Fusing Culture Experience @ Figueira da Foz, 16/8 (Dia 3)

Orlando Santos #04

Num dia em que o palco secundário foi estreado por um concurso entre 6 bandas de garagem pré-seleccionadas antes pelo público e por um júri, foi com Orlando Santos que os concertos propriamente ditos tiveram início. Num final de tarde bastante agradável, soube bem ouvir a sonoridade algures entre o reggae e o soul em temas como “Satta By The River” e “Way To Zion”. Uma boa prestação vocal, menos conseguida na backing vocal feminina, aliada a um saxofone interessante tocado por Mário Gramaço, deram aos poucos presentes motivos para dançar ao ritmo da boa onda característica deste género musical.

Fachada #03

O concerto de Fachada não começou da melhor maneira, com o sintetizador preguiçoso a recusar-se a tocar. Foi a deixa ideal para Bernardo Fachada entrar logo com humor, naquilo que foi uma mistura de concerto de música e comédia stand up. Sempre muito divertido e acarinhado pelos presentes, dos poucos músicos em todo o Fusing com direito a cartazes, foi com “Quem Quer Fumar Com B Fachada” que o público se viu mais fervoroso, cantando o tema a plenos pulmões. Entre músicas novas e antigas, simples e com letras cómicas, uma deles anunciada como “as outras são uma merda mas esta é boa”, não podia haver melhor maneira de espalhar sorrisos e abrir o palco principal no último dia do Fusing.

When the Angels Breath #33

Pouco passava das dez da noite quando os When The Angels Breath deram início à sua prestação. Após uma introdução etérea, pacífica, quase angélica, a banda cedo partiu para temas com mais intensidade. Este é um projeto a solo de David Francisco, baixista dos Uni Form, que se fez acompanhar ao vivo por membros de nomes como Opus Diabolicum, Murdering Tripping Blues e Azevedo Silva. Num post-rock algo fora do comum, quanto muito não seja pela presença de três guitarras e outros tantos violoncelos, este foi dos concertos mais interessantes musicalmente a passar por este palco, apesar de uma banda pouco comunicativa e de um público algo apático. Faltou empatia num concerto que merecia mais pela inegável qualidade dos temas, que incluíram um momento mais especial no tema dedicado à filha do David, “Madalena”. Um nome a reter que ficaria melhor num outro ambiente que não um festival.

Dead Combo #09

O resto da noite reservava alguns dos momentos mais especiais do Fusing 2014. Dead Combo foi talvez o concerto mais singular de todos. Fazendo-se acompanhar por um cenário rico em detalhes, a banda deu uma lição de profissionalismo e de como montar um espectáculo. Naquilo que pode ser chamado de western lusitano, a enchente de público fez jus ao brilho em palco dos três músicos, sendo impossível ficar indiferente à brutalidade coordenada de Alexandre Frazão na bateria, que acompanhou o duo de mestres Tó Trips e Pedro Gonçalves e ajudou a dar uma nova roupagem e dimensão ao vivo aos temas. Ouviu-se um pouco de toda a discografia, com “Pacheco” do primeiro album, “Mr. Eastwood” do segundo, “Lusitânia Playboys” do terceiro, “Cachupa Man” e “Lisboa Mulata” do quarto, mas sobretudo temas do novo álbum como “Miúdas e Motas”, “A Bunch Of Meninos” e “Mr. Snowden’s Dream”. Houve também tempo para uma cover do genial Tom Waits, “Temptation”. Um estilo inconfundível de uma das melhores bandas portuguesas da atualidade resultou num dos melhores concertos desta segunda edição do festival.

Sequin #31

E com os monstruosos Dead Combo no palco principal, foi Sequin a lesada. Apesar da qualidade da sua música e da beleza da sua voz, apenas três dezenas de pessoas estavam no início do seu concerto, que começou com o tema de abertura do álbum de estreia, “Meth Monster”, mais atmosférico e progressivo que os restantes temas. “Heart To Feed”, segundo do álbum e da setlist, deu mais ritmo ao concerto, que se desenrolou num crescendo de público e dança, acabando por ter uma excelente plateia a partir da quarta música, “Peony”, quando o concerto no palco principal terminou. Numa atmosfera intensa, misteriosa e sedutora, Ana Miró conquistou sobretudo com os temas mais dançantes “Naive” e “Beijing”. Uma artista completa que promete dar muito à música nacional.

The Legendary Tigerman #25

Um verdadeiro mar de gente à beira mar para um concerto de rock n’ roll cheio de estilo e personalidade. Poucos depois da meia noite, The Legendary Tigerman fez-se ouvir num vaivém de temas novos e antigos. “Gone”, “These Boots Are Made For Walking” e “21st Century Rock ‘N’ Roll” fizeram as delícia de um público louco, possuído pelos espíritos do rock e blues. E que melhor maneira de conquistar a Figueira do que pedir aos seguranças que removessem as barreiras de segurança da zona de fotógrafos? Mais próximos, a loucura fez-se sentir com mais vigor cá em baixo. Já no palco, tivemos dois membros do público a dançar em “Dance Craze” e a ajuda dos Dead Combo para tocar o clássico “Teenage Kicks” dos The Undertones. Este foi o apogeu do festival, com muita classe e um conselho final Paulo Furtado: “no final do concerto de Paus, vão para casa fazer amor.”

Paus #41

Actuar depois de The Legendary Tigerman e fechar o palco principal de um festival é algo que exige músicos à altura. Os Paus foram-no. E se, nas palavras deles, o “Homem Tigre” tinha sido Moisés ao abrir as águas grades, as primeiras palavras que se fizeram ouvir dos Paus foram “eu não começo a tocar enquanto as grades não estiveram abertas”, para delírio da multidão. Verdade é que tiveram que começar a tocar com elas fechadas, mas antes de terminar a primeira música elas foram abertas, e junto ao palco explodiu energia. Num espetáculo visual único protagonizado pelos dois bateristas Hélio Morais e Joaquim Albergaria, ouviram-se músicas dos dois discos da banda, entre os quais os famosos singles “Deixa-me Ser” e “Bandeira Branca”, mas também “Mudo e Surdo” e o primeiro tema composto pela banda, “Pelo Pulso”. Apanhando mentirosos ao perguntar quem tinha estado no Fusing há dois anos atrás, e ganhando pontos pela garantida forma de conquistar o público ao criticar o governo, apelar à liberdade e algum humor, o fecho do Palco Fusing foi uma explosão de luz e som única, deliciando quase todos (excepto aqueles que estavam mais interessados em vandalizar os bonecos de papel do artista Panda do Transe). Um final digno de um grande festival de celebração do melhor que a música nacional tem para oferecer.

 

 

Dia 14 (Primitive Reason, Capicua, You Can’t Win Charlie Brown, For Pete Sake, +)

Dia 15 (Capitão Fausto, Cícero, peixe : avião, Norton, +)