de Fashion Week e com as suas faixas intituladas de “Runway J”, “Runway E”, “Runway N”, por aí adiante, até formar o seguimento de «J E N N Y D E A T H W H E N» ao longo das suas 14 faixas, uma frase que ganhou expressão no universo musical da comunidade 4chan. E sem surpresa, a Fashion Week de Londres tem início no dia 20 de Fevereiro de 2015, podendo ser uma possível resposta ao rumor. Para além disso, a capa relevada para The Powers That B (ver ao lado), é uma fotografia tirada a uma luz de chão no Aeroporto de Heathrow, em Londres, alimentando as teorias.

Mas que banda é esta que se encarrega de lançar um álbum só para responder, ou não (mais uma vez, nada é certo), a um Easter Egg? Como foi dito no comunicado que ditou o fim da banda, não se tratará tudo isto de uma performance, uma instalação artística, com componente sonora e visual, para destituir os poderes dos cânones impostos na industria musical? Afinal de contas, estamos perante uma banda «separada» mais activa do que muitas no activo.

The Money Store
The Money Store

Tudo isto começou em 2011 em Sacramento, na Califórnia, quando Zach Hill, baterista ligado a projectos como Team Sleep, Hella ou Wavves e único membro da banda que se conhecia, lançou para a Internet de forma gratuita a primeira mixtape de Death Grips, Exmilitary, recebendo excelentes críticas um pouco por todo o mundo, e quando se começaram a dar os seus primeiros concertos, dando a conhecer as caras de MC Ride e ainda Andy Morin. Para 2012 foi assinado um contrato com a Epic Records para o lançamento de dois álbuns nesse mesmo ano – o primeiro, The Money Store, foi um enorme sucesso com vários singles, como “Blackjack”, “The Fever (Aye Aye)” ou “Get Got”.

Depois de marcada uma grande digressão internacional para o promover, a banda cancelou-a para trabalhar no seu segundo álbum a lançar nesse ano, como acordado. A coisa não correu bem. Para além do descontentamento geral dos fãs um pouco por todo o mundo e dado o sucesso de The Money Store, a Epic Records não concordou em lançar outro álbum antes de 2013, pelo que houve novo lançamento gratuito na Internet – No Love Deep Web viu a luz do dia sem autorização da editora e foi cancelado o contrato, com todo o caso a ser acompanhado na Internet com printscreens dos e-mails trocados entre Death Grips e a Epic Records.

Em 2013 a polémica continuou, é claro. Com concerto marcado para o festival Lollapalooza, em Chicago, a 3 de Agosto, a sua performance foi cancelada depois de a banda faltar ao compromisso também na noite anterior, na sala Bottom Lounge, igualmente em Chicago. Depois do espectáculo de abertura nessa noite, e antes de se saber que a banda não iria comparecer, foram postas a tocar faixas da banda para um palco vazio e com um screenshot de um e-mail com uma alegada suicide note escrita por um fã de Death Grips e enviada para os mesmos. Os fãs, enfurecidos, destruíram a bateria colocada em palco. Soube-se posteriormente que a banda nunca teve intenções de comparecer no festival Lollapalooza e que a bateria destruída tratava-se, afinal, de uma bateria de aprendizagem para crianças.

Em Novembro, três meses depois dos incidentes, a banda dá novo sinal de vida no Facebook e com novo álbum – Government Plates. Mais um lançamento distribuído gratuitamente e que se estendeu depois às plataformas iTunes e Spotify, tal como No Love Deep Web, que chegou a ver edição física pela Harvest Records.

O último comunicado antes da história recente foi feito no início de 2014, onde Zach Hill confirmou estarem a trabalhar num quarto álbum (sucessor de, portanto, The Money Store, No Love Deep Web e Government Plates) e que iriam estar em digressão com Nine Inch Nails e Soundgarden no Verão, antes de se separarem e de The Powers That B ganhar expressão no mundo troll e grotesco da Internet.

Os Death Grips, juntos, separados ou num terceiro estado que só eles conhecem, existem como uma instituição performativa que se esqueceu como terminar ou que está bem presente para nos lembrar que a Música também é uma Arte e merece estes estragos na sua rotina.

Em baixo segue o vídeo para “Inanimate Season”, tema que pertencerá a Jenny Death, segunda parte do álbum duplo The Powers That B:

Autor: Nuno Bernardo